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quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

O Cinema em 2014: As Bombas e Decepções

Os 15 filmes que só fizeram chorar

Por Pedro Strazza

Não é só de coisa boa que 2014 foi feito. Este ano, assim como em todos os outros, fomos em alguns momentos agraciados por cineastas e estúdios com obras imperfeitas e defeituosas, capazes de agregar em absolutamente nada com seu conteúdo pífio e de qualidade duvidosa, além de termos desperdiçado parte de nosso valioso tempo com produções que ficaram abaixo do esperado pelos nossos ardentes desejos. Fomos traídos em 2014 tanto pelo monstro da expectativa quanto pelos produtores, e isso doeu muito.
É pensando nisso que a segunda parte do especial de fim de ano do O Nerd Contra Ataca traz em união para você, caro leitor, tanto os dez piores filmes do ano quanto cinco de suas maiores decepções. O sentimento de tristeza não poderia ser maior, claro, mas é importante relembrar mesmo o lado ruim do cinema para que se possa aprender com seus erros, evitando assim que a história (e a nauseante sensação de desgosto) se repita no futuro cheio de esperanças à frente.
Como não há muito mistério na área B desta segunda parte - só elencar os filmes com piores notas no ano, duh -, vamos às regras das decepções: Além de lançado no Brasil em 2014, o longa precisa ter participado do preview que realizamos no começo do ano, ter sido avaliado em 7/10 ou menos por nossa equipe e não pode estar entre os 10 piores do ano (que vem logo a seguir).
Vamos às listas?

As grandes decepções

Não foi o bicho feio que todos nós imaginávamos ser (e a nota dada por aqui prova isso), mas ainda desapontou. E muito. Depois de um sofrível primeiro capítulo, o reboot mais rápido e desnecessário da história do cinema ganhou uma sequência de igual proporção, e mesmo esta tendo alguns pontos mais fortes - a química do casal protagonista, por exemplo -, é inegável a sensação de desgosto que veio ao acender das luzes. O Espetacular Homem-Aranha 2 provou acima de tudo que a Sony (principalmente o produtor Avi Arad) já não sabe o que fazer mais com uma de suas maiores franquias, e que chegou a hora de devolver o nosso querido Amigão da Vizinhança a seus donos originais.

  • Êxodo - Deuses e Reis

A vida não anda fácil para Ridley Scott já faz um bom tempo, porém nada - nem mesmo Prometheus - nos preparou para isso. Mesmo com a faca (a clássica história bíblica) e o queijo (o financiamento e o elenco) na mão, o cineasta outrora responsável por clássicos como Alien - O Oitavo Passageiro conseguiu fazer deste Êxodo um filme fraco, capaz de tornar aborrecido a vida de Moisés e sua atuação decisiva para libertar os hebreus do faraó Ramsés. A trajetória recente do diretor ganhou mais um ponto negativo, e agora temos pela frente uma sequência de Blade Runner. Ai...

Ok, a culpa aqui não foi somente do filme. Ainda que tenha diversos problemas, a interessante e ousada abordagem de Gareth Edwards com um dos montros mais conhecidos do cinema foi muito mais prejudicado por sua campanha de divulgação, que preferiu vender Godzilla como um novo Círculo de Fogo. O público foi ao cinema querendo ver porrada, mas recebeu uma análise diferente do gênero em troca. Uma péssima troca, diga-se de passagem.

É uma tarefa complicada essa de ser gênio em tudo, e vez ou outra se erra. Quem tropeçou feio em 2014 foi o endeusado Christopher Nolan, que depois de uma incrível sequência de excelentes filmes fez este Interestelar, uma ficção-científica boa com muitos problemas de roteiro e excessos de direção. Em Nolan nós ainda confiamos, mas depois de 2014 temos agora um pé no chão. 

Como superar o maior clássico de Paul Verhoeven? Como reinventar um dos grandes ícones cinematográficos dos anos 80? Foram duas tarefas de fato inalcançáveis que o brasileiro José Padilha aceitou tentar cumprir ao aceitar dirigir o remake de Robocop, e em alguns momentos do filme ele até conseguiu almejar tais feitos. O problema é que o trabalho era impossível, ainda mais com o estúdio em cima de seu cangote. Ainda assim, Robocop não fez feio, mesmo sendo uma obra a ser esquecida pelo tempo.

Os piores de 2014

10°) A Menina que Roubava Livros

De melodrama o cinema está cheio, é verdade, mas tem vezes que não dá pra conviver com ele, como é o caso deste A Menina Que Roubava Livros. Aborrecido do começo ao fim, a adaptação de um dos grandes best-sellers literários recentes peca pela falta de coragem em sua abordagem diferente de um tema batido na telona, e seu resultado é uma sequência sem fim de eventos que mais fazem chorar por sua falta de originalidade que pela própria tragédia apresentada em cena. Pra piorar, ainda inventaram de tentar seguir a tática Peter Jackson de múltiplos finais, e isso só resultou em risos involuntários.

9°) Ouija - O Jogo dos Espíritos

A Platinum Dunes e a Hasbro pelo jeito tomaram como missão acabar com a memória que temos de todos os clássicos brinquedos infantis através de toscas adaptações cinematográficas. A última vítima deste projeto maléfico foi o tabuleiro Ouija, que na mão do diretor estreante Stiles White ganhou vida e se transformou em um elo de ligação entre nosso mundo e o dos espíritos. E se na teoria essa ideia já cheira mal, na prática ela só piora. Previsível do começo ao fim, O Jogo dos Espíritos não aterroriza nem diverte, e resta aos seus 90 minutos apenas tédio, tédio e mais tédio...

8°) Malévola

Antes de mais nada, Angelina Jolie está sim de parabéns por sua performance como Malévola. Seu trabalho de transformação no mais icônico vilão das animações da Disney merece uma boa salva de palmas. Sua atuação, porém, está muito à frente do filme que protagoniza. As boas ideias de Malévola são desperdiçadas pelo roteiro fraco, que ainda sai prejudicado por sua falta de competência em conceber um universo minimamente original ou sequer belo para essa reinterpretação da história da Bela Adormecida.

