sábado, 22 de agosto de 2015

Crítica: Exorcistas do Vaticano

Filme não consegue se encaixar ao subgênero, mas traz ideias interessantes a ele.

Por Pedro Strazza.

No geral, filmes sobre exorcismo são capazes de apavorar o espectador por ser o subgênero do terror a chegar mais perto de retratar ao público o medo inerente do fim do sistema organizacional, que rege o cotidiano com mãos de ferro. Este viés pode ser encontrado, por exemplo, em O Exorcista, clássico do tema cuja estrutura já é seguida por outras produções há anos: A partir de um símbolo da inocência, o demônio vem para desorganizar a ordem humana, fazendo pouco de suas instituições e evidenciando as incoerências sistemáticas dessa - no caso da obra de William Friedkin, a razão que apela para a fé quando em apuros ou o padre descrente. E para corrigir todo esse caos só mesmo a figura sacerdotal máxima, que aparece no fim disposto a restaurar a humanidade a seu estado servil e salvar o sistema, mesmo que pelo sacrifício.
Em Exorcistas do Vaticano, este esqueleto é mais uma vez empregado, mas ganha um olhar diferente nas mãos do diretor Mark Neveldine. Anárquico por essência, o cineasta conhecido por sua parceria com Brian Taylor (com o qual fez Gamer, os dois Adrenalina e Motoqueiro Fantasma 2) questiona as noções fundamentais do subgênero e faz de sua primeira incursão solo na posição um verdadeiro atestado contra a ordem imposta. Não por acaso, as figuras de autoridade presentes no roteiro de Chris Morgan e Christopher Borrelli são representadas como ameaçadoras, com um olhar e postura sempre sugerindo a sua posição duvidosa no esquema a ser desenrolado.
Na trama, acompanhamos a trajetória de Angela (Olivia Taylor Dudley), uma moça de traços físicos e pessoais exageradamente puros - "Ela não seria capaz de fazer mal a uma mosca" admite o namorado interpretado por John Patrick Amedori - que é possuída por uma entidade maléfica, para desespero de seu amado e seu pai (Dougray Scott, em um papel quase oposto ao resto de sua carreira). Enviada a um hospital psiquiátrico, ela se torna cada vez mais poderosa e letal, e acaba por atrair a atenção do Vaticano, que temendo que ela esteja sob controle de uma força satânica antiga manda o cardeal Bruun (Peter Andersson) para exorcizá-la.
Já se percebe na descrição acima a inversão de valores que Neveldine dará à história de possessão, que põe a instituição como ameaça e o mal como figura de insubordinação. Pela câmera do diretor, autoridades como padres (Djimon Hounsou praticamente traz a aparência clássica do diabo com seu cavanhaque), policiais e médicos se tornam antagonistas por estarem menos dispostos em salvar Angela e mais em preservar o sistema, e vão às últimas consequências para tal. No hospital, por exemplo, nota-se no momento posterior à invasão da garota ao berçário uma posição quase de repulsa a ela por parte do corpo administrativo, que se apressa em taxá-la de perigosa à sociedade.
O demônio, por outro lado, surge com uma rebeldia típica dos adolescentes que o cinema habituou-se a fazer de mocinho, e por isso torna-se uma das peças mais interessantes do tabuleiro montado por Morgan e Borrelli e executado por Neveldine. Pois se esta mesma entidade é representada em outros exemplares do subgênero como uma força desmoralizante e de puro mal, em Exorcistas do Vaticano ele é empregado no extremo oposto, uma única esperança para derrubar a ordem antiga estabelecer uma nova e sem leis. Nesse ponto, o desfecho apresentado é o que o filme mais apresenta de assustador ao espectador, porque faz do caos uma realidade.
O problema é que, se essa materialização é o mais aterrador da obra, não sobra muito para assustar, e as tentativas do diretor em corrigir isso fracassam de forma vexaminosa. Mesmo na hora do exorcismo, que ocupa com naturalidade o terceiro ato e é quando o subgênero mais prova seu potencial de terror, Neveldine se mostra incapaz de conduzir a história ao horror, e isso esvazia a trama de uma força maior. E em alguns momentos os esforços empreendidos são risíveis, como bem exemplifica a cena dos ovos - e tentar não lembrar de Leslie Nielsen e Apertem os Cintos... O Piloto Sumiu! nesse momento prova-se ser uma tarefa bastante complicada.
Assim, Exorcistas do Vaticano tem um resultado peculiar. Embora tenha uma interessante linha de raciocínio embasada em princípios anárquicos e faça algo diferente em seu nicho, ele não cumpre com as metas exigidas pelo gênero, tornando sua experiência cinematográfica pouco funcional. O que Neveldine e sua equipe tem de visão teórica faz falta na execução, e isso se torna o maior golpe contra o longa.

Nota: 5/10

1 comentários :

A primeira novidade é o aspecto físico da produção, que combina a espiritualidade da possessão com a corporeidade dos filmes de infecção zumbi. Um filme sobre exorcismos, mas com um caso de possessão demoníaca que em última análise revela que não é o diabo, que todos nós conhecemos um ao outro para sempre, mas um corpo que poderia trazer o fim do mundo é Exorcismos no Vaticano. As “The Vatican Tapes” tenta revelar um dos segredos mais bem guardados da religião católica: recinto onde o filme registra os casos mais complexos de posse do mundo são salvas. Nada menos do que o próprio Vaticano.

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