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terça-feira, 17 de março de 2015

Crítica: Mortdecai - A Arte da Trapaça

Mais uma bomba para a carreira de Johnny Depp.

Por Pedro Strazza.

O mercado de atores e atrizes de Hollywood é em parte um ciclo de altos e baixos. Quase sempre começando pelo anonimato, o artista começa a ganhar maior reconhecimento do público a cada produção de sucesso que se destaca, mas se se envolve em um trabalho de fracasso sua reputação cai com velocidade. Sair do desconhecimento público, entretanto, é um caminho sem volta, pois a partir daí cada erro cometido na carreira passa a ser julgado pelo espectador.
Um exemplo claro desse "tribunal público cinematográfico" é a trajetória recente de Johnny Depp. Desde sua brilhante parceria com Michael Mann em Inimigos Públicos, o eterno parceiro de Tim Burton naufragou em credibilidade e nos últimos cinco anos se tornou uma caricatura de seu Jack Sparrow, procurando emplacar em todas as produções que participa os trejeitos e maneirismos do protagonista da franquia Piratas do Caribe. Esta necessidade inexplicável do ator foi um tiro no pé em sua carreira, e as tentativas pífias de Depp o deixam cada vez mais distante da badalada reputação de outrora.
Mortdecai - A Arte da Trapaça, um dos mais recentes projetos protagonizados pelo artista, não escapa dessa sua queda vertiginosa; ela a acelera ainda mais. Adaptação da antologia homônima escrita por Kyril Bonfiglioli, o filme dirigido por David Koepp soa como um grito desesperado em busca de risadas, afim de entreter com uma história fraca e repleta de piadas grosseiras vergonhosamente executadas.
O motivo, porém, não passa desapercebido. São notáveis as tentativas de Koepp e do roteirista Eric Aronson em querer fazer da comédia protagonizada pelo bigodudo Mortdecai uma colorida sátira às tramas de investigação no mundo da arte que alguns filmes noir das décadas de 40 e 50 centravam suas atenções. Mas ao contrário de produções como as da franquia da Pantera Cor-de-Rosa, o longa se equivoca em querer fazer de seu protagonista uma figura comercializável e base para uma franquia de potencial lucro ao invés de simples ponto central na temática de seu escárnio.
E se é para tentar tornar um personagem marcante, quem seria a melhor escolha para o papel senão Depp? Com poucos segundos em cena o ator mostra mais uma vez sua predileção por repetir traços de Jack Sparrow, agora feitos para compor seu Mortdecai: Estão lá o jeito bêbado de agir, a maneira como pronuncia as palavras, o comportamento desastrado e outras tantas características do personagem predileto do ator, realizado sem medo algum de parecer similar a seus outros papéis recentes.
Com um elenco invejável e desperdiçado (chega a doer as participações de Ewan McGregor, Gwyneth Paltrow e Paul Bettany) e um ritmo cômico desengonçado ao extremo, Mortdecai - A Arte da Trapaça poderia ter sido filmado facilmente em outra época e condições pela Happy Madison de Adam Sandler, produtora famosa pelas comédias escrachadas e esquecíveis. Mas saber que o projeto acabou nas mãos de um ator três vezes indicado ao Oscar e que ele mesmo assim obteve o mesmo resultado só ressalta o quão para baixo foi a carreira de Johnny Depp nesses últimos tempos.

Nota: 1/10

domingo, 15 de março de 2015

Crítica: Para Sempre Alice

Atuação de Julianne Moore é único atrativo em filme sobre Alzheimer.

Por Pedro Strazza.

