segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Crítica: Esquadrão Suicida

Inoperante, filme de David Ayer se perde no imediatismo.

Por Pedro Strazza.

Embora tenha uma proposta e ambientação completamente distinta, Esquadrão Suicida possui algumas semelhanças criativas em relação ao trabalho anterior do diretor e roteirista David Ayer, Corações de Ferro. Além de visarem a ação como descarrego de um perfil problemático e implícito a seus personagens, a adaptação de uma linha de vilões mais desconhecida da DC Comics para o cinema e o thriller de ação ambientado na Segunda Guerra usam (o primeiro de forma mais explícita) das tragédias pessoais de seus grupos de protagonistas como fator de união a estes, consumando essas relações em cenas mais pausadas e que permitam o drama afluir.

Mas se com a equipe de soldados esses poucos momentos de calma funcionavam por vir com atipicidade em meio ao banho de violência proporcionado pela crueldade do conflito, o time de criminosos obrigados a trabalhar para o governo não consegue alcançar esses pontos com mesma paciência, presos a exageros estilísticos que a todo instante tentam se sintonizar à hiperatividade e estética da geração jovem desses tempos. Essa procura, comum ao lado mais imediatista e efêmero da fase adolescente e que hoje encontra-se tomada por um aceleramento de tais condições, se traduz nos primeiros intantes em um problema que afetará o filme inteiro, que incapaz de controlar essa fúria juvenil logo acaba vítima da própria - um vexame, diga-se de passagem, digno do maior dos tiozões em crise de meia-idade.

E não demora muito para se perceber isso. O primeiro ato da produção, que consiste sumariamente de introduzir os personagens quase no formato de um programa de videoclipes, com pressa já os apresenta e deixa claro seus dramas, explicando inclusive qualquer tipo de revelação ou reviravolta que o longa irá trabalhar depois. Aliado a uma montagem frenética e que preza por excessos e imediatismos, esse início busca bastante algum tipo de contato imediato entre o público e os vilões reunidos por Amanda Waller (Viola Davis), descartando a possibilidade de trabalhar essa questão a longo prazo.

O problema é que se por um lado essa dinamização soa atraente ao espectador na superfície, ela também quebra o filme em seus outros dois terços, que lida com esse resto da forma mais burocrática possível. Esburacada, a trama escrita e dirigida por Ayer mostra dificuldades sérias em seus momentos de ação e humor, o primeiro defasado em situações repetitivas - existem três cenas de queda de helicóptero! - e com nenhuma fluidez (elas mais parecem cenas de videogame cortadas ao acaso) enquanto a última pasteuriza-se a todos os personagens sem buscar qualquer tipo de distinção entre eles. O cineasta procura aqui e ali resgatar o viés de Os 12 Condenados da história (as cenas da prisão e o primeiro encontro do grupo não deixam de emular a obra de Robert Aldrich em um caráter subjetivo), mas é como se o desenvolvimento da narrativa pulasse passos.

Sobra ao elenco a difícil tarefa de carregar o longa nas costas, mas com personagens quebrados as coisas se complicam. A grande maioria dos atores trabalha seus papéis da maneira que dá - Will Smith segue com Pistoleiro forçando seu arco de redenção a todos os seus trabalhos, Jay Courtney improvisa um humor caricatural, Cara Delevingne e Joel Kinnaman não conseguem emular a tragédia de seu romance, Viola Davis trabalha com facilidade uma Amanda Waller que soa como se fosse feita para ela -, mas não há muito para se servir quando até mesmo a Arlequina de Margot Robbie, elemento central da narrativa e que é muito bem trabalhada pela atriz em seus tiques, tem seu drama de abuso negado e é reduzida pelo roteiro a um alívio cômico irônico dos mais fracos a ser buscado pelo namorado. O Coringa de Jared Leto, nesse meio tempo, parece orbitar numa periferia distante da trama, e prejudicado pela montagem picotada e a atuação de excessos do ator se mostra um peso desnecessário.

O que resta então em Esquadrão Suicida? Em sua síndrome de inoperância e imediatismos que se trajam de estética jovem hiperconectada, Ayer e seu filme acabam lembrando muito mais o Batman e Robin de Joel Schumacher, que também usava de um visual mais colorido, personagens bem-humorados e uma moral familiar (seria o "eu não vou perder minha segunda família!" o novo "nós vamos precisar de uma caverna maior"?) para trabalhar o gênero. Uma lembrança que, a bem da verdade, não poderia ser mais desconfortável.

Nota: 2/10

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