7°) Transformers 4 - A Era da Extinção

Um é ok, dois já deu, três foi mais que demais... A cada novo capítulo, a franquia Transformers distancia-se cada vez mais da definição de "qualidade" ou de "bom filme", e em A Era da Extinção não é diferente. Michael Bay, que à princípio pensou em entregar a direção deste quarto longa para outra pessoa, faz neste reboot-só-que-não seu habitual e incompreensível show de pores do Sol, câmeras girando e, claro, explosões para filmar mais pancadaria entre robôs, agora com Mark Whalberg (o "cientista") gritando ao fundo para todo mundo correr... para bem longe do cinema.

6°) Drácula - A História Nunca Contada

A mais nova tentativa da Universal em trazer de volta sua franquia de monstros trouxe uma proposta interessante: Tentar conceber um universo onde todas as clássicas criaturas coexistam para no futuro reuni-los em um filme. A ideia "marvelesca" do estúdio, entretanto, naufraga de forma vergonhosa já em seu primeiro capítulo, que não só reformula Drácula como um herói de ação (ugh) como também entrega um dos piores filmes sobre o personagem. De bom só o misterioso monstro interpretado por Charles Dance, e ele aparece o que, umas duas vezes?

5°) November Man - Um Espião Nunca Morre

Não é qualquer um que pode ser Sean Connery na vida pós-James Bond, e Pierce Brosnan tem sofrido bastante com essa síndrome. Prova disso é esse seu retorno aos longas de espionagem, que erra não somente por querer ver seu protagonista longe de comparações com 007, mas por entregar uma história entediante e entupida de clichês. E ainda tem a Olga Kurylenko ali no canto, repetindo seu papel de Quantum of Solace numa cara de pau absurda. 

4°) As Tartarugas Ninja

O visual era bacana, as tartarugas pareciam estar sensacionais, Michael Bay não era o diretor... o que deu errado? Muita coisa, pra falar a verdade. Além de focar todas as atenções nas curvas da April O'Neil de Megan Fox e contar com cenas de ação mal feitas, o recomeço dos quelônios no cinema errou feio ao forçar conexões entre fatos e situações distantes entre si, ocasionando incoerências absurdas em seu roteiro estúpido. A pergunta agora é: Será que na continuação alguma coisa vai melhorar?

3°) 300 - A Ascensão do Império

Da série "sequências desnecessárias", a continuação do ótimo épico visual de 2007 é um desastre absoluto. Sem Zack Snyder e seus fetiches na direção, A Ascensão do Império vira uma colagem mal feita de cenas de zero plasticidade, coordenadas por um Noam Murro (no estômago...) que tenta desesperado encaixar o maior número de slow-motions possíveis sem cuidado para agradar à força os fãs do primeiro capítulo. A trama, por outro lado, não esconde de ninguém sua falta de sentido, e trabalha mal até mesmo a figura de Artemisia, o único ponto levemente positivo desta produção destinada de imediato ao esquecimento.

2°) À Procura

Há leves indícios de que a produção comandada por Atom Egoyan tentou reformular em À Procura o subgênero dos filmes de sequestro, mas elas logo desaparecem em meio ao festival de problemas apresentado. Ainda que possua um elenco esforçado (Ryan Reynolds, quem diria, tentou atuar bem) e uma trama interessante, o filme se desperdiça em generalizações e reviravoltas sem nexo, geradas por um roteiro sem foco ou atenção. Estamos procurando o motivo para esse longa ter sido feito, e por enquanto não o encontramos.
E o pior filme do ano é...

1°) Transcendence - A Revolução

Em um ano em que a relação entre tecnologia e relacionamentos foi bastante explorada em vários meios, é duro ver uma ideia tão promissora sobre o assunto ser jogada do precipício mais alto e sofrer uma morte tão horrível. Incapaz de funcionar como ficção-científica ou diversão superficial, Transcendence é um filme lento, bobo e muito problemático em todos os seus aspectos, técnicos ou criativos. O consagrado diretor de fotografia Wally Pfister fez uma péssima estréia no comando geral, e Johnny Depp acrescentou mais um longa à sua recente má fase.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Crítica: Operação Big Hero

Animação é previsível em suas escolhas, mas promove união eficaz de dois mundos

Por Pedro Strazza

Faz pouco mais de cinco anos que a Disney comprou a Marvel Comics e só agora o maior pesadelo dos críticos à venda da companhia na época se concretizou. A animação Operação Big Hero, afinal, marca a primeira parceria artística entre a empresa de Mickey Mouse e a Casa das Ideias, reformulando para as telas um esquecido supergrupo japonês das páginas da editora - o Big Hero 6 do título em inglês. E para o desespero daqueles analistas, o longa prova, mesmo que com algumas ressalvas, o quão acertado foi a decisão da Marvel em ser comprada pelo estúdio.

Isso porque o filme carrega em seu esqueleto uma mistura de sucesso do melhor dos dois mundos, e os equilibra com precisão. Estão lá a bem-humorada história "simples mas profunda", os personagens carismáticos e o design de produção estupendo típicos dos maiores trabalhos da empresa de Walt Disney, alinhados às características conhecidas (e popularizadas nos longa-metragens) dos quadrinhos onde se originaram o Homem de Ferro, Thor, Capitão América e etc, como o visual marcante (tanto nos indivíduos como no cenário) ou a ação dinâmica.

A trama gira em torno de Hiro, um garoto brilhante na área de tecnologia que aplica seus vastos conhecimentos nos proibidos ringues de lutas de robôs da cidade San Fransokyo. Essa rotina clandestina do jovem, porém, muda a partir do momento em que o irmão Tadashi o influencia a tentar entrar em uma universidade ao apresentá-lo ao centro de pesquisa de robótica que trabalha e a seus colegas, os estudantes Go Go, Wasabi, Honey Lemon e Fred. Mas quando Tadashi morre em um incêndio suspeito e um misterioso vilão planeja dominar a cidade com nano-robôs, Hiro, seus mais novos amigos e Baymax, o afetuoso robô do irmão, precisam se transformar em heróis para impedir o plano do vilão.

