sábado, 11 de junho de 2016

Crítica: Invocação do Mal 2

James Wan volta a fazer terror lúdico baseado no casal Warren com novidades revigoradoras.

Por Pedro Strazza.

Já bastante complicado como conceito, a continuação torna-se ainda mais difícil de dar certo dentro do terror, gênero acostumado a trabalhar pelo inédito mesmo quando reaproveita valores já abordados no passado. Trabalhar uma sequência para um filme que se sustenta pelo medo implica a seus realizadores ir além da mera refabricação, precisando de fato acrescentar novas camadas e mecanismos que tragam o espectador mais uma vez ao ponto de partida e façam-no temer um desconhecido agora nem tanto desconhecido por ele.

No caso de Invocação do Mal, filme de 2013 que foi muito pautado pelo exercício do gênero em sua forma mais pura e descolada da realidade o possível - e que gerou no processo uma obra bastante funcional -, a solução encontrada pelo diretor James Wan e seus parceiros no roteiro Carey Hayes, Chad Hayes e David Johnson foi a de não manter-se preso às restrições do original. O que sua sequência faz é justamente encaixar o exercício em um contexto, com o objetivo de aumentar a tensão e os sustos. Assim, o casal de investigadores paranormais Ed (Patrick Wilson) e Lorraine Warren (Vera Farmiga) não mais precisa ajudar uma família dona de uma velha e isolada mansão mal-assombrada nos pântanos estadunidenses, mas sim uma assombrada por uma entidade dentro de uma casa típica dos subúrbios da Inglaterra do governo de Margaret Tatcher. 

Ainda que se deixe afetar por esse encaixe histórico (fica claro do princípio a busca da trama por uma afinidade entre o caso e as medidas individualizadoras da Dama de Ferro), a estrutura permanece tão lúdica quanto a do primeiro capítulo. Wan aproveita o cenário no qual a trama se situa como elemento de potencialização de seu terror, principalmente na primeira metade do longa, onde precisa estabelecer a criatura da vez e suas vítimas - no caso a mãe divorciada e trabalhadora Peggy Hodgson (Frances O'Connor) e seus filhos, incluindo a pequena Janet (Madison Wolfe) que serve de interesse da vez ao demônio.

Fartos na narrativa e onde Invocação do Mal 2 pode exercer de fato o que se espera dele, esses momentos são os melhores do filme, aliando os excessos de estilo de seu diretor com uma paixão escancarada pelo gênero para criar o horror de sua história. Além de repetir os jogos de visão do espectador por movimentos de câmera muito mais perceptíveis (e em alguns casos até com maior sucesso, a exemplo de toda a sequência envolvendo o quadro na casa dos Warren), Wan também mostra maior conforto nas referências que faz  aos ícones visuais do terror, capazes de enriquecer a experiência pela simples lembrança. Essa iconografia, presente também no original e no derivado Annabelle e que aqui faz referência a longas célebres como O Iluminado, O Exorcista e Horror em Amityville, é o que no fim a agora franquia parece trazer de novo ao gênero, numa tradução encantadora de sua própria cinefilia.

É uma proposta admirável, mas que não esconde do público a má resolvida conexão desta com o viés "família" que o longa segue conforme se aproxima do fim. Embora siga a cartilha e quebre as relações entre os personagens para torná-los - junto com o espectador - suscetíveis à influência do espírito que os assombra, Wan ainda possui alguma esperança na unidade familiar como salvação, e não se resguarda em manter essa chama acesa em cenas como a de quando Ed Warren canta Elvis para as crianças. Nem todo terror precisa terminar de maneira pessimista, é verdade, mas por funcionar na incerteza ele não é capaz de comportar a confiança de que tudo vá dar certo enquanto acontece - algo pelo qual o filme não está disposto a abandonar.

Isso, em parceria com o caráter episódico com o qual a franquia se encaminha para adotar como característico, talvez impeça Invocação do Mal 2 de realmente materializar o horror ao qual se dedica, reduzindo-o a uma casa de sustos mais elaborada. Uma estrutura que se desgasta com rapidez, mas que não deixa de ser divertida quando em mãos certas, seguras e dispostas a fazer a manutenção necessária para manter as coisas interessantes.

Nota: 7/10

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