segunda-feira, 21 de abril de 2014

Crítica: Divergente

Franquia apresenta potencial, mas falha de resto

Por Pedro Strazza

Com Jogos Vorazes arrecadando milhões nas bilheterias e assumindo de vez o posto de "franquia teen do momento", até que não demorou muito para que os demais estúdios de Hollywood se mexessem para criar novas séries de filmes que possuam os mesmos temas da saga de Katniss Everdeen. Dessa maneira, quase seis meses depois do lançamento de Em Chamas, chega às telas Divergente, adaptação do primeiro livro de uma trilogia escrita por Veronica Roth. Aqui, repetem-se estruturas e ideias da franquia da Lionsgate para conceber um novo mundo distópico, visto (também) por uma jovem forte e questionadora dos princípios que regem esta sociedade.
Neste caso, a protagonista seria Beatrice Prior (Shailene Woodley), que vive numa Chicago pós-apocalíptica e dividida em cinco facções - Candor (os honestos), Abnegation (os altruístas), Dauntless (os corajosos), Amity (os pacíficos) e Erudite (os inteligentes) - para o melhor funcionamento da civilização. Como está completando 16 anos, Beatrice precisa, tal qual todo jovem nessa idade, escolher uma dessas classes para dedicar seu suor e sangue. Mas ela descobre ser um tipo raro (e caçado pelo governo) de pessoa, um perfil cujas habilidades se encaixam em qualquer um dos cinco pilares da sociedade: Os Divergentes.
A partir daí, o roteiro escrito por Evan Daugherty e Vanessa Taylor transforma toda a jornada de Beatrice em uma alegoria para o processo de "libertação" que todo jovem recebe na idade da protagonista. Algo bastante interessante, de fato, mas falho em explicar o motivo desta: Afora sair do conforto da casa dos pais, Tris (apelido pelo qual é conhecida nos Dauntless) não realiza nenhum tipo de quebra de sua condição, mantendo seus valores ensinados pela família até com seus novos companheiros. Dessa forma, a bastante insistida moral "facção acima do sangue", subjetivamente importante para os valores desta sociedade, não tem qualquer sensação ou demarcação de fim, visto que não é respeitada por nenhum dos personagens principais em nenhum momento. Sem essa sensação real de evolução, a construção da protagonista torna-se extremamente frágil e quebradiça, e o espectador vê nela mais uma menina (Beatrice) do que a mulher (Tris) que o filme insiste em firmar sobre nenhum argumento.
Focando nesta jornada pessoal esvaziada, Divergente acaba por esquecer de desenvolver com propriedade o universo criado - que, mesmo sendo por essência curioso e rico, ganha aqui várias perguntas sem resposta - e os coadjuvantes que o habitam. Momentos facilmente interessantíssimos para o andamento da história como a relação de Quatro (Theo James) com o pai ou o passado da mãe de Beatrice, Natalie (Ashley Judd), são abordados de maneira superficial e rápida pelo diretor Neil Burger em ordem de manter todo o foco na protagonista. Essa escolha constitui-se um erro brutal para a produção, pois, sem uma linha narrativa principal atrativa, as narrativas secundárias poderiam ser uma bela válvula de escape para o público.
Possuindo ainda um último ato repleto de todos os clichês possíveis e cenas de ação bastante oscilantes, Divergente obtém no geral um resultado mediano para baixo. Sem um conteúdo melhor trabalhado e provavelmente apostando na resposta dos fãs para seu sucesso financeiro, o filme traz à mesa ideias e questionamentos que podem vir a ser, numa eventual sequência, melhor trabalhados. Porém, essas mesmas aqui são, como a liberdade de Beatrice da sociedade impositora, apenas uma promessa não cumprida.

Nota: 5/10

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