Ainda que o tenha citado apenas no final do parágrafo anterior, Baymax é aqui o personagem com maior destaque. Sua figura rechonchuda e desajeitada é usada pelos diretores Don Hall e Chris Williams para tanto dar o tom de humor à história - as melhores piadas surgem de sua ingenuidade com o mundo e excesso de afeto, como bem esclarece o momento em que está com pouca energia e precisa ser silencioso - como para evidenciar a relação profunda entre o protagonista e o falecido Tadashi. É daí que a produção mostra seu maior foco narrativo, tocando em temas como a da vida após a morte do próximo e o amor entre irmãos - e nesse momento é inevitável a comparação com Frozen - Uma Aventura Congelante, animação antecessora também interessada neste último assunto.

A profundidade no conteúdo do filme, entretanto, termina em uma superfície semelhante à de sua narrativa, que cumpre somente com o básico das histórias clássicas de super-heróis. Do começo ao fim, o longa segue uma trajetória de extrema previsibilidade, e não consegue surpreender mesmo no timing de suas reviravoltas. Além disso, os personagens secundários encontram-se totalmente submetidos aos intentos do protagonista e do roteiro escrito por Jordan Roberts, Daniel Gerson e Robert L. Baird, e seus perfis individuais, visando apenas a rápidos alívios cômicos, são estereotipados ao máximo - no grupo formado por Hiro, por exemplo, temos o nerd (Fred), a descolada (Go Go), o sensível (Wasabi) e a patricinha (Honey Lemon).

Mas mesmo com pouco aprofundamento criativo a produção consegue cativar, e isso que mais importa a ele. Com visual rico e equilibrado em cores e personagens de carisma capaz de ocultar seus claros defeitos criativos, Operação Big Hero funciona como diversão ingênua, e entretém por sua tendência ao simples. Mais um acerto na nova fase vivida pela Disney em suas animações, e um grande considerando a origem de seu material.

Nota: 7/10

domingo, 21 de dezembro de 2014

A Música em 2014: Os Melhores e Os Piores

Os álbuns que marcaram o ano - seja para bem ou para mal

Por Guilherme Umeda

Caríssimo leitor,

O ano de 2014 se aproxima de seu inevitável e já esperado fim. Sendo assim, para não deixa-lo passar seus últimos momentos sem uma devida homenagem, lhe fiz este breve especial.
A ideia: Separei 16 álbuns lançados em 2014 em duas listas: os “Acima da média 2014” e os “Abaixo da média 2014”. NÃO se trata de uma ultimate selection dos melhores e piores álbuns do ano (embora alguns dos que figuram nas listas abaixo também estariam em ultimate selections mundo afora).
Obviamente, alguns de vocês, queridos leitores, talvez sintam falta de um ou outro. Talvez até se revoltem. Entretanto, eu não ligo pra o que vocês acham. A lista é minha. Se não gostarem, desliguem o computador e vão ler um livro.
Sem mais delongas, vamos às listas.

(E antes que eu me esqueça, feliz Natal e próspero ano novo pra todos vocês desocupados que gastam seu tempo lendo meus textos.)

Acima da Média 2014

A espera foi grande, a atmosfera de expectativa foi maior ainda e, no final, o Foo Fighters não decepcionou. Sonic Highways é o tipo de álbum que ganha pelo conjunto. Não tem tantas faixas com cara de single de sucesso absoluto, mas, por ser um álbum extremamente conceitual, têm seu sucesso garantido pelo retrato da música americana que ele pinta. Retrato (brilhante) que só pode ser compreendido quando se ouve o álbum inteiro.
  • Royal Blood (Royal Blood)
Muito bom mesmo. O álbum de estreia do Royal Blood foi uma das melhores, senão a melhor surpresa de 2014. De fato, “surpreendente” é a melhor palavra para descrever o álbum. Surpreendente o quão pesado na medida certa e com alta qualidade é o som. E mais surpreendente ainda que tudo isso seja feito por apenas duas pessoas: um baixista e um baterista. Um dos melhores do ano.
  • Nheengatu (Titãs)
A clássica fúria criativa dos Titãs está de volta. Talvez a sina seja cair na mesma demanda que têm os fãs de ACDC: todo ano esperam que a banda lance um disco que soe exatamente da mesma forma que o anterior; o lançamento de Nheengatu,  porém, não deve ser comemorado apenas pelos fãs da banda, mas também por todos os fãs de rock brasileiro. Ainda que seja mais um disco “Titãs sendo Titãs”, se trata de uma sonoridade que estava perdida há algum tempo. Em dias que o rock volta à moda no Brasil, o som que a banda traz em Nheengatu fazia falta para servir, talvez, como modelo. Ainda bem que veio.
  • Turn Blue (The Black Keys)
Logo na primeira faixa (“Weight Of Love”), Turn Blue foge da curva; se mostra fora de série. Guitarras mais ousadas, unidas à sintetizadores de leve e metais ao fundo, dão o tom mais blues das 11 faixas do álbum. No entanto, algo irônico tende a acontecer: as duas mais interessantes músicas no disco não deverão ser lançadas como singles. Motivo? Muito longas. “Weight Of Love” tem quase 7 minutos e “In Time” tem quase 6. Uma pena, mas já que esta é uma relação de álbuns (não de singles), nos atenhamos ao fato principal: Turn Blue é genial.
  • Education, Education, Education and War (Kaiser Chiefs)
Quem virou fã da banda por causa de “Ruby” não vai se decepcionar com o novo álbum do Kaiser Chiefs, mas também vai notar algumas diferenças dos tempos mais antigos.
A pegada mais rock pop que dominava “Ruby” e alguns outros sons da banda no inicio ainda está presente, mas não tão forte. Agora, divide bastante de seu espaço com o indie rock. Vide, por exemplo, “Coming Home” ou “Bows and Arrows”.
Não é um álbum impecável, mas é, na falta de melhores palavras para florear, bom.
  • Lazaretto (Jack White)
Segundo álbum de estúdio do ex-White Stripes, Lazaretto veio para explicitar ainda mais a genialidade que parecia estar um tanto adormecida desde o fim da parceria com Meg White. Dessa vez, no entanto, o brilhantismo veio em uma embalagem nova. O som do compositor em Lazaretto é semelhante ao de seu primeiro álbum (embora muito melhor), mas bem diferente dos tempos de White Stripes.
Com uma sonoridade bem americana (alguém talvez diga “blues”, mas não sei se encaixa perfeitamente) e letras ousadas e até divertidas, Jack entrega um rock canastrão, agradável de se ouvir e que destoa da enorme maioria dos lançamentos do ano (no bom sentido).
  • Xscape (Michael Jackson)
Michael Jackson não era chamado de “Rei do Pop” à toa. Basta analisar Xscape e compará-lo aos outros lançamentos do mesmo segmento em 2014. A diferença é gritante. Michael apresenta músicas – como sempre – bem vendáveis, mas que, ao contrário da enorme maioria dos artistas do pop atual, tem alma. As letras são cantadas com uma interpretação vocal brilhante e a parte musical traz um R&B que não deixa as faixas caírem no formato cru, genérico e cansado que as Nicki Minaj e Jennifer Lopez da vida usam para encher seus álbuns ano após ano.
Michael, mesmo no além-túmulo, foi capaz de lançar um dos melhores álbuns do ano.
  • El Pintor (Interpol)
Foram quatro anos de hiato e a última dose para os fãs antes dessa pausa, com certeza, foi uma daquelas que desceu pelo buraco errado da garganta. O homônimo Interpol, lançado em 2010, era bem fraco. Porém, o retorno esse ano com El Pintor foi triunfal. Retornando à sonoridade de seus melhores dias, a banda entrega um álbum com sons que parecem uma fusão de Franz Ferdinand com Arctic Monkeys (talvez).