Adoecer de maneira terminal é um processo natural, mas muito dolorido da vida humana, principalmente quando este demora bastante tempo para agir. Não apenas por acabar com a passagem de alguém no mundo, a morte arrastada é a pior de todas por também afetar todo o núcleo de familiares e amizades que circunda a vítima, levando ao limite da dor qualquer um dos envolvidos. Não há quem escape ileso, seja qual for o culpado.
No caso de Alice Howland (Julianne Moore), o responsável por colocá-la nesse caminho desolador é o Mal de Alzheimer, doença neuro-degenerativa que a cada dia deixa a pessoa em um estado maior de demência. Jovem e acadêmica, ela tem os sintomas do quadro acelerados, e em questão de poucos meses o que era apenas dificuldade de lembrar algumas palavras torna-se um apagão geral, capaz de deixá-la fora da realidade por longos períodos de tempo.
Baseado no livro escrito por Lisa Genova, Para Sempre Alice dedica-se inteiramente a mostrar esse arco de decadência que ocorre com sua protagonista. Da esperta fotografia de desfoques e vazios de cenários ao uso dos coadjuvantes, o longa roteirizado e dirigido por Wash Westmoreland e o falecido Richard Glatzer não esconde sua intenção de apenas mostrar a evolução da doença e seus efeitos cruéis, e em muitas passagens lembra mais um panfleto médico que um filme em si.
A razão disso não poderia ser mais simples: A atenção é tanta em cima da personagem principal e seu quadro clínico que esquece-se de desenvolver o mundo em torno dela. Na narrativa desenvolvida pelos dois diretores, são poucas as ocasiões onde se dá espaço para outros assuntos senão o Alzheimer de Alice, e isso prejudica bastante a própria maneira como a obra lida a enfermidade. Um exemplo claro dessa problemática é a família de Howland, minimizada a tipos simples e ausente de dramas mais complexos que possam aprofundar os danos infligidos pela doença - algo fatal para o trabalho dos bons atores Alec Baldwin e Kristen Stewart.
O que alivia esse excesso de foco - e até torna o lado panfletário da produção suportável, de certa maneira - é a atuação de Julianne Moore. Sutil, a atriz de início encarna a protagonista com confiança e astúcia para progressivamente levá-la ao definhamento, tornando-a menos adulta e mais assustada e ingênua. O grande trunfo de Moore, entretanto, é o jeito desapercebido com que realiza essa transformação, e o atestado maior dessa genialidade ocorre quando o filme confronta as duas Alices da história em uma única cena.
Ademais, o longa é convencional e óbvio. Com uma delicada defesa à eutanásia e um ou dois momentos interessantes (todos, óbvio, gerados pelo trabalho de Moore), Para Sempre Alice gira exageradamente em torno de um quadro clínico fatal e terrível, compondo uma trama sem surpresas ou maiores reflexões. É um alerta médico, vazio como uma reportagem sobre o assunto que busca apenas a conscientização de seu público em um final de domingo.

Nota: 5/10

sábado, 14 de março de 2015

Crítica: Golpe Duplo

Novo trabalho de Glenn Ficarra e John Requa sofre sem confiança do espectador.

Por Pedro Strazza.

É interessante analisar a trajetória do farsante na História do cinema. Figura clássica, esse tipo de personagem nunca sofreu grandes alterações em sua essência, mantendo (e no máximo retocando com sutileza) as características básicas presentes nos mais diferentes gêneros e épocas. Seja em Golpe de Mestre, Onze Homens e Um Segredo ou até em As Loucuras de Dick e Jane, o mentiroso mantém a irreverência e o charme, pronto para aplicar o seu golpe na primeira oportunidade oferecida - esta planejada aos mínimos detalhes muito antes do processo começar.

Em Golpe Duplo, esses aspectos primordiais do ladrão são novamente repetidos pelos diretores e roteiristas Glenn Ficarra e John Requa para brincar com os clichês das engenhosas artimanhas e amores improváveis do nicho. A história protagonizada por Nicky (Will Smith) e Jess (Margot Robbie), afinal, não esconde do público sua predisposição em seguir toda a cartilha de reviravoltas presentes nessa categoria de filme, mas também mostra estar confortável em apenas entreter sem reflexões maiores.

A posição tomada pela obra tanto funciona quanto prejudica sua estrutura. Se em alguns momentos o longa oferece ótimos momentos de descompromisso e rasicidade, como na relação desenvolvida entre os dois personagens principais - mistura-se aprendizado com paixão sem nenhuma parcimônia, mas ninguém na produção ali parece preocupado em trabalhar isso direito -, em outros ele parece se embananar ao ter que contar sua própria trama de golpe.

Isso ocorre porque a própria narrativa de Golpe Duplo é incoerente com seu gênero. Já com a negativa de centrar suas atenções em protagonistas extremamente unidimensionais - e que nada oferecem para Smith e Robbie trabalharem suas atuações -, o filme busca sem motivo algum realizar dois grandes estratagemas em dois momentos distintos de seu enredo despretensioso. O resultado é óbvio: com a confiança traída na primeira artimanha (ocorrida na metade da duração do longa), o espectador não consegue ter sua atenção levada para aonde Ficarra e Requa querem que ela vá, e fica curioso apenas em quando (e não como) a virada de roteiro irá acontecer na (demasiada extensa e repleta de coadjuvantes dispensáveis) segunda parte.

