quinta-feira, 16 de junho de 2016

Crítica: Como Eu Era Antes de Você

Conto de Bela e a Fera tem no conforto seu modo de operação.

Por Pedro Strazza.

Assim como todo romance adolescente dos dias de hoje, Como Eu Era Antes de Você parte de uma tragédia mais ou menos anunciada. Vítima de um atropelamento de moto que lhe tirou os movimentos do corpo há dois anos, o herdeiro milionário Will Traynor (Sam Claflin) tem uma vida depressiva e isolada, preso a uma cadeira de rodas que detesta e uma rotina difícil de dores e medicamentos. Para auxiliá-lo nas tarefas do dia-a-dia, seus pais contratam a alegre e vibrante Lou Clark para ser sua ajudante, e estando disposta a trazer alguma alegria a ele não demora muito para os dois se apaixonarem.

É uma situação de opostos que rapidamente se configura no filme de Thea Sharrock e se revela como principal mote para esta elaborar e entrelaçar seus protagonistas. Baseado no livro homônimo de Jojo Moyes (que também assina o roteiro da adaptação), o longa busca deixar claro do princípio essa sua estrutura típica dos romances com toques de Bela e a Fera, com uma espécie de homem "ideal" amaldiçoado e afastado da sociedade que tem seu mau agouro desfeito por uma bela, inocente e humilde donzela (também o ponto de vista do espectador na história) mesmo os dois possuindo nada em comum a primeira vista. Uma posição bastante confortável, diga-se de passagem.

Sharrock se contenta em executar a trama de forma mecânica, presa a uma narrativa que não permite grandes arroubos criativos ou sequer inspirados. O filme se basta no jogo romântico que faz entre Will e Lou, sem se dedicar muito a apresentá-los no começo como forma de manter seus perfis antagônicos em maior evidência - ele com seu semblante triste, culto, de elite e representante da morte (algo um pouco problemático se pensar que sua depressão após o acidente é natural e o longa trata isso como exceção, mas Claflin sabe disfarçar o problema com uma atuação entretida em materializar o seu lado Fera), ela sempre otimista, de gosto popular e com um guarda-roupa berrante, colorido e bastante representativo da espontaneidade da vida -, e se prende a isso até o fim. A diretora bem tenta desenvolver uma dinâmica visual capaz de retratar o trauma de Will com o toque (e o momento no qual seu antigo amigo, após revelar que irá se casar com sua ex-namorada, se despede dele colocando a mão em seu ombro é bem representativa disso), mas os mecanismos da fórmula ao qual se submete não a permitem ir muito além na proposta.

A bem da verdade, a única mudança de eixo que Como Eu Era Antes de Você busca realizar aqui é o da transformação final, antes dada à criatura e nesse caso conferida à garota. Uma reforma simples da fórmula, com seu encanto por proporcionar uma moral libertadora e um pouco mais interessante que o habitual, ideal para unir casais pelo típico amor trágico dos jovens. A comodidade chama mais alto nesse caso, mas a produção parece estar tranquila quanto a essa decisão.

Nota: 4/10

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