Sobre a imortalidade e o tempo
Por Pedro Strazza
Esta peculiar opção do cineasta se faz visível em diversos momentos do longa. Conforme o enredo (de curta duração temporal) vai sendo contado, vários eventos importantes se desenrolam nas vidas dos perpétuos Adam (Tom Hiddleston) e Eve (Tilda Swinton); suas atitudes, entretanto, em nada soam como se importassem com estes acontecimentos - e nem deveriam. Aqui, o espectador (tal qual o diretor) não possui interesse na maneira como estes seres reagirão às mudanças em suas vidas ou saber em que profundidade emocional ou física estas o afetarão. Estes episódios, afinal, são um pequeno ponto na extensa vida destes vampiros.
O grande foco do filme torna-se, então, saber o que estes dois indivíduos vivenciaram e o que pensam da humanidade - referida por eles sempre pela palavra "zumbis". Admiradores respectivamente da música e da literatura, Adam e Eve parecem estar a todo momento em um eterno estado de observação acerca dos feitos dos homens e de sua História (culturalmente interferida em alguns pontos por eles próprios), refletindo de forma pessimista sobre estes e seu futuro. E os momentos em que o casal protagonista exprime este sentimento não são poucos, a exemplo da inconformação de Adam com o fato de toda a sociedade não ter aceitado Darwin ou de o ser humano ter conseguido contaminar o próprio sangue - sem contar, claro, o fato do vampiro morar na falida e decadente Detroit.
A relação dos vampiros com este tecido do corpo humano parece, por sinal, ser o único aspecto destas criaturas que permanece visível no filme de Jarmusch. Lembrete notável da animalidade primordial de tais seres, o diretor realça em vários momentos sua tensão psicológica quando em contato visual direto com seu único alimento, que desperta uma notável impulsividade em seu interior. E quando estes finalmente bebem o "nutritivo" líquido, a câmera foca no prazer instantâneo proporcionado no animal interior e irracional de cada um.
Além das conversas entre si sobre a humanidade, o casal tem seu relacionamento saudosista com o mundo enriquecido pelas interações com os "zumbis" e outros de sua própria espécie. O jeito como Adam trata o jovem amigo humano Ian (Anton Yelchin), por exemplo, evidencia uma última tentativa do vampiro em, ainda que de forma depressiva, tentar se conectar com o homem, ao passo que os diálogos entre os protagonistas e a irmã de Eve, Ava (Mia Wasikowska) traz um paralelo interessante entre o passado rico e cada vez mais esquecido e o presente superficial e decadente.
Pautado ainda por uma trilha sonora eficaz e uma fotografia elaborada, Amantes Eternos é um filme que usa com excelência do tema da imortalidade para discutir os mais variados temas universais e atemporais como o amor, a vida e a passagem do tempo. Profundo em suas intenções, a história traz um lado que até o momento tinha sido pouco explorado na mitologia do vampiro moderno, que infelizmente vive nos tempos atuais uma superficialidade tão grande quanto a personalidade da irmã de Eve.
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