Da vida íntima aos lugares escuros, os grandes filmes de pouco destaque dos últimos trinta dias.
Por Pedro Strazza.
- Casadentro
Filme que marca a estreia da diretora peruana Joanna Lombardi, Casadentro parte de uma narrativa intimista para falar de um tema universal. Situado na casa de uma senhora de idade, a obra aproveita de um período curto de tempo (menos de dois dias) para a partir da peculiar relação parental apresentada e dos eventos mostrados explicitar o peso da maternidade na vida das mulheres, seja no começo, meio ou fim de sua relação com os filhos. Casadentro é um filme sutil, que delineia suas problemáticas com paciência o suficiente para demarcar a dor causada por estas a seus indivíduos.
Enquanto Lombardi prefere passar sua mensagem pelo meio subjetivo, Paul Feig é daqueles que joga na cara do público seus objetivos. Depois de Missão Madrinha de Casamento e As Bem Armadas, o diretor aquece seus motores para o novo capítulo dos Caça-Fantasmas com este A Espiã que Sabia de Menos, sátira escrachada de todos os valores masculinizantes da espionagem e que é liderado por uma Melissa McCarthy cada dia mais afiada. E em meio a toda uma tiração de sarro pra cima do subgênero e seus clássicos o questionamento da posição feminina surge, pronto para estraçalhar aqueles que figurem a mulher como vítima ou femme fatale descerebrada.
Um ano depois de ver sua obra mais conhecida tomar as telas de cinema, a autora Gillian Flynn tem mais um de seus livros transformado em filme. Com forte elenco encabeçado por Charlize Theron, Lugares Escuros traz uma gama de temas e estruturas similares à de Garota Exemplar, mas também consegue trazer para a mesa novos olhares e ideias para a desconstrução institucional que realiza. Não se irrite com o desfecho fraco, portanto; o que realmente interessa aqui está nas entrelinhas do mistério a ser desvendado.
- Sangue Azul
Aproveitando-se da diversidade de mitos e lendas da ilha de Fernando de Noronha e da própria mítica do circo, o diretor Lírio Ferreira concebeu em Sangue Azul uma história com pés nas dores do passado. Do retorno de um homem-bala à cidade ilhada que nasceu e viveu seus primeiros anos e dos efeitos que o lar tem na trupe circense que integra, o filme realiza uma bela jornada de reencontro com o verdadeiro eu, potencializada por uma narrativa fluida e nebulosa que ajuda a configurar o clima mágico do local onde a trama se passa.
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