segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Crítica: Olmo e a Gaivota

Retrato de gravidez aproveita-se pouco do material à disposição.

Por Pedro Strazza.

É de um ponto de vista mais íntimo que de início se estabelece Olmo e a Gaivota, com uma cena de seu primeiro ato que acompanha a protagonista Olivia Corsini fazendo um teste de gravidez. Ao invés de deixar subentendido a realização do exame, em movimentos de câmera que afastariam o espectador da personagem, a diretora Petra Costa e a codiretora dinamarquesa Lea Glob escancaram ao público o teste, em um plano frontal no qual evidencia o desconforto de Corsini em "fazer xixi no pauzinho".
Esse tipo de "ousadia" narrativa permeia a estrutura do filme, cuja mistura de elementos de documentário com os de ficção (presente também na estreia em longas de Costa, Elena) se constitui como seu atrativo mais imediato. Por essa estrutura inusitada, afinal, que a obra se aproxima de Olivia e seu marido Serge Nicolai, parisienses cuja relação amorosa e profissional (os dois trabalham na mesma companhia teatral) é abalada quando a gravidez dela a impede de trabalhar em uma releitura de uma peça de Tchekov que irá para os Estados Unidos. Presa nove meses em casa por causa da gestação, Corsini começa a entrar em crise.
Daí em diante, o filme se dispõe a acompanhar a longa gravidez da protagonista, se aprofundando nas sensações vividas por esta enquanto a barriga cresce. As suas angústias, na realidade: em quase uma hora e meia, Costa usa da extrema aproximação que proporciona na narrativa entre espectador e personagem para evidenciar no primeiro os dilemas vividos pela segunda oriundos do caráter enclausurador de tal processo.
Nesse ponto, Olmo e a Gaivota funciona bastante bem. Com a câmera quase sempre próxima de Olivia e a combinação entre real e imaginário a seu dispor, o longa realiza um retrato bastante íntimo sobre a relação da mulher com o mundo ao seu redor quando engravida, sem pesar moralismos intrínsecos da sociedade neste processo. A grávida, aqui, despe-se de quaisquer simbolismos para ter seu indivíduo tornado o principal foco da produção, sem o julgamento representativo da ficção ou o registro de segundas intenções do documentário.
A solução encontrada por Costa para driblar tais problemáticas, porém, soa limitada por não encontrar algo que sustente toda a estrutura da obra fora disso. Sem objetivos maiores além de criar o retrato de tal estágio reprodutivo, o filme acaba por se fazer supérfluo, incapaz de arranjar um ângulo que seja capaz de usar da gravidez para alcançar outras ideias. Nota-se bastante isso na maneira como o documentário pouco se utiliza da relação de Olivia com o trabalho ou seu marido, em cenas e diálogos que menos ressaltam essas questões na situação vivida por ela e mais a forma com a qual a diretora filma aquilo, como bem indica a sua interrupção na discussão do casal e a consequente proposta de uma nova encenação para tal.
Assim, embora excelente como relato, Olmo e a Gaivota acaba vazio por não ousar fazer algo a mais da história. Por mais que as intenções de Petra Costa sejam as melhores (e elas se realizem como planejado), falta a ela aproveitar-se do que tem para tirar algo a mais de suas obras - e no processo fazer melhor aproveitamento da narrativa inusitada que propõe.

Nota: 6/10

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