segunda-feira, 1 de junho de 2015

Crítica: Trocando os Pés

Conto fantástico fracassa sobre indecisão entre comédia e drama.

Por Pedro Strazza.

Mesmo que tenha sido vendido desde o início como mais uma das comédias indies que Adam Sandler protagoniza ora ou outra, Trocando os Pés acaba por se assemelhar mais com um trabalho típico da Happy Madison Productions do ator. O humor raso e pouco eficaz de tais produções certamente está ausente no longa escrito e dirigido por Thomas McCarthy, mas de resto tudo soa a comédias como Um Faz de Conta que Acontece ou Click.
Na trama, Sandler vive Max, dono de uma pequena sapataria em Nova York que está insatisfeito com a vida que leva. Obrigado a assumir o negócio da família desde jovem por causa do desaparecimento do pai (ele é a quarta geração, lembra em conversas), o sapateiro diariamente precisa lidar com os calçados e desaforos de outros para cuidar de sua mãe doente (Lynn Cohen) e manter de pé o estabelecimento. Um dia, porém, Max descobre no porão uma máquina de costura que dá aos sapatos remendados por ela a capacidade de assumir a identidade do dono por quem calçá-los, e começa a usar em seu favor o poder mágico que tem em mãos.
A base de realismo fantástico tem potencial, mas não chega a ser alcançada de fato em nenhum ponto do filme. Isso porque Trocando os Pés várias vezes mostra indecisão entre qual caminho narrativo seguir, e por fim segue por nenhum: Enquanto o drama cotidiano encarado pelo protagonista e aqueles que o cercam ganha aprofundamentos em questões mais imediatas (o último desejo, a derrota dos malvados) e nunca chega a grandes questionamentos, o lado mais cômico se mostra contido como a atuação de Sandler, ganhando destaque somente nas transformações de caráter vivida pelas pessoas que Max se passa por - mérito talvez exclusivo da atuação de Method Man, único que tem a chance de mostrar os dois perfis na película.
Para piorar, há na produção a questão do moralismo, tema que persegue Sandler mesmo em seus trabalhos mais "autorais" e cujo peso interfere demais na fluidez da narrativa estabelecida por McCarthy. Embora seja um filme sobre aceitar o papel imposto pela sociedade, contribuir com a sociedade e viver da melhor maneira possível com as condições apresentadas, o longa se delonga demais no tema por meio dos coadjuvantes, insistindo em se repetir por personagens como Jimmy (Steve Buscemi) e Carmen (Melonie Diaz). Tal estratégia faz a história ser contada num ritmo arrastado, prejudicial ao conto fantástico ao qual se propõe a realizar.
E se não fosse o bastante toda a estrutura frágil elaborada, esta ainda se fragmenta no péssimo terceiro ato, que abandona a lógica desenvolvida para trazer personagens e situações inadequadas por completo à trama do filme. Assim, o real fantástico torna-se irreal para o espectador quando este é obrigado a assistir um arco de redenção mal elaborado e recheado de vigilantismo, feito à base de revelações e reviravoltas sem sentido como a real identidade de certos personagens, golpes muito mal explicados e até uma sociedade secreta presente desde o início dos tempos - mas não do filme.
Com alguns bons momentos aqui e ali para tentar compensar todos os erros cometidos, Trocando os Pés é um desperdício de uma boa ideia por infelizmente não saber o que fazer com esta. Sua execução, entretanto, não é péssima o suficiente para despertar o ódio do público, mas tão pouco é razoável para tornar sua experiência minimamente interessante, tornando sua passagem nula para quem quer que opte por vê-lo.

Nota: 4/10

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