segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Crítica: Saga (Volume 2)

O gato e rato de Vaughan e Staples segue em sua primorosa trama disfarçada de simplicidade.

Por Marina Ammar.

Deixando o leitor na curiosidade no fim de seu primeiro volume, Saga inicia a continuação de sua história por uma retrospectiva da infância de Marko, mostrando um pouco sobre sua criação e a relação com seus pais – que, paralela a outras, criará nesse volume um tema de laços familiares.

Seja com Marko e seus pais, Marko e Alana (com ou sem a pequena Hazel), na relação entre O Querer e a menina que resgata, ou mesmo do escritor contando do filho que perdeu no conflito entre Aterro e Grinalda, o segundo volume desacelera – sem perder a urgência – sua questão “Papa-Léguas” para desenvolver a apresentação ao lado humanizado do conflito, fornecendo receios, medos e ansiedades igualmente à protagonistas e antagonistas, criando assim um equilíbrio excelente entre as forças envolvidas onde nenhum lado jamais será o humilhado Coiote.

Ambos os lados sofrem, erram, e também avançam, mantendo a perseguição com interessante com exímia habilidade do roteiro de Brian K. Vaughan, que em união com a arte de Fiona Staples, que cria força em seus momentos de expressão, tanto facial quanto corporal, gera mais aberturas para a relação entre leitor e personagens, expandindo a experiência de se imergir da urgência da fuga do casal, mas também na urgência em pegá-los de cada um de seus perseguidores.

E essa é a melhor parte. Apesar de apresentados como os protagonistas, e de serem um símbolo devido à sua condição matrimonial e a existência de Hazel, Marko e Alana não são heróis. O argumento é reforçado no arco que apresenta os dois, contando como se conheceram, e mais tarde, sobre a concepção de Hazel, expondo ainda mais a condição de casal jovem, inexperiente e impulsivo, que apesar de não estarem errados, tampouco são os donos de todas as verdades que afetaram e afetarão no decorrer da história.

Com isso, e a humanização ainda maior dos perseguidores e de suas causas individuais, Saga 2 elimina de sua narrativa a condição preto e branca de herói e vilão: existem perseguidores e perseguidos, e cada um deles defende os próprios princípios, as vidas que amam, e as próprias, permitindo que o leitor torça para quem desejar, enquanto Vaughan procura, por meio de argumentos inteligentes e aguçados, defender Marko e Alana como aqueles que merecem torcida.

Mantendo, portanto, sua capacidade de disfarçar tramas complexas em acontecimentos simples e bem posicionados, o volume 2 de Saga avança ainda mais fundo em sua perseguição e nas consequências desta, desenvolvendo ainda mais o mundo ao redor, apresentando novos personagens, – Gwendolyn, a ex-noiva de Marko, e o escritor do adorado livro na estilística “Romeu e Julieta” disfarçado de literatura “de banca” de Alana, D. Oswald Heist, são surpreendentes tanto em design quanto na participação que tem e prometem ter na trama – novas criaturas, e novo maquinário, sem nunca expor de forma tediosa e escancarada.

Cada novo elemento segue ao longo da linha narrativa principal, e seu momento de entrada definitivo é sempre suave. Nada necessita explicação além daquilo que é fornecido, ou que virá a ser, e assim como flui a caçada atrás de Marko e Alana, flui a criação do universo do quadrinho que continua a executar de forma exímia sua proposta, e nos convence ainda mais que será capaz de se tornar um novo e memorável épico da Era Contemporânea.

Nota: 9/10

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