Abaixo da Média 2014

  • No Fixed Adress (Nickelback)
Não fede nem cheira. Não é possível dizer que é um disco ruim. Quem é fã de Nickelback não vai ficar com raiva: o som do álbum tem a cara da banda. Porém, ainda que nenhuma das faixas tenha cara de hit como “Photograph” ou mesmo “Rockstar” - clássicos da banda -, todas parecem terem sido compostas com a intenção de fazer surgir um sucesso parecido. No entanto, nenhuma das 11 faixas de No Fixed Address chega perto de empolgar tanto como os dois sucessos citados acima. Mais que isso: a “forçação de barra” para incluir um hit (que não veio) no álbum fez com que todas as faixas soassem um tanto artificiais… sem significado.
  • Ghost Stories (Coldplay)
A primeira tentativa de Chris Martin e seus bluecaps de se reaproximarem da fórmula que fez o Coldplay ascender ao sucesso (depois da interrogação que foi Mylo Xyloto (MX)) não foi muito bem sucedida. A impressão que prevalece depois que se ouve Ghost Stories (GS) é que ele é uma fusão entre Parachutes (primeiro álbum da banda) e o já citado MX. É a junção entre o som mais intimista, romântico da fase inicial com o formato pop bem no estilo parada da Billboard. O resultado não é lá essas coisas. Pode-se ver que todas as letras têm significado para Chris, mas os fãs do “Coldplay original” com certeza não vão colocar GS entre seus favoritos.
  • V (Maroon 5)
O que aconteceu com as boas ideias de Songs About Jane?? É triste ver como o Maroon 5 simplesmente largou mão dos arranjos e sonoridade interessantes que tinha em seu primeiro álbum (justamente SAJ) e se entregou totalmente ao pop industrial. Nos dois últimos lançamentos da banda foi assim: Overexposed é de dar náuseas em qualquer um que tenha se tornado fã ao ouvir “Sunday Morning” e, dessa vez, com V, não é muito diferente. Som genérico, feito em computador. Sem mais.
  • X (Ed Sheeran)
Ed Sheeran é ótimo em escrever músicas fofulechas. Isso é indiscutível. Mas, não é possível viver só disso (a não ser que você seja James Blunt). X é até atraente nas faixas mais explicitamente românticas (como “One”), mas, no geral, a monotonia dá o tom. Mais que isso: algumas das faixas são, genuinamente, irritantes (sim, “Sing” e “Don’t”, estou falando com vocês). De resto, X é a perfeita trilha sonora pro sono pós almoço de domingo.
Nota do Editor: James Blunt é bom sim, não acreditem no contrário (sim, eu defendo os inocentes quando preciso).
  • Endless River (Pink Floyd)
Sim, Pink Floyd está na minha lista de piores do ano (e bem lá embaixo, diga-se de passagem). Não é a toa que Endless River (ER), apesar de ter sido composto décadas atrás, não foi lançado até esse ano. O álbum é ruim. Chato. Irritante.
Não nego: curti a brisa das músicas instrumentais. Mas só até a quarta seguida. Depois disso comecei a ficar angustiado, esperando que algo diferente daquele incessante sintetizador de fundo viesse, mas não veio. Quando chegou na 10ª faixa instrumental seguida, fiquei nervoso. Então, descobri que mais sete viriam antes de alguma voz humana surgir. Fiquei mais irritado.
Então veio a 18ª faixa, a primeira com voz. Mas, para a frustração total do povo, ela não era nada demais. A ideia de incluir várias faixas instrumentais é até boa. Mas é impossível manter a brisa do ouvinte por mais de uma hora ininterrupta.
  • Ultraviolence (Lana Del Rey)
Deve-se reconhecer que Lana Del Rey, ainda apenas em seu segundo álbum, já tem sua marca. Sua voz e a forma como interpreta as letras em suas músicas são inconfundíveis. Até por isso, quando surgiu em 2012, foi abraçada por fãs e pela crítica: ela faz algo diferente da maioria e faz isso bem.
No entanto, em Ultraviolence, talvez ela tenha tentado demais colocar suas maiores qualidades em uso: voz e interpretação. Todas as faixas parecem uma lamentação infinita. O timbre melancólico na voz (belíssimo, mas dessa vez mal dosado), unido ao ritmo lento de praticamente todas as faixas, acabou resultando em um álbum chato de se ouvir. Irritante até. Uma pena.
  • Songs of Innocence (U2)
A estratégia escolhida por Bono e seus amigos para lançar Songs Of Innocence (baixar “de surpresa” em todos os dispositivos Apple) já anunciava como seria a história: o álbum seria bem mais marcado pelo lançamento incomum do que pela música em si.
“Forçar” os usuários da Apple a ouvir o disco acabou rendendo um péssimo merchan para a banda. Quanto ao álbum em si, as impressões também não são muito boas. SOI foi, em parte, uma tentativa fracassada do U2 de inovar seu som e lançar algo mais atual – vide “California (There Is No End To Love)”, terceira faixa do álbum. E, por outro lado, foi mais do mesmo – vide “Song For Someone” – e foi essa a parte do CD que deu menos errado.
  • With a Little Help From My Fwends (The Flaming Lips)
Se você estiver lendo este especial, por favor, ligue para a polícia nesse instante e peça a prisão de todos os membros do Flaming Lips. O que eles fizeram é imperdoável.
With a Little Help From My Fwends é um álbum todo de releituras de músicas dos Beatles. Com ele, os membros do Flaming foram extremamente bem sucedidos em ensinar o mundo a como ofender profundamente a memória de uma grande banda.
O álbum é um lixo. Me recuso a gastar mais linhas dessa belíssima matéria falando disso.
Horrível. Sem mais.

