sábado, 15 de agosto de 2015

Crítica: A Escolha Perfeita 2

Continuação acerta o passo, mas continua a tropeçar pela herança do primeiro capítulo.

Por Pedro Strazza.

Percebe-se no humor empregado por Rebel Wilson para viver sua Fat Amy em A Escolha Perfeita 2 um resumo de algumas das principais diferenças que separam a sequência do original. Enquanto que no filme de 2012 a moça fazia da comédia auto-depreciativa sua principal bandeira para criar riso e conseguia com isso pouca coisa além de momentos embaraçosos (marcados pelo emblemático "Oi, meu nome é Amy, mas você pode me chamar de Fat Amy"), na continuação a personagem parece ter abandonado essa preocupação em avisar todos de seu orgulho com o corpo e concentra maiores esforços em tirar riso das situações, apesar de aqui e ali ainda cair na tentação.
Essa súbita mudança, mesmo que sutil, tem grandes efeitos na aplicação da fórmula que a agora franquia adotou como sua. Antes um guilty pleasure assumido que encantava o público por esta "honestidade", A Escolha Perfeita assume em seu segundo capítulo um tom menos escrachado, procurando dotar sua trama de redenção de um significado maior. Ao mesmo tempo, o longa dirigido por Elizabeth Banks e roteirizado por Kay Cannon repete a estrutura do primeiro com ajustes, em busca de um molde mais clássico de comédia ocasionado talvez pelo medo natural de qualquer continuação do gênero em se perder neste ato de recorrência.
É uma estratégia que funciona, ainda que com problemas. Pouco experiente no comando atrás das câmeras (este é seu longa-metragem de estreia na posição), Banks realiza sem maiores dificuldades o arroz e feijão do gênero se usando principalmente da trama romântica, construção de roteiro primária que é aplicada em duas das três protagonistas (Wilson e a novata interpretada por Hailee Steinfeld). Essa execução do básico também leva em conta a própria redenção, que ao contrário do original entrega no fim a catarse necessária - os Das Sound Machine liderados pelos personagens de Birgitte Hjort Sørensen e Flula Borg, afinal, são melhor trabalhados como antagonistas que os Treblemakers no primeiro.
O grande acerto de Banks, na verdade, acontece no tratamento dado ao humor e em seu direcionamento aos objetivos temáticos do filme. Além de corrigir o timing cômico de Fat Amy e de outros personagens - inclusive o da protagonista Anna Kendrick, cujos encontros com os inimigos alemães são terrenos de boas risadas - e criar uma linha sarrista com a própria seriedade das competições de acapella (a introdução é excelente nesse ponto), a diretora alinha esse desenvolvimento com sua lição de união feminina, de início promovendo um desequilíbrio de esquetes entre as integrantes das Barden Bellas para na virada do segundo ato ressaltar a importância do esforço sinergético do grupo, algo arriscado se considerar a consequente inconstância humorística do primeiro terço da obra.
O tom cômico da narrativa, porém, é algo que também prejudica A Escolha Perfeita 2, pois, embora este busque se distanciar do original, sua escolha pela repetição estrutural se faz prejudicial. Não só pelas figuras estereotipadas que marcam presença no grupo - ao contrário dos comentaristas interpretados por Banks e John Michael Higgins, que ainda são as melhor parte da franquia por sua clara e ridícula linha de pensamento preconceituosa, as piadas feitas pela mexicana interpretada por Chrissie Fit soam apenas xenófobas - como também pelos próprios papeis adquiridos pelas Bellas no arco de último trabalho, equivocado por fazer das personagens pessoas completamente despreocupadas do futuro.
Mesmo que continue a não aproveitar o potencial das competições musicais que apresenta (pessoalmente continuo crente de que os face offs musicais deveriam ganhar maior espaço) e exagere nos trocadilhos com acapella, A Escolha Perfeita 2 se sai melhor em relação ao antecessor ao encontrar no coletivo um personagem principal muito mais funcional que a Beca de Kendrick. Mas é ao abordar um caminho mais tradicional em sua estrutura que a produção acerta o ritmo, mantendo uma constância capaz de tornar seus erros vindos do original menos evidentes em prol de suas renovações.

Nota: 6/10

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