Seth Rogen e Zac Efron protagonizam conto sobre a dificuldade de crescer
Por Pedro Strazza
Já não é novidade o fato de que as comédias protagonizadas por Seth Rogen e seus amigos dividam tanto a opinião do público. Dotado de um humor mais grotesco, os filmes desta vertente do humor estadunidense atual apostam na cultura da "broderagem" e da maconha para causar o riso nos mais diferentes contextos e não possuindo qualquer tipo de medo para levar seus esquetes ao último grau do absurdo.
Vizinhos, produzido e protagonizado por Rogen, não foge a esse perfil. Tendo como foco principal a briga entre um casal de novos pais e uma fraternidade - iniciada, ironicamente por questões de quebra da amizade -, o longa explora as mais diversas situações típicas dos dois lados para construir suas piadas, envolvendo aí assuntos como a amamentação e o sexo no primeiro caso e a falta de dinheiro e a urgência por festas no segundo. O humor da produção surge, obviamente, no momento em que se decide por exagerar as problemáticas e tornar seus personagens vítimas delas, além de gerar a quebra ocasional de alguns clichês do gênero e fazer graça com inúmeras obras da cultura estadunidense.
O interessante desta comédia, entretanto, é a capacidade de conseguir criar, no ápice de sua loucura, uma conexão entre as situações vividas pelos dois lados para elaborar uma análise humana da dificuldade em aceitar o envelhecimento: Enquanto o casal vivido por Rogen e Rose Byrne recusa a conformação de ter chegado ao próximo estágio da idade adulta com o nascimento de sua filha, o líder da fraternidade Teddy Sanders (Zac Efron, excelente na desconstrução de seu próprio estereótipo de garoto popular) procura evitar a todo custo a ideia de que sua época de faculdade está para acabar. A simples briga entre vizinhos torna-se, então, uma guerra pelo direito de continuar jovem, sendo que as duas lideranças, em suas respectivas síndromes de Peter Pan, mal sabem que já estão derrotadas desde o princípio.
Mas enquanto o roteiro é preciso em conectar seus protagonistas no nível psicológico, ele falha no momento de ligar os personagens entre si e com a trama. O casal divorciado e amigo do principal (Ike Barinholtz e Carla Gallo), por exemplo, surge desnecessário em vários momentos, enquanto o bebê, presumidamente tido como vital para os personagens de Seth e Rose, é abandonado pelos pais com pouca explicação e uma facilidade tão grande quanto a velocidade com que as brigas se resolvem. Estas quebras tiram do longa uma maior organicidade na fluidez da história, e impedem que alguns dos esquetes sejam mais engraçados.
Fora estes defeitos visíveis e escabrosos de narrativa, Vizinhos é um filme que sabe muito bem equilibrar, na medida do possível, a risada com a reflexão acerca do medo do futuro e da mudança. O humor, claro, ainda impera sem obstáculos aqui, mas pelo menos funciona com um propósito maior que o de entreter apenas.
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