sábado, 30 de julho de 2016

Crítica: Os Caça-Noivas

Comédia refaz Penetras Bons de Bico nos anos 2010 por velhos meios.

Por Pedro Strazza.

"Hashtag 2016, as mulheres podem fazer besteira agora" diz Tatiana (Aubrey Plaza) ao chefe do restaurante onde ela e a melhor amiga Alice (Anna Kendrick) trabalham como garçonetes, logo no início de Os Caça-Noivas. É uma maneira pouco sutil da personagem de tentar explicar a seu empregador as ações da colega enquanto esta realiza o trabalho bêbada e dançando em cima da mesa ao som de Rihanna, é verdade, mas também serve de anúncio às intenções do filme, que se baseia em um acontecimento real para criar uma trama de estrutura e situações levemente similares às de Penetras Bons de Bico, comédia de sucesso nos anos 2000.

A história real é a de Mike e Dave Stangle, irmãos que três anos atrás postaram no site Craigslist um anúncio à procura de mulheres "atrativas e agradáveis" para os acompanhá-los no casamento de sua prima no Havaí, que no roteiro escrito pela dupla Andrew Jay Cohen e Brendan O'Brien se torna no matrimônio da irmã Jeanie (Sugar Lyn Beard) com Eric (Sam Richardson). Conhecidos por estragarem os eventos de família com suas peripécias, os garotões vividos no longa por Zac Efron e Adam DeVine são incumbidos de tal tarefa pelos pais (Stephen Root e Stephanie Faracy) e os noivos afim de evitar uma nova calamidade, e depois de implodirem na internet com o anúncio encontram essas duas garotas, aparentemente de boa educação e bastante amigáveis no terreno familiar. Os dois não sabem, porém, que Alice e Tatiana na realidade são ainda mais festeiras que eles, e tão logo elas chegam no hotel as coisas começam a desandar.

Responsáveis pelos roteiros dos dois Vizinhos, Jay Cohen e O'Brien fazem mais uma vez aqui o clima de enfrentamento entre duas partes agora no campo da batalha dos sexos, com as personagens de Kendrick e Plaza fazendo frente aos de Efron e DeVine por quererem ocupar o mesmo status de despreocupação e festejo. Essa estrutura, que aproveita de leve do momento atual de questionamento a machismos do cotidiano e de maior força dos movimentos feministas, lembra também a do novo Caça-Fantasmas (e o título em português parece ter adorado ressaltar esse paralelo), ainda que na comparação com a comédia de Paul Feig ele saia perdendo. Pois se a equipe feminina de investigadoras do paranormal possui no traço do feminino de seu diretor sua maior força, o longa dirigido por Jake Szymanski faz a opção segura e trabalha o humor pelo elenco.

Assim, o que se vê em cena é uma narrativa mais controlada, mesmo que aparente a todo instante estar à beira do completo caos. Construindo esquetes por meio de dinâmicas de duplas simples e inalteráveis no percurso, aliado a um humor de causa e efeito rápido (os cavalos libertados, o massagista e a masturbação feminina se encerram em seus propósitos pouco depois de serem introduzidos), Szymanski mantém o quarteto protagonista em seus arquétipos típicos, com Efron e Kendrick se mostrando comportados em tipos retidos e arcos concisos enquanto Plaza e DeVine ficam soltos para reagir de maneira exagerada aos acontecimentos - e se o segundo apenas se limita a gritar e forçar caretas, a intérprete de Tatiana ensaia aqui e ali momentos (cômicos e dramáticos) mais interessantes à personagem.

A estratégia tem seus pequenos ápices mas não deixa de ser frustrante, porque por mais bem posicionados estejam os quatro atores e atrizes principais eles, como o roteiro, não tem mobilidade suficiente para arriscar algo novo de fato. Ainda que tente se igualar ao estilo desbocado e rebelde que vigora na comédia estadunidense atual, Os Caça-Noivas Preso se prende com seu elenco dentro da narrativa tradicional e coxinha da comédia romântica, com algumas piadas de sexo adicionadas só para apimentar a trama. O curioso é que o melhor elemento dentro dessa dinâmica toda seja justo a noiva de Lyn Beard, que alvo de quase todas as situações pitorescas do filme acaba por entregar as cenas mais cômicas da produção.

Nota: 4/10

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