sábado, 22 de março de 2014

Primeiras Impressões: Ano Zero

Pisando em ovos de morcego, Scott Snyder faz costumeiro bom início

Por Pedro Strazza

Dentre os super-heróis com histórias de origem manjadas, o Batman é o que tem com certeza a mais consagrada. Ao contrário de vigilantes famosos como o Homem-Aranha e o Superman, o Cavaleiro das Trevas possui em seu início de carreira um arco de quadrinhos de sucesso e qualidade conhecido como Ano Um, produzido por Frank Miller, David Mazzucchelli e Richmond Lewis nos anos 80 e responsável por estabelecer de vez a maneira como se desempenhou os primeiros dias de combate ao crime do Homem-Morcego. Mexer em uma estrutura tão sólida e fundamental para a mitologia do personagem constitui-se portanto como aposta arriscadíssima para qualquer equipe criativa, já que um erro dos mais pequenos pode causar uma quebra no perfil do próprio herói.
O roteirista Scott Snyder, entretanto, parece pensar o contrário. Depois de ter falhado em escrever uma história clássica do Batman em A Noite das Corujas e A Morte da Família, Snyder - que é o principal escritor do Homem-Morcego desde 2011 e Os Novos 52 - resolveu abordar, em seu último arco de histórias com o personagem, a trajetória inicial de Bruce Wayne em se tornar o vigilante que todos nós conhecemos, mas explorando uma época pouco anterior aos acontecimentos do Ano Um de Miller para assim evitar a ira de possíveis fãs xiitas.
Esse início, intitulado pelo autor de Ano Zero, seria os primeiros movimentos de Bruce ao chegar a Gotham, ainda sem ter revelado a público, porém, seu retorno. Nesse momento, o jovem herdeiro da fortuna Wayne não possui a mínima ideia de como porá medo nos criminosos da cidade, e atua à base dos disfarces extravagantes e de uma atitude mais parecida do James Bond de Daniel Craig. Pelo menos é o que Snyder dá a entender nas páginas da primeira edição da nova saga, mostrando o final do confronto de Bruce com a gangue do Capuz Vermelho e exibindo o mesmo ar dos filmes atuais de 007, captados bem pela arte estranhamente mais suave de Greg Capullo (mais, pelo menos, que em Morte da Família - Seria por causa do trabalho de cores mais quentes de FCO Plascencia?).
O primeiro capítulo de Ano Zero, porém, encerra sua ação já nessa cena, e começa a construir bem o início da trama a partir daí. Ao contrário de Morte da Família e A Noite das Corujas, Snyder sabe que a ação e a tensão aqui não são elementos fundamentais, mas sim dispensáveis para o desenvolvimento, e ele dispensa-os, pelo menos no início, na estrutura. Ao invés disso, o autor apresenta ao leitor personagens e peças importantes para o arco, além de já estabelecer algumas pequenas pontes para a obra de Miller.
Essa estratégia, por enquanto, funcionou bem para a saga. Fora alguns pequenos possíveis erros (que se intensificam no desfecho), a primeira parte em nada desaponta àqueles que acompanham o trabalho da equipe atual do Batman ou os fãs mais velhos. O maior perigo a ser enfrentado agora, portanto, é a dificuldade de Snyder em concluir bem seus arcos, que se não enfrentada pode tirar de Ano Zero qualquer credibilidade na mitologia do Homem-Morcego - Além de acabar definitivamente com as chances do autor em querer se marcar na trajetória do herói.

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