sábado, 14 de maio de 2016

Crítica: Ye

Com narrativa simples e desenhos espetaculares, Guilherme Petreca entrega conto suave sobre a chegada da fase adulta.

Por Marina Ammar.

A história de Ye, de Guilherme Petreca, se inicia com uma pequena narrativa, que fala do Rei sem Cor. De acordo com seus versos, o Rei sem Cor é responsabilizado por enfermidades físicas e psicológicas, e existe dentro de todos nós.  Qualquer um pode ser um Rei sem Cor. 

Pouco depois, conhecemos Ye, protagonista homônimo do título, assim chamado por ser mudo e só conseguir pronunciar uma única sílaba: Ye, que normalmente ele utiliza para concordar ou apenas responder. Em um dia comum, durante uma colheita, Ye e as pessoas de sua cidade avistam um objeto, voando.

O objeto, logo se descobre, é um avião. As pessoas contam que é reminiscente da guerra, provavelmente tripulado por soldados do Rei sem Cor, indivíduos que já sequer se lembram como é ser humano. O avião, então, derruba uma bomba sobre a vila, e em meio ao pânico dos habitantes a bomba se torna um corvo que acaba por pousar na casa de Ye. 

A partir daí, o garoto se torna mais um daqueles que foram marcados pelo Rei sem Cor, devendo partir em uma jornada para encontrar Miranda, a Bruxa, a única capaz de ajudá-lo da marca. Junto dele, ao partir, está uma pena deixada pelo corvo, e ele deverá devolver para o Rei sem Cor, visto que o Rei, segundo os pais de Ye, não gosta de perder nada que lhe pertence.

Petreca, portanto, traça um caminho curto para ser lido – deixando um gosto quase amargo de “quero mais” – e longo para ser percorrido pelo jovem Ye, que conhece piratas, um sanfoneiro que perdeu a mulher e deseja encontra-la mais uma vez, um palhaço bêbado, Miranda e o Rei sem Cor que vive dentro de si mesmo, compondo uma jornada preenchida de sinceridade, sentimentos agridoces e verdade. 

Ye é, em sua fórmula simples, o conto ideal da chegada da vida adulta, espelhando naqueles que encontra e na mudez de Ye a forma como cada um enfrenta os pesares e obstáculos da vida. Em suas ilustrações e diálogos comedidos, Petreca conta segredos que se guardam no âmago de qualquer um que já teve ou tem a idade de Ye. Medos e frustrações são ilustrados nos demônios maravilhosos do Rei sem Cor, nos contrastes de luz e sombra, e a magia está eternamente presente no mais minúsculo dos detalhes. 

Petreca entrega, sem sombra de dúvidas, um conto repleto de coragem e apresentado com delicadeza e capricho, impulsionando não apenas o leitor que já esteve na jornada de Ye, ou estará, como também qualquer um que se sentir marcado pelo Rei sem Cor, pois, completa, ao fim: “Algumas pessoas vivem sob as asas do Rei. Eu escolhi enfrentá-lo”.

E traz a eterna memória, sem falha, de que qualquer um pode ser o invencível Ye. 

Nota: 9/10

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