Homens detestáveis, ganhadores de festivais curiosos e peixes fora d'água na praça.
Por Pedro Strazza.
- Cala a Boca Philip
Acompanhar personagens detestáveis em filmes não é uma tarefa fácil, mas pode trazer recompensas extremamente prazerosas, e este Cala a Boca Philip se faz como prova contundente desta afirmação. O novo longa do diretor Alex Ross Perry, ainda um cineasta a ser descoberto, trabalha com a figura detestável de Philip, um escritor que nas vésperas de publicação de seu segundo livro resolve realizar algumas mudanças em sua vida. Mas os efeitos dessas decisões, assim como a própria trajetória do protagonista na história, não são exploradas na maioria do tempo pelo seu ponto de vista e sim pelo das pessoas que o cercam, abrindo espaço para que Ross Perry trabalhe o egoísmo de nossas relações com maiores possibilidades.
Filme de Segunda Guerra Mundial brasileiro, A Estrada 47 é um filme que encanta por dois caminhos. No primeiro, temos a inevitável recriação histórica, que apresenta ao espectador a participação brasileira no conflito armado; no segundo, mérito do diretor Vicente Ferraz, é o questionamento da entrada do país em uma guerra que não lhe diz nome, ressaltando a própria incoerência dos pracinhas em um território tão distinto. Existe uma previsibilidade em meio a isso, mas nada que prejudique a força de uma produção tão bem cuidada.
- Últimas Conversas
Eduardo Coutinho foi um dos maiores documentaristas da História do cinema brasileiro, e estava trabalhando em um novo filme quando faleceu no início de 2014. A obra inacabada, lançada pouco mais de um ano depois de sua morte, é uma série de entrevistas feitas com jovens estudantes cariocas de classe C e D, que entre outras coisa contam a Coutinho suas duras histórias de vida, seus maiores medos e sonhos. É um choque duro de realidade que Últimas Conversas proporciona a seu espectador, e serve como mais um atestado da genialidade de um homem que partiu de maneira tão abrupta.
Vencedor do Leão de Ouro no Festival de Veneza de 2014, o novo filme do sueco Roy Andersson continua a desenvolver o peculiar método de humor de seu cineasta. Questões existencialistas se delineiam na sucessão de esquetes apresentados, que filmados de maneira quase teatral pelo diretor apresentam situações inusitadas e divertidas por essência. É um filme que nos faz pensar, mesmo que do jeito menos normal o possível.
Se Andersson reflete rindo, o turco Nuri Bilge Ceylan o faz de maneira mais tradicional. Com longas e arrastadas três horas de duração, o vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes em 2014 é uma análise de um personagem pouco amável, um depressivo dono de um hotel localizado na fria Anatólia. No inverno rigoroso, ele enfrenta algumas situações difíceis, que vão dos negócios ao próprio casamento infeliz. E nos longos diálogos travados para salvar sua situação atual, ele submete o espectador a uma dura noção de uma realidade complicada que a humanidade, seja nas regiões mais inóspitas do mundo, é obrigado a encarar.
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