sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

Crítica: Brooklin

Saoirse Ronan conduz com os olhos filme de época doce e ciente da própria ingenuidade.

Por Pedro Strazza.

Pelo menos como roteirista, a carreira de Nick Hornby parece fadada a abordar continuamente a temática de relações sob ótica doméstica. O escritor, famoso por livros como Alta Fidelidade, busca no cinema tirar do ato de independência familiar a base para suas histórias, que protagonizadas por jovens mulheres tende a repetir o arco de amadurecimento sob disfarce. No caso de Brooklin, sua terceira incursão no ofício, esta fachada é o drama do imigrante.

Adaptação do livro homônimo de Colm Tóibin, o filme segue Eilis (Saoirse Ronan), jovem irlandesa que no início dos anos 50 sai do pequeno vilarejo onde vive com a mãe e a irmã para desbravar sozinha o novo continente. Alocada na pensão de uma simpática senhora (Julie Walters) na região operária do Brooklin, Nova York, a moça de início sofre com a mudança e a solidão, mas aos poucos começa a se acostumar à nova rotina e criar laços com a cidade.

A princípio, essa dinâmica do roteiro de Hornby sugere estar seguindo os passos da desenvolvida no Era Uma Vez em Nova York de James Gray, em uma versão mais light onde tudo é favorável à protagonista e o "novo mundo" não é tão terrível quanto dá a entender. Conforme os cenários deixam de possuir qualquer importância na narrativa e a fotografia de Yves Bélanger demonstra maior fascínio em decifrar o que se passa nos belos olhos verdes de Ronan, porém, o longa dirigido por John Crowley abandona maiores pretensões para se dedicar ao lado mais sentimental e elementar da história que é o romance nutrido entre Eilis e o garoto italiano Tony (Emory Cohen).

Soa como uma decisão bastante idiota, mas no fundo é esta desambição que dá a Brooklin seus melhores momentos. Ao reconhecer a falta de recurso do texto para abordar um tema mais difícil e adotar o lado mais ingênuo deste como ator principal da trama, o filme ganha espaço para trabalhar o crescimento de sua personagem sem aspiração ao grandioso, descolando-a da realidade proposta e tornando sua história universal e de fácil acesso.

Cabe então a Crowley a tarefa de desarmar o espectador e fazê-lo consciente desta proposta, e a sua principal arma para tal é Saoirse Ronan. A atriz, que já provou em outros trabalhos ser ótima na performance facial (principalmente sob a tutela de Joe Wright, com quem realizou Desejo e Reparação e Hanna), sabe interiorizar os sentimentos vividos por Eilis e ao mesmo tempo exprimi-los de maneira controlada, em uma atuação que envolve o espectador nos altos e baixos da personagem.

É nos olhos, entretanto, que a atuação de Ronan ganha força, pois com a ajuda de Bélanger (disposto a destacá-los quando possível) a atriz parece por eles absorver os fatos que protagoniza ou testemunha com delicadeza impressionante, e sem grande alarde torna isso numa rima narrativa delicada. Mesmo que envolta na entrada na vida adulta, Eilis vê o mundo novo - ou o velho, mais tarde - com o encanto de uma garotinha, e o longa sabe passar isso sem parecer piegas.

O grande erro de Brooklin, na verdade, é tentar retomar o estado original das coisas a partir do terceiro ato, forçando um dilema de verdadeiro lar na protagonista por meio de um triângulo amoroso que nunca se concretiza na figura do personagem de Domhnall Gleeson. A inclusão de um conflito artificial, culpa do material original e (muito provavelmente) da inabilidade de Hornby em conseguir realizar isso com uma mínima naturalidade, não priva o longa desses momentos, tão deliciosos na ingenuidade compreendida e bem executada.

Nota: 6/10

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