sábado, 20 de dezembro de 2014

O Cinema em 2014: As Boas Surpresas

Os 11 filmes que mandaram bem, apesar de tudo

Por Pedro Strazza

Pois é, senhoras e senhores, 2014 está acabando! Depois de 365 dias de muita loucura, felicidade, tristeza e, claro, filmes, o ano conhecido como "matador de famosos" termina na tradicional festança de ano-novo.
Mas antes de acabarmos com os restos da ceia de Natal, pormos nossas roupas brancas, acendermos os fogos de artifício e cair na gandaia, vamos voltar um pouco a fita e analisar o que aconteceu no local favorito de todo cinéfilo nesse último ciclo. Assim como em todos os outros anos, 2014 teve muito filme excelente, ótimo, bom, razoável, mediano, ruim, péssimo e "Gente, como isso foi feito?", e todos merecem uma recordação nesse último mês - sim, mesmo até os pertencentes às três últimas categorias mencionadas.
Para isso, O Nerd Contra Ataca realiza um pequeno apanhado do que aconteceu no último ano em termos de cinema, dividindo-os em três partes. Nesta primeira, relembramos as boas surpresas de 2014, os longa-metragens que, mesmo não estando entre os 14 melhores e tendo alguns problemas, merecem algum tipo de reconhecimento pelo que entregaram ao público em sua exibição. Aqui, não importa se a obra foi avaliada em nove ou seis, mas sim aquele "algo mais" tão difícil de se conceber em palavras.
As regras são simples. Para entrar nessa lista, o filme não pode ter sido mencionado no preview do começo do ano, não pode estar entre os 14 melhores de 2014, precisa ter sido avaliado em pelo menos 6/10 pela equipe do O Nerd Contra Ataca e, claro, tem que ter estreado neste ano no circuito comercial brasileiro.
Vamos a eles?

2014 foi um ano para se testar tabus, e prova disso foi a quebra do ditado "toda comédia excelente tem uma sequência horrorosa". Isso porque as continuações de O Âncora, Anjos da Lei e Débi e Lóide conseguiram, cada uma à sua maneira, honrar a qualidade do original, apelando diretamente para um acertado humor desenfreado mas não apelativo (na maioria das vezes). Houveram problemas particulares a todos os casos, mas dá pra dizer que essa trinca cômica não passou batida. Por sinal, quem foi o maluco que disse que voltar com o passado era problema?

Com algumas (merecidas) indicações na área de som neste último Oscar, o novo trabalho do diretor Peter Berg foi pouco incisivo em sua abordagem analítica sobre a guerra e seus efeitos, mas funcionou quando para recriar o conflito em si. A imersão ao qual o espectador é submetido aos tiroteios em O Grande Herói é bastante diferente do habitual, filmando os danos infligidos aos soldados envolvidos e como isso os afeta no combate. Eficiente no lado prático, apesar dos erros no resto.

Provocante, estranho e curioso são alguns dos adjetivos usados pela imprensa e o público para descrever o filme de Jonathan Glazer sobre uma alienígena que "devora" homens. Protagonizado pela competente e bela Scarlett Johansson (com certeza uma das pessoas que mais cresceu em 2014), Sob a Pele talvez seria muito melhor se demorasse mais sobre seus temas, mas seu roteiro cheio de nuances e mistérios é suficiente para guiar o público em sua jornada aterrorizante pela humanidade e seus defeitos. 

Quem também conversou sobre a personalidade falha do ser humano foi este O Lobo Atrás da Porta. Estréia de Fernando Coimbra em longa-metragens, o brasileiro traz envolto no personagem brilhantemente interpretado por Leandra Leal uma visão bastante pessimista sobre a sociedade e o indivíduo, ressaltando no caminho toda a maleficência que vive em nossos interiores. É um filme poderoso e ao mesmo tempo desolador, dotado de uma análise elaborada de sua complexa protagonista. 

  • No Limite do Amanhã

Sim, o roteiro careceu (e muito!) de um maior cuidado em seu terceiro e derradeiro ato, mas ainda assim esta ficção-científica protagonizada pelo maratonista cinematográfico Tom Cruise é ótima! O recurso temporal repetido à exaustão é eficiente tanto para divertir o público quanto para desenvolver o protagonista e o trauma da guerra, tema central à produção. É um Feitiço do Tempo com ação e alienígenas que de forma inacreditável dá certo, e isso já basta.

Em seu oitavo longa-metragem, o cineasta Wes Anderson está mais Wes Anderson do que nunca. Perfeccionista em todos os aspectos visuais (até no formato da tela!), O Grande Hotel Budapeste traz um elenco primoroso em uma história divertida e de personagens apaixonantes, elaborados com o humor típico de seu diretor. Faltou um pouco de maior cuidado no roteiro? Claro, mas nada muito prejudicial ao resultado final desta obra deliciosa.

