domingo, 13 de setembro de 2015

Crítica: Férias Frustradas

Reinício da franquia evita nostalgia e prefere esquetes ao road trip.

Por Pedro Strazza.

Dos muitos elementos temporais que marcam o primeiro Férias Frustradas, o mais evidente é a crise do pai de família que acomete o protagonista Clark Griswold (Chevy Chase) em sua tentativa de tirar a esposa e os filhos da mesmice por meio de uma excursão a um parque de diversões do outro lado do país. Além de servir como guia para o roteirista John Hughes e o diretor Harold Ramis criarem a narrativa cômica do longa, acompanhar as frustrações do patriarca decorrente de seus planos fracassados em animar seu clã durante a longa viagem funcionavam também por denotar a crise pela qual a instituição da família já passava na época. A fúria psicopata que toma o personagem principal ao ver o estabelecimento fechado para reformas no clímax do terceiro ato, portanto, vai além do ápice cômico, se tornando um ato desesperado em busca de uma resolução para um problema sem solução.  
Passado mais de trinta anos depois desta primeira aventura, o novo Férias Frustradas começa sua jornada consciente de que os tempos são outros. Antes o filho homem da família, o agora adulto e pai Rusty (Ed Helms) quer levar os filhos e a esposa em uma viagem de carro até o Wally World não somente no intuito de uni-los e salvá-los do tédio, mas principalmente para reanimar o seu casamento com Debbie (Christina Applegate), cuja relação está em crise por ter entrado na tão temida rotina aborrecida.
Assim, o que impera na sequência de desastres escrita e narrada por John Francis Daley e Jonathan M. Goldstein é a lógica da decadência da instituição do matrimônio, sob um viés mais cômico e ora ou outra degradante. Enquanto Rusty sofre em se perceber limitado para sua mulher, Debbie encontra-se incomodada com sua opção por um casamento conformista e de poucos luxos, olhando sempre invejosa para o aparente sucesso dos outros amigos casados. A jornada empreendida pelos dois protagonistas torna-se uma verdadeira terapia de casal, que inclui até revelações sobre o passado e experimentações no sexo para reanimar o relacionamento.
Daley e Goldstein, enquanto isso, se divertem (e muito!) com as possibilidades geradas a partir desse quadro. Na rota contrária do original, os diretores deste Férias Frustradas privilegiam no road trip de esquetes o último em cima do primeiro, dando destaque às situações embaraçosas que acometem os Griswolds ao invés de construírem uma escala que culmine em um clímax tão explosivo quanto o original, muito em parte porque a terapia, como nos filmes de estrada, se resolve enquanto acontece e não em seu destino final. Quem mais sofre com essa mudança é o próprio Walley World, que sem a catarse torna-se apenas mais um elo da viagem.
Outros à deriva na crise do casamento são os filhos interpretados por Skyler Gisondo e Steele Stebbins, mas estes pelo menos encontram refúgio na contextualização temporal do filme. O new parenting e suas dificuldades surgem, afinal, como um muito bem-vindo escape à situação vivida por Rusty e Debby, pois conseguem tanto envolver os irmãos na narrativa quanto resgatar uma característica fundamental da franquia (que no fim se tornou essa grande piada sobre famílias), em cenas de humor simples e bastante eficaz - a melhor de longe é a situação na piscina do motel à beira da estrada, que com uma leve mudança de tom e postura de Helms transforma um pai disposto a ajudar o filho em um pedófilo assustador.
Com pouca disposição à nostalgia - restrita à cena da garota na estrada e às aparições especiais de Chase e Beverly D'Angelo, cuja participação é quase um oásis para o casal protagonista - e muita em criar novos caminhos, o novo Férias Frustradas consegue soar atual apesar de no fundo fazer graça dos mesmos tipos de personagens e de algumas situações. E isso não ocorre apenas porque Daley e Goldstein estão atentos ao panorama social mas também por eles arriscarem prever aqui e ali novas tendências culturais, e a prova cabal disso é a emoção que Rusty sente ao ouvir o rádio tocar Kiss From a Rose e lembrar de Batman Eternamente, uma nostalgia noventista ainda rara de se ver no cinema estadunidense.

Nota: 8/10

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