segunda-feira, 23 de maio de 2016

Crítica: Vizinhos 2

Sequência abraça a atualidade para fazer piada com gaps geracionais.

Por Pedro Strazza.

Assim como grande parte dos filmes produzidos por Seth Rogen e Evan Goldberg, o primeiro Vizinhos partia de uma realidade meio ultrapassada, na qual a sociedade ainda se dividia entre os adultos e os imaturos, estes últimos geralmente passando boa parte do tempo chapados. Tema central de outros longas da dupla, como Ligeiramente Grávidos, O Besouro Verde e Superbad - É Hoje, essa recusa em amadurecer e aceitar qualquer responsabilidade por seus atos era usada pelo diretor Nicholas Stoller na briga entre família e fraternidade como premissa para um humor menos descompromissado, disposto a brincar em cima do aprofundamento dessa questão nos mais jovens a partir de uma comparação simples entre duas gerações.

Mas se no filme de 2014 o distanciamento inicial por consequência tornava todas as suas pretensões em algo mais inocente e quase onírico, sua sequência mostra disposição em abraçar a realidade atual da sociedade e toda sua histeria coletiva. Para Stoller, essa abertura não poderia ser melhor, pois o permite finalmente empreender na exploração desses gaps geracionais para impulsionar seu humor mais flexível.

Claro que Vizinhos 2 usa disso não para buscar novos caminhos à fórmula, mas como forma de reorganizar seu tabuleiro e refazer o conflito do primeiro capítulo. Escrito por Stoller, Goldberg, Rogen, Brendan O'Brien e Andrew Jay Cohen, o filme volta a apresentar o casal Mac (Rogen) e Kelly (Rose Byrne), agora grávidos do segundo filho e cuidando da pequena Stella (Elise e Zoey Vargas), de novo em conflito com um grupo de alunos de faculdade que se alocam na propriedade vizinha à deles, dessa vez uma irmandade comandada pelo trio de garotas Shelby (Chloë Grace Moretz), Beth (Kiersey Clemons) e Nora (Beanie Feldstein) e orientada pelo antigo nêmesis, o jovem adulto Teddy Sanders (Zac Efron). O casal quer vender a casa e precisa sobreviver ao período de garantia de trinta dias para conseguir isso; as jovens acabaram de fundar o grupo e precisam de festas para manter o aluguel em dia.

Stoller de novo aproveita o cenário explosivo em mãos para separar os três elementos em castas geracionais e trabalhar a estrutura conhecida dos seus filmes, mas dessa vez possui novos e interessantes pontos a serem desfrutados. Porque ainda que mantenha em voga as piadinhas com maconha e o arco de amadurecimento como centro da ação, agora na figura do garotão Sanders e suas dificuldades em conseguir se firmar como tal - algo que Efron volta a incorporar com tranquilidade, dado seu constante retorno a essa figura em papéis mais recentes -, é notável em Vizinhos 2 a chegada de dois conceitos interessantes e bastante atuais, que o diretor sabe jogar a seu favor no longa: o feminismo e, mais em destaque, os millennials.

Capitaneados por Grace Moretz e companhia com toda a irreverência necessária, essa combinação abre um novo leque de possibilidades cômicas ao filme, que por sua vez consegue deixar de lado essa contenção moral do amadurecimento como sentença final para abraçar de vez o juvenil de sua proposta. Ainda que continue atado a tal compromisso (o arco de Mac, Kelly e Teddy se resume a isso, bom lembrar), é fascinante a maneira pela qual Vizinhos 2 consegue em simultâneo estabelecer (paradoxalmente) essa mesma chegada da idade como algo ruim ao trio de garotas adolescentes - seja por um pai que briga com a filha mas sucumbe a seus desejos e chora depois pela ausência dela em casa ou na confecção visual horrorosa de um adulto (a cena do Jimmy de Ike Barinholtz vestido de palhaço) - e também tirar humor pelas dificuldades inerentes dos personagens masculinos em se adaptar às questões de gênero sem precisar se anunciar sobre tal ou, pior, soar como preconceituoso no processo.

O longa de Stoller pode soar meio imbecil em seu humor mais escatológico (ele de fato se inicia com uma piada de vômito) e físico, mas essas questões, envoltas na atualidade e dotadas de boas intenções, revelam um recheio diferente do que se está habituado a ver na comédia estadunidense. E se Vizinhos 2 não pode ser encarado como um divisor de águas no gênero (ainda que chegue bem perto de tal meta nas testagens de limites do bromance entre os personagens de Efron e Dave Franco), ele definitivamente serve como uma renovação importante e promissora das produções de Rogen e Goldberg.

Nota: 9/10

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