Trazendo atuações maduras de Guy Pearce e Robert Pattinson, o western pós-apocalíptico do diretor David Michôd lembra em diversas passagens o Mad Max do conterrâneo George Miller, mas mais sóbrio e centrado no drama da perda. A trama simples desempenha bem o papel de guiar espectador pelos perfis duros e alquebrados dos protagonistas, que tem seus passados descobertos pouco a pouco na narrativa.

Com problemas visíveis em aspectos básicos como direção e roteiro, o novo filme de John Carney impressiona por conseguir encantar o público por outras características - e também por revelar a voz delicada e bela de Keira Knightley. Em meio a recursos narrativos utilizados em formatos nada usuais e gostosas canções compostas pela produção, Mesmo Se Nada Der Certo acerta por sua singularidade meiga ao tratar do mundo dos relacionamentos e suas diversas fases, principalmente as mais duras e trabalhosas de se lidar com.


Até onde o ser humano pode ir quando violento? Em Relatos Selvagens, Damián Szifrón traz uma antologia de histórias que levam ao limite o estresse do dia a dia, gerando contos sobre a natureza vingativa da sociedade. O trunfo do diretor argentino, porém, é de transformar isso tudo numa comédia de humor negro das mais engraçadas, cuja força provém justamente de tirar o riso do absurdo retratado.

domingo, 14 de dezembro de 2014

Editorial: Os 5 anos do O Nerd Contra-Ataca

O que pode acontecer em 5 anos? Tá aí uma pergunta fora do habitual. Na loucura que é o cotidiano de nossas vidas, é estranho parar tudo o que você está fazendo e refletir sobre algo tão bobo como a passagem de um período de tempo nem curto nem grande. Afinal, nossos planos habitualmente se resumem a tarefas habituais e rotineiras (fazer as compras no supermercado, ir almoçar, encontrar os amigos...), e no máximo pensamos em projetos que se concretizarão em até um ano ou dois, como realizar uma viagem ou ir em um evento especial. Claro, os sonhadores existem por aí, mas eles nunca tem uma meta definida nos mínimos detalhes possíveis.
Quando criei O Nerd Contra Ataca, por exemplo, meus planos com ele eram mínimos, pouco ambiciosos e, pra falar a verdade, bem ridículos: arranjar um local para escrever sobre tudo aquilo que via, lia ou jogava no meu dia-a-dia, relatando minhas opiniões sobre filmes, séries, games, quadrinhos e música(!) com base nenhuma sobre todos os assuntos - e, se tudo desse certo, ganhar uma graninha com isso. O sonho era bastante possível (ou pelo menos era isso que achava no auge dos meus 14 anos), o tempo disponível existia, e, claro, o ego era enorme para achar que conseguiria falar decentemente sobre tudo - eu tinha 14 anos, pô!
Assim um blog começou, em um longínquo mas ainda próximo 14 de dezembro de 2009, com muita euforia e alegria de um jovem que achava que ia mudar o mundo escrevendo para um site próprio (sim, isso acontece com todo mundo que topa entrar nessa loucura) e um post inicial dos mais babacas e presunçosos do planeta - algo natural para uma criança que, como o Jon Snow de Game of Thrones ou o inocente dito pelo Cumpádi Washington (é assim que se escreve, né?), não sabe de nada. E dessa maneira as coisas foram indo, um post de cada vez, e numa dedicação não tão fora do normal mas existente o blog foi crescendo. Textos foram escritos e editados, ideias foram executadas e obtiveram resultados diversos, reformulações foram aplicadas, layouts foram testados, o nome ganhou uma correção ortográfica tardia mas merecida...
...e o tempo passou, desapercebido. E agora O Nerd Contra-Ataca completa nada menos que cinco anos no dia 14 dezembro de 2014 (ok, certeza que o catorze é uma espécie de número cabalístico do site).
Um número, convenhamos, relativamente grande, e que reflete um pouco do trabalho que foi realizado por aqui. Em exatos 1826 dias (lembrem que há um ano bissexto na conta), publiquei por aqui 629 textos, incluindo críticas, colaborações de amigos (aos quais agradeço imensamente pelo tempo gasto), rankings, dicas, "desrecomendações" (Não achei um termo melhor, desculpa), tentativas de fazer notícias e outras coisas das quais não me lembrarei. Tudo isso compartilhado num blog que já tem perfil próprio em redes sociais como o Facebook e o Twitter (siga a gente lá, por sinal!). E o mais incrível não foi o tempo que gastei fazendo o blog funcionar como deveria, mas sim como todos os textos falam sobre um único e gigantesco assunto: a cultura pop e nerd.
Esse caminho, claro, não foi de todo tranquilo. Erros, falhas e quase desistências (bastante tentadoras por sinal) ocorreram ao longo dos anos, e eles ainda acontecem e irão ocorrer por toda a existência deste pequeno site. Eles são inevitáveis, mas pelo menos posso afirmar que agora eles serão combatidos com uma dedicação muito maior. O Nerd Contra-Ataca tem cinco anos, afinal das contas, e está na hora de promover algumas mudanças para seu melhor desempenho - mas isso eu comentarei melhor daqui um tempo.
Com tudo isso dito, gostaria de afirmar nesta data tão feliz e importante do site que é um grande prazer escrever nesse lugar tão pequeno e aconchegante para pessoas que conheço e não conheço. Transportar em palavras minhas opiniões sobre a cultura pop e nerd nunca foi e nunca será um empecilho, e cada pessoa que leu qualquer texto meu ou de outro publicado por aqui já é uma recompensa valiosa.
Por isso agradeço a você, leitor, pelo tempo que tomou para ler esta e outras publicações do O Nerd Contra-Ataca. Seja você antigo ou novo (ou até aquele que chegou agora e tá olhando com cara de interrogação pra esse editorial) no site, jovem ou idoso, homem ou mulher, saiba que é um prazer informar você sobre o que acontece nesse mundo irado que engloba o cinema, a televisão, o videogame, os quadrinhos e até a música.
E sobre a pergunta que fiz lá em cima, eu com certeza responderia "Muita coisa. Mesmo".