Isso não significa, porém, que a obra errou por completo dentro de seu gênero. Mesmo enquadrada como problema maior na construção da história e com explicações nada plausíveis, a primeira artimanha é muito bem elaborada ao criar no público a sensação de irritação com os clichês oferecidos em seu início (o problema de Nicky com o jogo, o azar contínuo que geralmente surge nesse momento da trama, etc), feitos para desviar a atenção do observador e logo depois surpreendê-lo com o que de fato está acontecendo naquela situação.

Ainda com uma fotografia acertada quando lhe é permitida a originalidade (as duas inversões de perspectiva geradas por Xavier Grobet são deliciosas de se presenciar), Golpe Duplo é um filme que fracassa ao estabelecer a simplicidade e depois buscar a ambição. Junto do casal protagonista, Ficarra e Requa fazem no começo uma história sem maiores anseios, mas esquecem disso lá para o meio dela e complicam tudo para atingir nada.

Nota: 5/10

terça-feira, 10 de março de 2015

HEY, Eu Quero Uma Segunda Opinião!: Kingsman - Serviço Secreto

Matthew Vaughn acerta na sátira dos espiões.

Por Alexandre Dias.

Kingsman: Serviço Secreto não é um filme inédito. Já vimos organizações que operam no escuro com os Homens de Preto, espiões elegantes na gigantesca franquia de 007, ação frenética com Jason Bourne e sapatos que não são apenas calçados na série de televisão do Agente 86. Nem por isso a nova produção do diretor Matthew Vaughn deixa de ser uma novidade, pois quando estes elementos são combinados de maneira competente, temos um resultado positivíssimo.
Há duas tramas que correm em paralelo: o treinamento de Eggsy (Taron Egerton) para se tornar um agente Kingsman- a propósito, construído por meio de cenas bem empolgantes- e o combate contra o vilão Valentine (Samuel L. Jackson, ótimo). Ambas formam uma história louca de espionagem, que funciona tanto na seriedade quanto na sátira.
No primeiro caso, podemos identificar em Galahad (Colin Firth, esbanjando elegância) que cometeu um erro no passado, na própria jornada pessoal (envolvendo também o drama familiar) do personagem de Egerton e, como não podiam faltar, nas reviravoltas. Já a satirização acontece, principalmente, pela ação violenta (pessoas partidas ao meio e dentes voando em câmera lenta são alguns exemplos) e pela comédia (boas piadas, mas também pelo cômico politicamente incorreto).
O roteiro recheado de clichês não compromete. Pelo contrário, ele é até necessário, porque se permite que a loucura encaixe na fórmula dos espiões. É possível exemplificar isso por meio do peculiar antagonista que quer dominar o mundo e de sua assistente Gazelle (Sofia Boutella), esta com lâminas no lugar das canelas para baixo. Ou mesmo pelos equipamentos sofisticados da agência, que são óbvios, mas longe de serem desinteressantes.
Kingsman é nostálgico, pois existe há tempos, porém conseguiu-se criar uma identidade própria nesta junção de fatores já presentes no cinema. Portanto, não há dúvidas de que os alfaiates espiões serão lembrados no mundo dos agentes secretos, afinal, não é sempre que vemos Colin Firth chutando alguns traseiros.

Nota: 9/10

segunda-feira, 9 de março de 2015

Crítica: 118 Dias

Qualidade do texto não omite defeitos de direção na primeira incursão de Jon Stewart em longas-metragens.

Por Pedro Strazza.

