segunda-feira, 14 de abril de 2014

Crítica: Capitão América 2 - O Soldado Invernal

Nova aventura de Steve Rogers é um excelente thriller, apesar dos problemas menores

Por Pedro Strazza

Como personagem, o Capitão América é um herói muito complicado de se escrever histórias. Criado no início dos anos 40 para ajudar a levantar a moral dos soldados estadunidenses na Segunda Guerra Mundial, Steve Rogers é em sua concepção uma figura patriótica, tranformando-o, por sua vez, em um personagem obsoleto e relegando-o ao esquecimento anos depois de sua estréia. Nos anos 60, porém, Stan Lee resolveu reviver o herói, congelado ao final da guerra, para que liderasse os Vingadores, tornando necessário assim que mais histórias sobre ele fossem feitas.
E isso foi feito. Ao longo dos últimos cinquenta anos, o bandeiroso foi tratado pela Marvel Comics como peça principal no seu complexo tabuleiro super-heroico, um líder para os good guys e um adversário poderoso para os inimigos. E como todo personagem de quadrinhos, o Capitão América teve altos e baixos nesse período.
Dos primeiros, é inegável a afirmação de que a recente fase escrita por Ed Brubaker foi uma das maiores na carreira de Steve Rogers. De 2004 à 2012, o roteirista soube trabalhar muito bem as características psicológicas do herói em eventos importantes e bombásticos de sua vida, incluindo aí sua própria morte após os eventos de Guerra Civil. O maior legado de Brubaker, entretanto, foi a sua polêmica decisão de ressuscitar Bucky Barnes, o antigo parceiro de Rogers na Segunda Guerra falecido no mesmo acidente que congelou o herói por mais de sessenta anos, na forma de um assassino sem alma e lendário da antiga União Soviética. Esse arco, chamado por muitos de O Soldado Invernal, é base, junto a "Nick Fury Contra a S.H.I.E.L.D.", de Capitão América 2 - O Soldado Invernal, o segundo filme do herói e o terceiro da Fase 2 da Marvel nos cinemas.
A escolha e junção destes dois arcos não poderiam ser melhores para o personagem aqui. Vindo de um primeiro longa bem executado como aventura, mas falho na concepção de seu roteiro, a franquia do "Primeiro Vingador" ganha em seu segundo capítulo uma caracterização interessante para Steve Rogers (Chris Evans), em seu choque com a nova realidade em que vive, e uma trama mais séria e, até onde é possível, politizada, além de trazer também importantes avanços técnicos para a Marvel Studios.
Nesse último, o progresso se dá principalmente na melhor construção das cenas de ação, extremamente bem executadas nas mãos dos diretores Anthony e Joe Russo, e do gênero cinematográfico utilizado pela produção, algo que aparentemente vinha se perdendo nos filmes da Marvel. Depois de produções que não sabiam se concentrar no tom adquirido - O épico em Thor 2 e a ação no péssimo Homem de Ferro 3, por exemplo - sem cair na comédia exagerada e nada cabível à situação proposta, torna-se um alívio ver que Capitão América 2 é muito bem desenvolvido pela direção como um thriller com eventuais pontas de humor. Assim, o maior acerto desta produção é o de saber focar no roteiro ao invés do lado mais comercial, mas sem esquecer os elementos que transformaram a Marvel cinematográfica conhecida - incluindo aí as famosas referências, que dessa vez vão de Doutor Estranho a Pulp Fiction.
A trama elaborada pelo filme também não deixa à desejar no geral. Mostrando-se claro nas críticas ao Ato Patriótico e à recente política do ex-presidente dos estadunidense George Bush, o roteiro escrito por Christopher Markus e Stephen McFeely explora com inteligência o "recém-ressuscitado" Steve Rogers conforme este se vê envolto em uma conspiração na S.H.I.E.L.D., ao mesmo tempo a maior agência de segurança do mundo e seu "porto seguro" no mundo novo. Ao mesmo tempo, essa relação do protagonista com a nova realidade estabelecida ganha toques tanto cômicos e dramáticos no longa, exemplificados respectivamente nos diálogos deste com a Viúva Negra (Scarlett Johansson) e na visita ao museu.
O uso dos coadjuvantes na estrutura de Capitão América 2, por sinal, também é excelente. Tanto personagens previamente estabelecidos como novos são amplamente utilizados pelo roteiro, tendo suas ações sendo justificadas com clareza na ampla maioria das vezes. Dessa forma, peças antes de decoração no universo Marvel como a Viúva Negra e Maria Hill (Cobie Smulders) finalmente demonstram sua importância - principalmente a primeira, que justifica a presença nos Vingadores -, enquanto que novidades como o Falcão são bem estabelecidos para o público.
O filme, porém, peca em dois pontos banais e ainda sim necessários: A verossimilhança de alguns momentos da ação e a conspiração em si. Enquanto as cenas de pancadaria envolvam em alguns momentos uma estupidamente alta suspensão de descrença do público para que transcorra sem problemas - apesar de ser um filme de super-herói, imaginar que uma pessoa pule de um prédio em queda para um helicóptero em um ângulo extremamente impossível de ser obtido ainda é pedir demais do espectador normal -, os problemas envolvendo a administração da S.H.I.E.L.D. parecem exagerados demais quando comparados à estrutura mais "realista" (como dito há pouco, ainda é um filme de super-herói) da produção. Juntos, esses dois fatores podem não fazer ruir todo o resultado final obtido, mas prejudicam um pouco do andamento do filme - principalmente por serem problemas de fácil correção.
Com um roteiro interessante e uma direção competente, Capitão América 2 - O Soldado Invernal é um importante passo para a trajetória de Steve Rogers no cinema. Além de abrir novos caminhos para interpretar seu complexo protagonista, o filme promove no universo Marvel diversas mudanças, tanto cronológicas como estruturais, que afetarão profundamente o fechamento da fase 2 da Marvel Studios no cinema. A questão agora é saber como o estúdio desenvolverá os acontecimentos deste longa em seus futuros filmes - o que inclui o próprio líder dos Vingadores.

Nota: 8/10

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