Abrações,

Pedro Strazza

sábado, 13 de dezembro de 2014

Crítica: Homens, Mulheres e Filhos

Novo trabalho de Jason Reitman encanta pelos personagens, e não pelo tema

Por Pedro Strazza

De uma forma (bem) geral, a reflexão no cinema acontece em três fases. Na primeira, a obra apresenta ao público uma história a ser seguida, com personagens e um mundo estabelecidos logo em seu início. Na segunda, o longa começa a mostrar eventos que de algum jeito alterem o status quo das pessoas ou do universo (pequeno ou grande) onde vivem, fazendo assim com que sua rotina mude drasticamente. Por fim, o filme gera durante ou ao final da jornada traçada pelos indivíduos envolvidos um desenvolvimento sobre um tema (abstrato ou concreto, político ou emocional...) presente na sociedade, e esta elaboração transforma em caráter decisivo o(s) personagem(s).
Se a produção segue à risca essa linha de raciocínio e trabalha bem esses três momentos, as chances de seu sucesso aumentam de maneira considerável. E se o comando do longa estiver a cargo de um bom cineasta, o procedimento é simples e de fácil execução.
Considerando tudo isso, é duro ver que Homens, Mulheres e Filhos, o novo trabalho do ótimo diretor Jason Reitman, se perca justamente no terceiro momento de sua reflexão acerca da relação entre a humanidade e a tecnologia. O filme, afinal, elabora muito bem seus personagens e os desdobra em situações que englobem o assunto proposto de forma natural, mas não consegue levar tudo isso a uma ponderação mais interessante e profunda.
Baseado no livro escrito por Chad Kultgen, o roteiro escrito por Reitman e Erin Cressida Wilson acompanha a história de cinco jovens e suas respectivas famílias, cada um representando algum tipo de vício na internet e suas redes sociais. Estão lá os viciados em pornografia online (Travis Tope), os que querem fama a qualquer custo (Olivia Crocicchia), os desejosos de escapar da realidade dura e cruel (Ansel Elgort), o casal atrás de emoções fora do casamento (Adam Sandler, Rosemarie DeWitt), a mãe ultra protetora de seu filho quanto a todo perigo oferecido pelo mundo lá fora (Jennifer Garner)... são personagens de dramas bastante reais, e o diretor filma seus desejos e aflições buscando aproximá-los do espectador.
E isso ele faz muito bem. Como já havia mostrado nos excelentes Juno e Amor Sem Escalas, Reitman é excelente para desenvolver os indivíduos que acompanha em seus filmes, dotando-os de uma sensibilidade característica e apaixonante. Não à toa, a maior força de Homens, Mulheres e Filhos reside nesse ponto: Todos as pessoas apresentadas são interessantes ao público, que por sua vez os acompanha de maneira voluntária e sem precisar de maiores informações.
Mas toda a boa composição inicial dos personagens parece ter sido feita para nada na hora de abordar o tema da produção. Mesmo suficientemente cativantes, seus caminhos trilhados não evocam uma reflexão maior sobre seus vícios tecnológicos, e quando eles o fazem (de forma pontual), soam tão rasos quanto as redes sociais que se utilizam. Só observar, como exemplo, a adolescente obcecada com a fama interpretado por Crocicchia, cuja preocupação com o sucesso virtual não consegue ser explorado pelo diretor em cena para discutir os efeitos da popularidade sem motivo e do excesso de confiança no ser humano - algo que só é arranhado com muita leveza (e aqui aviso que há pequenos SPOILERS do longa) quando ela tenta transar com o viciado em pornografia e não consegue (e repare como Reitman enquadra, somente por um segundo, sua reação ao ver o garoto tentando se estimular sem sua ajuda).
Não deixa de ser interessante o fato de que Homens, Mulheres e Filhos possua uma profundidade similar aos sites de relacionamento que aborda. Ao invés de se enveredar por um tema tão difícil e complexo, o filme busca apenas a diversão proporcionada pelas histórias que conta, e isso seria o bastante para uma produção sem muitas ambições. O problema aqui, porém, é que há ambições na direção de Jason Reitman. Elas só não se concretizam.

Nota: 6/10

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Crítica: O Hobbit - A Batalha dos Cinco Exércitos