Em um mundo cada vez mais conectado, é cada vez mais difícil de viver isolado. O advento da internet e das redes sociais, capazes de tornar acessível o contato entre as regiões mais distantes do globo, obrigou o ser humano a se submeter a um processo de dependência "virtual" da convivência, mesmo que esta na maioria das vezes ocorra sem qualquer tipo de contato físico. De certa maneira, é como um vício esta interação social mundial, e ela se acentua a cada dia passado.
Mas o que acontece quando essa conexão é perdida? Como sobreviver a esta abstinência? São duas questões complexas que o (agora quase ex) apresentador do The Daily Show Jon Stewart aborda em 118 Dias, sua primeira aventura no cinema. Através da história de Maziar Bahari, jornalista iraniano-canadense que foi preso e torturado por 118 dias pelo governo do Irã sob suspeitas de espionagem, Stewart procura entender essa relação de submissão através do jornalismo, o ramo de maior vinculação a ela desde sempre.
Para isso, o diretor e roteirista do projeto realiza um contraste interessante entre os dois extremos: Ele primeiro apresenta Bahari (Gael García Bernal) como um homem extremamente conectado com o mundo, íntimo desde pequeno com a cultura mundial (guiada, clara, pelos Estados Unidos, como prova a coleção de coisas presentes na casa de sua mãe); já no cárcere, Maziar tem tudo tirado dele para ser confrontado com a solidão total e de fácil manipulação. A oposição entre os dois ambientes é exagerada, mas real o suficiente para que o público consiga entender o raciocínio do cineasta com a questão apresentada.
A estrutura narrativa elaborada por Stewart, porém, não esconde do filme os problemas que o circundam. A começar pelo próprio protagonista, que tratado com distância fria pelo diretor para talvez reforçar o sentimento de isolamento social acaba sem momentos para criar conexões com o espectador. García Bernal até tenta esboçar alguma simpatia pelo personagem com sua competência artística, mas seu papel unidimensional fraqueja quaisquer esforços feitos.
Outro problema sério são os próprios 118 dias do título. Mais interessado na filosofia de seu questionamento, o filme equivoca-se em negar aspectos básicos da situação de cárcere a seu protagonista como o arco de loucura (não demora dois dias e Bahari deriva com o pai morto e precisa da luz do Sol para se sentir melhor com a privação do mundo). Tudo soa absurdo e sem qualquer desenvolvimento mínimo, e a produção se enrola com facilidade nesses problemas.
Importante pela reflexão que faz sobre um tema cada vez mais importante na atualidade, 118 Dias sofre com aspectos criativos e mesmo técnicos (chega a ser embaraçoso a família do protagonista ser introduzida pelas "paredes do passado funesto") para chegar à sua totalidade. Mas se Jon Stewart erra a mão pela falta de experiência real com o formato, ele pelo menos tem a esperança de um futuro promissor graças à sua visão autoral da dura realidade que vivemos.

Nota: 6/10

domingo, 8 de março de 2015

Crítica: Kingsman - Serviço Secreto

Final explosivo e hilário coroa reverência ao espião idealizado.

Por Pedro Strazza.

