sábado, 21 de junho de 2014

Crítica: Como Treinar o Seu Dragão 2

Continuação acerta em evoluir valores e conceitos do original

Por Pedro Strazza

Quando o primeiro Como Treinar o Seu Dragão chegou aos cinemas em 2010, o panorama da Dreamworks Animation na época não era tão positivo. Com Shrek, sua principal e mais rentável franquia, em ponto crítico de esgotamento, o estúdio precisava arranjar uma nova série de filmes que fosse tão agradável ao público quanto para a crítica, e suas opções à disposição até ali (Madagascar, Monstros vs. Alienígenas, Kung Fu Panda) não aparentavam ter fôlego suficiente para suceder tão bem a saga do ogro verde. A aposta veio, então, na forma do conto do jovem viking Soluço e seu dragão Banguela, personagens principais de uma coleção de aventuras escritas por Cressida Cowell em 12 livros - e que se provou rapidamente como um acerto.
Agora, pouco mais de quatro anos depois do primeiro capítulo, o estúdio lança a esperada continuação deste projeto, Como Treinar o Seu Dragão 2, que dá sequência e expande os conceitos propostos no longa de 2010, além de evoluir seus personagens na mesma medida que seu público-alvo o fez. Aqui, o protagonista e seus amigos não são mais um grupo de pré-adolescentes de problemas com a família, mas sim jovens de quase vinte anos que sentem a necessidade urgente de sair de casa e explorar o mundo.
E o drama central de Soluço, obviamente, não escapa a esta temática. Se antes o filho do líder Stoico tinha problemas com o pai por causa da cegueira deste em ver que as criaturas místicas eram diferentes do que ele e seu povo imaginava, o protagonista se depara aqui com o dilema de assumir a responsabilidade e suceder seu ascendente ao trono ao invés de sair de casa e descobrir o mundo e novos dragões, principal atividade sua agora. Esta dura decisão, sozinha um excelente tema a ser abordado, é belissimamente polarizada pela produção com a reaparição da mãe de Soluço, Valka, como uma mestre exploradora das criaturas aladas e a reposição de Stoico como a figura representante da tradição, tornando o "embate" psicológico do personagem principal em algo palpável e profundo.
Como Treinar o Seu Dragão 2, porém, não se mantém apenas no lado intimista do protagonista, e desenvolve em sua linha narrativa uma trama mais épica, focada aqui nos esforços de Drago (o primeiro vilão maniqueísta da franquia) em dominar o mundo à partir de um exército de dragões subordinados à sua pessoa. A elaboração desta parte da história cria maiores e melhores sequências de ação ao filme em relação ao seu predecessor - Afinal, há uma expansão brutal da mitologia e do número de criaturas -, mas perde força por não contar com o protagonista, afastado pelas questões acima expostas, em grande parte de seus eventos. E mesmo que os personagens coadjuvantes - tão bem desenvolvidos quanto seu líder por conterem em seu perfil defeitos e características únicas (dentre estas a homossexualidade de um deles, apresentada de passagem em uma cena) capazes de humanizá-los - carreguem satisfatoriamente estes momentos, o longa não deixa de dar a impressão que tudo ali poderia ter sido resolvido muito mais rapidamente com a presença de Soluço.
Este pequeno defeito da narrativa, porém, em nada tira do filme sua qualidade. Além de continuar com esmero a trama de seu protagonista, Como Treinar o Seu Dragão 2 acerta em, ao mesmo tempo em que expande seu universo, manter a coragem que o primeiro capítulo trouxe, sem medo de sacrificar peças vitais da vida de Soluço para desenvolvê-lo e, de quebra, trazer ao espectador um maior medo com os tantos personagens amáveis criados e estabelecidos. Ousadia esta que, por si só, já tornaria a franquia em algo a mais.

Nota: 8/10

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