Capítulo final evidencia tanto erros quanto acertos de toda a trilogia

Por Pedro Strazza

Há um tempo (mais exatamente no final dos anos 90), o cineasta George Lucas e sua Lucasfilm anunciaram que Star Wars enfim ganharia mais uma trilogia, passada antes dos eventos dos três primeiros filmes. A notícia atingiu o mundo de maneira brutal, e a grande legião de fãs foi assistir A Ameaça Fantasma com uma empolgação absurda, almejando ver na telona uma história de proporções similares aos longas dos anos 70/80. O resultado chocou: Além de trazer no primeiro capítulo uma trama simples, Lucas deixou claro no filme a preferência pelo arroubo visual que permearia a nova trilogia, investindo muito mais em cenários exuberantes e batalhas de impacto que em um roteiro de personagens e situações complexas.
De certa forma, a escolha tomada por Lucas lá atrás não é tão diferente da feita por Peter Jackson neste começo dos anos 2010 com O Hobbit. Responsável por adaptar com excelência a trilogia de livros O Senhor dos Anéis para a grande tela, Jackson resolveu dividir a história de 300 páginas em três filmes de mais de duas horas cada, visando na teoria acrescentar à aventura de Bilbo vários contos de J.R.R. Tolkien e conseguir maior arrecadação nas bilheterias para custear a sua mais nova e ambiciosa produção. Na prática, o que se viu em cena nos dois primeiros filmes foi uma dedicação homérica de tentar encantar mais pela ação que pelos eventos, um desbalanceamento claro do equilíbrio entre trama e espetáculo da primeira trilogia - algo irritante, óbvio, para fãs da franquia.
Mas se em Uma Jornada Inesperada e A Desolação de Smaug viu-se certo acanhamento do diretor nessa questão, em A Batalha dos Cinco Exércitos é evidente que ele enfim resolveu fazer da história apenas um espetáculo. Como bem indica no título, o terceiro capítulo de O Hobbit gira primordialmente em torno de um conflito gigantesco, gerado pela derrocada do dragão Smaug (Benedict Cumberbatch) e a questão de quem assumirá o comando da Montanha Solitária. Anões, humanos, elfos, orcs... todas as raças da Terra-Média estão envolvidas na disputa, e uma guerra de grandes dimensões se instaura no local.
E com tanto tempo disponível (são duas horas e vinte cinco minutos de duração), o que se vê na produção é justamente isso: um épico. Aliado à fotografia de Andrew Lesnie, bastante balanceada entre o deslumbramento dourado de Uma Jornada Inesperada e o clima sombrio de A Desolação de Smaug, e os efeitos visuais da sempre eficaz Weta Digital, Jackson enquadra a batalha e seus combatentes com precisão, e se utiliza de todo o seu aprendizado nos outros cinco filmes - o estilo de luta característico de cada facção, os planos aéreos, a ação em duas frentes - para gerar uma verdadeira exibição de cenas de grande porte. Não à toa, o que se vê no terceiro O Hobbit é uma sucessão de ações super-humanas semelhante à continuidade de um show, em que cada evento parece merecedor de aplausos.
O desenvolvimento da ação visual, porém, não esconde de A Batalha dos Cinco Exércitos os seus problemas graves na trama. O roteiro elaborado por Fran Walsh, Philippa Boyens, Guillermo Del Toro e Jackson parece não se incomodar mais em deixar mal explicado várias passagens e acontecimentos, e até deixa em aberto vários desfechos de personagens, como os de Tauriel (Evangeline Lilly) ou de Saruman (Christopher Lee), denotando clara dependência do longa na trilogia do Senhor dos Anéis - algo que novamente remete aos trabalhos de Lucas, cuja nova trilogia só funciona com os três Star Wars originais vistos. É evidente o erro de esticar o conto em três capítulos cinematográficos, pois mais do que nunca falta conteúdo em um filme baseado em uma obra de Tolkien.
Outro ponto grave na narrativa são os personagens, que além de aparecerem e desaparecerem ao bel-prazer da história - e alguns são incluídos sem qualquer necessidade, como é o caso de Alfrid (Ryan Gage) - são elaborados sem nenhum fundamento. Só observar, por exemplo, a trajetória final de Thorin (Richard Armitage), que varia seu humor sem qualquer motivo por causa da "doença do dragão" (outro ponto muito mal explicado e usado sem pretexto algum) e chega a absurdos como ir da alegria à raiva em um take. E sem essa substância, as boas atuações do vasto e primoroso elenco são bastante prejudicadas.
Com certa ironia, é curioso pensar que O Hobbit - A Batalha dos Cinco Exércitos reflete em seu conteúdo toda a trilogia elaborada por Peter Jackson nesses últimos três anos. É um trabalho visualmente arrebatador, com efeitos deslumbrantes e ação bastante eficiente, mas ao mesmo tempo possui um interior vazio, gerado por personagens mal desenvolvidos por um roteiro apoiado exclusivamente no emocional de uma trilogia, essa sim, brilhante. Para Jackson, assim como Lucas, vale muito mais no prelúdio um espetáculo impressionante que um filme bem trabalhado. Uma pena? Sim, claro.
Mas que é um baita de um espetáculo...

Nota: 9/10

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Crítica: As Aventuras de Paddington

Primeira incursão de personagem no cinema carece de coragem narrativa

Por Pedro Strazza

Na extensa galeria de protagonistas emblemáticos da literatura infanto-juvenil britânica, o urso Paddington tem certo destaque. Criado no final dos anos 50 pelo escritor Michael Bond, o imigrante peruano atrapalhado que vive com a família Brown é a estrela de uma série de livros que até hoje tem novos volumes publicados e público interessado. A fama é tão boa que o personagem ganhou nos cinemas um filme em live-action, contando com um elenco invejável e efeitos visuais para recriá-lo na telona.
Por ser a primeira incursão do urso no formato, As Aventuras de Paddington tem por objetivo principal introduzir o protagonista, sua história e as pessoas com que relaciona para os espectadores, e faz isso sem muitos problemas. Na trama, após uma sequência trágica de acontecimentos, Paddington (Ben Wishaw) se vê obrigado a se mudar sozinho da floresta onde vivia com o tio (Michael Gambon) e a tia (Imelda Staunton) para a Inglaterra. Em um país estranho e totalmente diferente de sua rotina, ele busca encontrar um lar com um explorador que há muitos anos visitou seus parentes, e para isso conta com a ajuda da família Brown.
Como longa infantil, o filme encanta pela diversão simples que proporciona. Das peripécias de Paddington - que muitas vezes remetem às loucuras visuais de As Aventuras de Tintin - aos exageros das atuações do elenco muito bem montado, a aventura escrita por Paul King (também diretor aqui) e Hamish McColl possui em seu âmago um humor leve e descompromissado, típico das produções do gênero, mas muito bem aplicado graças à simpatia do protagonista. E isso não se restringe apenas ao núcleo principal, como bem pode-se ver nas gags periféricas recorrentes ou no vizinho mal-humorado vivido por Peter Capaldi.
O clima de comédia "rasa mas gostosa", porém, não oculta do filme a sua falta de coragem para explorar de forma simples assuntos ousados. O drama do imigrante vivido por Paddington, por exemplo, é usado pelo roteiro apenas para unir o urso com os Brown e dar o pontapé à história, mas com poucos movimentos na narrativa poderia ser um dos grandes temas a guiar os rumos do protagonista. E se no enredo é ausente essa maior audácia, na direção King é bastante procedural e óbvio, experimentando planos holandeses sem nenhum sucesso em um ou dois momentos.
Afim apenas de apostar no garantido para apresentar um clássico personagem da literatura, As Aventuras de Paddington de certa maneira é um acerto por conseguir realizar na tela seus objetivos iniciais. A falta do algo a mais em suas intenções, entretanto, o impede de deixar a categoria de produção para passar o tempo e ser algo mais marcante e de valor para seu público, tanto para crianças quanto para adultos.

Nota: 7/10