Assim como todo o grande gênero da ação, a espionagem passou no cinema por mudanças visíveis de estrutura e abordagem no século XXI. Antes dominada por uma visão fantasiosa e cheia de luxos (cujo maior representante é sem dúvida os James Bonds de Sean Connery e, principalmente, Roger Moore), a profissão deixou os excessos no mundo pós-11 de setembro e virou assunto sério nas telonas, aproximando-se da realidade dura, difícil e política. Mesmo 007, esse símbolo máximo do absurdo, abandonou as festas e os martínis para confrontar o seu próprio eu na fase mais recente.
O passado, porém, tende a deixar o ser humano saudoso dos "velhos tempos", e Matthew Vaughn tem esse sentimento com o espião "que me amava". É de nostalgia, afinal, que é feito Kingsman - Serviço Secreto, o quinto trabalho do cineasta na direção, e Vaughn não perde tempo para tanto homenagear como satirizar o agente secreto charmoso, mas obsoleto da era passada.
Adaptação da graphic novel homônima escrita por Mark Millar e desenhada por Dave Gibbons, o longa acompanha Eggsy (Taron Egerton), um jovem rebelde e pobre de Londres que certo dia acaba livre da prisão graças à ajuda de Harry Hart (Colin Firth), um cidadão cavalheiresco que lhe oferece a oportunidade de entrar no Kingsman, uma sociedade secreta disposta a proteger o mundo (não me diga!). A partir daí, Eggsy não só precisa passar por uma verdadeira transformação social digna de My Fair Lady ou Uma Linda Mulher para se tornar um superespião como também tem o dever de evitar que os planos maléficos do bilionário Valentine (Samuel L. Jackson) e de sua parceira Gazelle (Sofia Boutella) se concretizem.
A trama óbvia e clichê descrita acima já evidencia tanto a maior qualidade quanto o maior defeito da obra adaptada para as telonas por Jane Goldman e o próprio Vaughn. Se por um lado o diretor é eficaz em reproduzir os lugares-comum do roteiro de uma maneira divertida para evitar que o resultado final seja maçante para o espectador, o filme sofre em seus dois primeiros atos com a falta de riso daquilo que mostra, demonstrando preocupação excessiva em homenagear o passado do gênero. O universo habitado por Eggsy e o agente Hart parece querer ter o mesmo grau de realidade e dramaticidade dos dias de hoje, mas também o tom cômico da espionagem de Moore - e o único que se salva dessa contradição é o vilão Valentine, tratado desde o princípio com todo a comicidade e absurdo da figura do personagem por L. Jackson.
Essa problemática, entretanto, desaparece no terceiro ato, quando o filme se solta da obrigatoriedade da reverência e abraça efusivamente o ridículo. Do clímax explosivo na base secreta do antagonista ao seu desfecho, Kingsman aceita rir dos clichês que tanto enalteceu e faz isso sem dó alguma, abusando da paleta de cores berrantes e trocadilhos exagerados (Rei Artur, Sherlock Holmes, Jack Bauer, ninguém escapa) presentes em toda a narrativa. E isso inclui todos os preconceitos e suposições da época, como bem esclarece a piada anal que encerra o longa ou a sequência espacial feita sem muito acabamento.
Mas se há problemas nesse antagonismo entre comédia e veneração, na elaboração técnica Vaughn prova de novo seu talento. Sua direção é elegante e prática, capaz tanto de criar cenas de ação muito bem montadas e executadas (o angulamento feito pelos óculos do espião é caricatural na medida certa) quanto a de tornar Colin Firth, um ator conhecido pelos papéis dramáticos e serenos, em uma figura de ação sem que o público estranhe esta transformação drástica.
Divertido e caricato, Kingsman - Serviço Secreto é mais uma reverência óbvia que uma risada descarada de escárnio na maneira como o cinema retratava a espionagem no passado. Sua capacidade de virar de cabeça pra baixo essa afirmação no encerramento, porém, não só mostra o seu potencial como comédia exagerada, mas também traz um contraste interessante com todo o panorama atual de um gênero cada vez mais realista e menos despreocupado.

Nota: 7/10

Gostou? Assista Também:
  • Top Secret! - Superconfidencial/Austin Powers - O Agente Nada Misterioso: Escárnio e homenagem ao espião do século XX na mesma medida.
  • O Homem Mais Procurado: O espião dos dias de hoje.

terça-feira, 3 de março de 2015

Review: House of Cards - 3° Temporada

Tom caricatural funciona tanto para bem quanto para mal no primeiro mandato de Frank Underwood.

Por Pedro Strazza.

É com uma mijada no túmulo de um de seus antepassados que Frank Underwood inaugura a terceira temporada de House of Cards mostrando a solução da série para seus problemas narrativos inevitáveis. Com esse simbolismo claro e grosseiro (característica essa bastante presente na produção desde seu princípio), a versão estadunidense da minissérie da BBC oficializa ao espectador uma mudança radical de tom para contar sua história de poder e desejo, e no processo distancia-se de toda a construção feita no primeiro ano e preservada em alguns pontos no segundo. Se antes a política era tratada com seriedade e com algumas pontadas de ironia, ela agora é satirizada e ridicularizada a todo momento possível.

A alteração não é à toa. Depois de duas temporadas armando esquemas e fazendo intrigas, Underwood (Kevin Spacey) enfim conseguiu o que queria e chegou à presidência dos Estados Unidos, o topo da cadeia política do país. Mas não há tempo para celebrações, pois Frank, junto de sua esposa Claire (Robin Wright), precisa lidar com todo tipo de questões para salvar seu governo e garantir o segundo mandato, e isso exigirá tudo. A manutenção do poder é muito mais complicado que alcançá-lo, e os 13 episódios usam do exagero para evidenciar esse contraste.

Para grande parte de sua trama, essa abordagem funciona muito bem. Apesar de nunca alcançar a qualidade atingida no primeiro ano, o terceiro consegue pelo menos se sair melhor que o segundo ao aceitar o ridículo que se tornou, e o emprega para brincar com o panorama atual do país.

