sábado, 10 de setembro de 2016

Crítica: O Homem nas Trevas

Terror claustrofóbico se perde dentro da própria proposta.

Por Pedro Strazza.

Embora possua uma ambientação completamente distinta da do trabalho anterior do diretor Fede Alvarez, O Homem nas Trevas não deixa de repetir as temáticas de A Morte do Demônio. Como em seu remake de Evil Dead, o cineasta uruguaio busca legitimar aqui uma consolidação do feminino como força, através de um terror claustrofóbico cujo maior mecanismo venha do seu lado mais sádico. Acima de tudo, o que parece imperar no cinema de Alvarez é a provação física de seus personagens contra as adversidades ao redor e na maneira como o espectador lida com isso.

Dentro dessa proposta, o que ambos os filmes tem no fundo de efetivamente diferente entre si é a criatura. Ainda que ensaie um paralelo com a Detroit onde se passa a trama (e logo o relegue ao mero papel de contexto), O Homem nas Trevas nunca chega a abandonar o ritmo de cabin fever desenvolvido pelo diretor em A Morte do Demônio, aplicado agora sob a ferramenta do suspense ao invés da do gore.

Na trama, um grupo de três jovens que passam os dias a assaltar casas invadem a de um senhor cego (Stephen Lang) em busca de um grande quantidade de dinheiro arrecadada por este depois da trágica morte de sua filha. O que parece ser mais uma tarefa fácil a Rocky (Jane Levy), Alex (Dylan Minnette) e Money (Daniel Zovatto), porém, logo se torna em um pesadelo conforme o velho e sua morada revelam-se ser tudo menos inofensivos.

O roteiro de Alvarez e Rodo Sayagues é um gato e rato simples e promissor, mas não demora muito para se revelar desgastado. Além de estar preso a uma metodologia de criar uma reviravolta de tempos em tempos para impedir que a história estacione, a narrativa do texto e aplicada pelo diretor na tela é traiçoeira, mudando constantemente as regras a seu favor mesmo que isso signifique prejudicar a lógica dos eventos. O que a dupla talvez mais sinta falta em O Homem nas Trevas seja a presença de um elemento sobrenatural capaz de relativizar essas pequenas incongruências, mas eles também não correm atrás de uma solução eficiente para o problema.

Assim, não demora muito para o espectador se ver preso em uma trama que muitas vezes não sabe conectar as situações apresentadas, que a bem da verdade servem ao diretor de maior atrativo aqui. Mas o interesse de Alvarez pelo mapeamento da casa e seus cômodos, evidente nos planos longos com o qual situa no início os personagens e de intenções lúdicas, não contribui muito à violência concebida para o filme, que ademais parece tão enclausurado na experiência hermética ao qual se propõe quanto seus protagonistas estão dentro da casa.

Nota: 5/10

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