domingo, 1 de junho de 2014

Crítica: Malévola

Angelina Jolie carrega sozinha reinvenção de vilã clássica da Disney

Por Pedro Strazza


O cinema já provou diversas vezes em sua História que a opinião do público sobre um vilão pode sim ser mudada. Antagonistas como Darth Vader e Severus Snape, por exemplo, foram com o tempo sendo aprofundados por suas franquias, e em suas respectivas trajetórias foi encontrada alguma razão para justificar seus atos vis.

Este processo, extremamente dependente do talento dos roteiristas, entrou na pauta da Disney quando esta iniciou sua fase de desconstrução dos contos de fada que a tanto ajudaram a construir seu sucesso no passado. E a personagem a ser submetida a esta mudança não poderia ser outra senão a maior representante de seu famoso grupo de vilões: Malévola, a bruxa responsável por colocar a princesa Aurora em um sono profundo e eterno.

Mudar uma figura tão bem estabelecida como esta, porém, não seria uma tarefa fácil. Como realizar a transição de Malévola para o live-action sem desrespeitar a concepção clássica da animação? Pior, como alterar o perfil tão maniqueísta da história e aprofundar-se nas características de uma personagem tão superficial?

No primeiro problema a produção pelo menos teve a sorte de contar com Angelina Jolie. Envolvida com o projeto desde seus primeiros passos, a atriz tomou para si a tarefa e fez questão de pessoalmente compor, da maquiagem à própria interpretação, cada um dos aspectos de seu papel junto da equipe. Dessa forma, Jolie consegue encarnar a vilã com todo o conforto possível, tornando sua Malévola palatável e nova ao público através de uma atuação muito bem trabalhada e situada nos moldes buscados pelo filme, ao mesmo tempo em que respeita as composições físicas originais da personagem - algo facilmente exemplicado na postura com a qual a atriz anda ou no angulamento de seu rosto.

Se na protagonista o filme é atento, no resto, porém, falta cuidado e acabamento. O roteiro escrito por Linda Woolverton é a princípio bem intencionado em tentar tornar Malévola - de início a fada mais poderosa e gentil do reino dos Moors (uma descrição que faz absolutamente nenhum sentido com seu nome) - uma personagem movida pela vingança e pela traição do amor, mas erra abruptamente quando procura criar na relação superficialmente desenvolvida entre a vilã e a princesa Aurora (Elle Fanning) um novo significado para o conto em um curtíssimo espaço de tempo - culpa em parte da minúscula duração de 97 minutos do filme.

Os personagens coadjuvantes também são problemáticos na condução da trama. Além de Aurora, cuja participação se limita a sorrisos e gestos gentis, o rei Stefan (Sharlto Copley) e o servo Diaval (Sam Riley) são porcamente estabelecidos e restritos a papéis clichê na narrativa. Uma pena, visto que estes três elementos poderiam ser vitais para a elaboração de uma Malévola ainda mais complexa que a mostrada.
Outro ponto problemático de Malévola é a sua elaboração visual. Quase todas as criaturas habitantes dos Moors concebidas pela produção parecem terem sido retiradas de outros longas de sucesso como Avatar ou Senhor dos Anéis, e tiram desse mundo fantástico qualquer encantamento. As fadas Thistletwit (Juno Temple), Knotgrass (Imelda Staunton) e Flittle (Lesley Manville), além de minimizadas ao papel de alívio cômico pelo roteiro (e dos mais forçados, por sinal), tem em seu visual reduzido uma artificialidade bizarra, parecendo em muito com uma versão pirata e digital dos mini craques vendidos em época de Copa do Mundo.

Sem nenhuma astúcia para aproveitar momentos-chave da trama (como no momento em que a maldição se completa) e de roteiro extremamente defeituoso tanto em aspectos de continuidade quanto em de construção da protagonista, Malévola é um filme que se apóia demais na atuação de Jolie para obter qualquer conexão com o público - e consegue, apesar de não apresentar mais nada além disso. No esforço de acertar a composição da vilã (agora heroína), em Malévola sobram boas intenções, mas falta uma história mais interessante e bem construída.

Nota: 3/10

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