Assim, se na temporada passada era visível o incômodo e a indecisão em separar o debate político da bobagem sensacionalista, a série aqui se sente confortável em misturar as duas coisas e tratá-las com humor como uma só, obtendo a partir disso momentos tanto fascinantes em sua concepção como divertidos por seu absurdo. Quem melhor se aproveita disso é Lars Mikkelsen, que entende essa visão para fazer de seu presidente Petrov ao mesmo tempo uma caricatura muito bem feita de Vladimir Putin e um antagonista mais interessante que o Raymond Tusk de Gerald McRaney.

A "política do exacerbamento" também se faz eficiente com os personagens coadjuvantes, pois encontra neles um espaço amplo para trabalhar. Do arco de recuperação vivido por Doug Stamper (Michael Kelly), destacado sem muita sutileza pela temporada, às pequenas trajetórias de personagens como a de Heather Dunbar (Elizabeth Marvel) ou Remy Danton (Mahershala Ali), o elenco periférico mantém sua qualidade por conseguir trabalhar no caricato seus papéis rasos e unidimensionais para torná-los minimamente interessantes.

A dupla protagonista, por outro lado, sofre com esses excessos por já estarem nessa posição caricatural desde o início da série. A crise de relacionamento gerada pelo poder é um tema muito batido para um casal frio e racional como o de Frank e Claire, e mesmo que este gere episódios fantásticos - o sétimo capítulo pode cometer erros em sua temporalidade, mas é certeiro ao explorar mais a fundo e com sensibilidade a dinâmica dos dois - e um personagem tão bem encaixado entre os dois como é o escritor vivido por Paul Sparks, na maioria das vezes ele resulta em situações patéticas, e os últimos episódios da temporada (além do gancho para a quarta) são prova disso. Nesse meio tempo, as atuações de Spacey (mais caras e bocas impossível, apesar de quebrar menos a quarta parede) e Wright passam do limite e tornam-se canastrãs, graças aos diálogos fracos realizados entre os dois.

Mesmo superior ao ano anterior e ser parcialmente feliz em sua aposta drástica, a terceira temporada de House of Cards não consegue fazer muito mais que manter ao mínimo a qualidade da série, e evidencia o desgaste cada vez maior da obra. A cada nova leva de episódios, o seriado criado por Beau Willimon soa mais e mais como uma paródia de si mesmo, e tornar cômico o tom da narrativa ou exagerar na composição de seu protagonista não são capazes de esconder esse problema.

Nota: 7/10

segunda-feira, 2 de março de 2015

Não Perda!: Fevereiro/2015

Por Pedro Strazza.

O mês acabou, e está na hora de ver aqueles lançamentos legais que ninguém viu (mas deveria ver) porque "Não deu tempo..." ou "Não quis arriscar minha grana suada com isso!". No Não Perda! de fevereiro de 2015 temos:

Embora tenha sido Sniper Americano que arrecadou milhões nas bilheterias e que ganhou várias nomeações na temporada de prêmios, o filme de guerra que deveria ter mesmo recebido todas essas honrarias foi Corações de Ferro. O longa dirigido por David Ayer (responsável futuramente pela adaptação do Esquadrão Suicida para as telonas) possui não só pontos técnicos excelentes - o design e a mixagem de som foram esnobados sem justiça no Oscar - como também traz uma narrativa excelente, capaz de tornar a história de um tanque e seus soldados em um faroeste de guerra quase claustrofóbico.

São muitas as ressalvas que podem ser feitas a essa ópera espacial dos irmãos Wachowski, mas não se pode negar sua criatividade visual encantadora. Assim como em A Viagem, Speed Racer e na trilogia Matrix (o primeiro sendo o ápice precoce dos cineastas), a dupla de diretores concebe em O Destino de Júpiter um universo e mitologia fascinantes, cuja complexidade tornou-se um dos principais motivos para o filme fracassar (com certo merecimento) como produto e obra. O que é uma pena, vide a originalidade única de Andy e Lana.

  • Nick Cave - 20.000 Dias na Terra

Normalmente, um documentário sobre uma personalidade tende a afastar sua produção do protagonista para poder desconstruir sua figura e fazer seu retrato. É quase uma lei não escrita esta metodologia, e Nick Cave a quebra junto dos diretores Iain Forsyth e Jane Pollard para refletir sobre sua própria existência e a maneira como a música o atinge no documentário centrado em sua pessoa. Nick Cave - 20.000 Dias na Terra é acima de tudo um filme denso formado em sensações, poderoso por trazer a reflexão egocêntrica do músico para o espectador.

Não Perda!: Janeiro/2015