segunda-feira, 27 de julho de 2015

Crítica: Pixels

Invasão de ícones oitentistas vem para confirmar o nerd como novo valentão.

Por Pedro Strazza.

Se existe um tema que resume a carreira inteira de Chris Columbus - seja como diretor, roteirista ou mesmo produtor - este com certeza está personalizado na figura do garoto que é alvo de algum tipo de bullying. Quase sempre protagonistas nas produções dirigidas por ele, esse indivíduo ganha em tais histórias a tão esperada chance de redenção, oferecida por meio de uma aventura fantástica pela qual ele terá a oportunidade de deixar a sua incômoda posição de vítima para junto com os amigos salvar o dia e, se possível, conquistar a garota dos sonhos. Em última análise, essa estrutura une filmes como Goonies, os dois primeiros Harry Potter e, agora, Pixels.
No caso da adaptação do curta concebido por Patrick Jean para longa-metragem, entretanto, este arco clássico de crescimento é erroneamente submetido ao valor saudosista, dominante na obra pelo retorno de figuras antigas dos videogames e arcades como grandes vilões em uma invasão alienígena à Terra. Assim, o que era pra ser uma aventura simples e marcada por nostalgias pontuais torna-se uma viagem desesperada e de poucos disfarces ao passado, onde as supostas "únicas" glórias da vida foram alcançadas.
Este sentimento, muitas vezes atribuído ao colégio e à faculdade, é quase um código de ética da Happy Madison de Adam Sandler, que além de protagonizar o filme assina ao lado de Columbus como produtor. Uma combinação que se prova bastante perigosa, como bem expõe a narrativa rígida de Pixels e seus personagens derrotistas ao extremo. Temos ali o jovem adulto que vive em remorso das vitórias não obtidas na juventude (Sandler), o adulto infeliz com o casamento e o trabalho (Kevin James), o nerd estereótipo vindo diretamente dos anos 80 (Josh Gad), a workaholic divorciada e incapaz de seguir em frente emocionalmente sem um homem (Michelle Monaghan, em um papel no mínimo machista) e, por fim, o babaca "atleta" que sobrevive de glórias de um passado distante (Peter Dinklage). Todos unidos em torno da defesa do planeta, a sua tão sonhada segunda chance na vida.
Mas se essa oportunidade em outros longas de Columbus significava uma vitória nunca obtida, aqui ela é o momento de virada, a vez desse grupo castigar os adversários antigos e tomar o controle, como se os nerds de A Vingança dos Nerds não se bastassem apenas em obter sua vingança como também em humilhar. Não à toa, os "valentões" do roteiro escrito por Tim Herlihy e Timothy Dowling são retratados de maneira tão caricatural em figuras de autoridade interpretadas por Sean Bean e Brian Cox, gritando ameaças vazias a tudo e todos.
Esses temas e ideias já foram bastante elaborados em outras comédias protagonizadas por Sandler (Gente Grande e seus adultos para sempre crianças sendo o ápice dessa repetição nada disfarçada), e o que impede Pixels de se juntar a elas de fato é que aqui temos ação ao invés de mais e mais piadas. A aplicação, porém, traz o mesmo grau de decepção, ao passo que as maneiras como o roteiro encaixa os jogos em cidades se torna pouco interessante nas mãos de Columbus. Toda a situação envolvendo um gigante Pac-Man em Nova York, por exemplo, nunca deixa a situação convencional de perseguição de carros para talvez emular a estética e urgência do jogo clássico.
Ideias boas não faltam a Pixels. O material original, publicado em 2010 por Jean e equipe, aplicava com criatividade os conceitos dos jogos mais clássicos em um ambiente real, com um descompromisso divertido e ingênuo. Essa metodologia se perdeu na transposição para as telas, dando espaço a convenções que cheiram à naftalina e discursos bobos sobre como os jovens humilhados de outrora são os novos heróis da humanidade. E o mais triste é perceber que esses garotos parecem ter aprendido nada no processo.

Nota: 4/10

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