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segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

Crítica: Os Oito Odiados

Com caldeirão social efervescente, Quentin Tarantino quebra mais um alicerce americano.

Por Pedro Strazza.

A essa altura da carreira, Quentin Tarantino já deve ter deixado claro para qualquer espectador que ele trabalha no cinema para desconstruí-lo em seus ideais. Das pin-ups que se revoltam contra o macho que as oprime de À Prova de Morte aos faroestes protagonizados por mulheres e negros - esses tipos relegados nos clássicos a servir o homem branco em seus afazeres heroicos - nos dois volumes de Kill Bill e em Django Livre, o diretor e roteirista assumiu para si na carreira essa tarefa de questionar os alicerces da mitologia estadunidense sem contudo nunca assumir filiação a qualquer movimento social de igualdade, bem a exemplo da polêmica com seu uso desenfreado da palavra "nigger" em Django e que continua a persistir em Os Oito Odiados junto agora de inúmeros "bitch".

É nesse tão alardeado oitavo filme da carreira, por sinal, que o cineasta parte de fato para a desconstrução definitiva do cinema americano em sua essência, no arquétipo mais utilizado pelas artes do país e que continua a persistir nos moldes atuais. Mais uma vez no faroeste e tirando a poeira acumulada dos filmes cabin fever na mesma intensidade que faz com a fotografia em 70mm, Tarantino vai atrás do questionamento ao tão celebrado herói americano, aquele cujos feitos revolucionam o mundo um salvamento de mocinha de cada vez.

É um assunto que se anuncia desde o início nos aspectos técnicos, nas pequenas coisas que o diretor reafirma seu amor a cada novo projeto. Além dos "gloriosos" 70mm que o cineasta usa para mergulhar o espectador no imenso deserto branco das paisagens de inverno (e mesmo cortadas pelas adaptações para o formato convencional dos cinemas comerciais encantam da mesma maneira), Tarantino deixa claro o caráter revisionista de seu faroeste em elementos como a trilha sonora de Ennio Morricone e o design de produção, feitos para emular nos objetos e no uso constante de instrumento de sopro mais graves o clima de leve tensão que aos poucos domina a cabana onde os personagens se abrigam durante uma forte nevasca.

Mas por que essa tensão crescente? Além de toda a situação envolvendo o desconfiado caçador de recompensas John Ruth (Kurt Russell) em proteger sua criminosa aprisionada Daisy Domergue (Jennifer Jason Leigh) de quaisquer investidas da gangue à qual ela pertence e de outros caçadores interessados no prêmio oferecido pela cabeça dela em um lugar em que confia em ninguém, o casebre em que ocorre grande parte dos eventos de Os Oito Odiados serve como caldeirão para a reunião dos mais diferentes tipos sociais do cinema estadunidense, que por serem naturalmente opostos entre si acabam por dar início ao banho de sangue conhecido dos filmes de Tarantino.

Mulher, negro, imigrante prestigiado e desprestigiado, vaqueiro, confederado, xerife... boa parte desses tipos representam indivíduos marginalizados ou criminalizados na sociedade americana, enquanto a outra é posta no pedestal pelos bons modos e uma "mente superior", e ambos assim sendo pintados na sétima arte. Todos odiados, todos julgados no longa como seres desprezíveis em seus preconceitos e atos de violência exarcebados - e é alarmante isso na cena em que Russell dá um murro na boca de Jason Leigh, onde Tarantino filma sem glorificar a pancada, numa medida rara e quase única na carreira de repudiar a agressão. Todos, porém, ajudaram a consolidar os Estados Unidos como conhecemos, e seu reconhecimento ou a falta dele são o que geram os conflitos do filme.

Tarantino, porém, não se interessa somente em pô-los em rota de colisão para gerar caos e destruição como também em pé de igualdade. É comum (e estranho) ver na fotografia de Robert Richardson (frequente colaborador dos filmes do diretor) planos que ponham em pé de igualdade os diferentes personagens de diferentes sexos, cores ou idades, seja nos diálogos rápidos ou nos planos mais gerais. Mesmo a presença fantasmagórica do presidente Lincoln, homem conhecido por querer unir os povos em seu governo e aqui o grande tesouro na forma de uma carta, surge para reforçar no filme esse desejo escondido e cheio de esperança em meio à tempestade que se forma.

O conflito, entretanto, é algo inerente aos filmes do cineasta e também a melhor solução para resolver os problemas, e o sangue logo começa a jorrar. A grande questão é: O que vai surgir desse caldo social de diferentes temperos?

Pois é por meio do caldeirão efervescente de traições e tiros que emerge o herói americano, mas dessa vez não da forma que se espera. Em Os Oito Odiados, enquanto o maior vilão é o homem branco emasculado (não à toa interpretado por Channing Tatum, experiente no ramo desde Magic Mike), o mocinho termina por ser justamente o xerife interpretado por Walter Goggins, que em sua mentalidade confederada, racista e misógina e mesmo na figura franzina é a antítese de tudo aquilo que se espera desse arquétipo. O grande conflito final, na verdade, não é se ele se rende às ofertas tentadoras de Daisy ou permanece ao lado da justiça e do caçador de recompensas interpretado por Samuel L. Jackson (tanto o maior espectador do debate como também figura odiosa), mas sim o do espectador em se afiliar àquele sujeito em sua batalha contra "o mal".

Enquanto isso, é inegável que Tarantino esteja se divertindo a valer em seu épico desconstrutivo. O problema é ele acabar por deixar transparecer demais seus acessos de alegria com a violência: as explosões de sangue ocorridas no longa, mais viscerais do que nunca em sua filmografia graças ao ótimo trabalho de efeitos visuais, acabam por deixar o diretor se deixar levar demais pelo seu tesão, e por sua vez permite que certos sadismos seus cheguem à superfície e se mostrem inadequados socialmente. Misoginia e racismo aparecem nesses momentos de explosão de agressividade, ainda que no mesmo tom de ato involuntário no uso do velho clichê de colocar a mulher como representação do pecado - e também sendo bastante divertidos, como no ato irônico de ambientar o grande confronto de Samuel L. Jackson com o confederado interpretado por Bruce Dern em um "Noite Feliz" tocado no piano.

Assim, entre canos fumegantes, jorros de sangue na cara de seus personagens e vícios de linguagem mais controlados (o close nos pés dessa vez ocorre em pessoas calçadas), que Tarantino caminha a passos largos para se tornar o grande bastião desse esforço de questionar e demolir os antigos arquétipos hollywoodianos. O herói, que a princípio parece ser o homem mais paranoico e de objetivo mais claro - o dinheiro, claro - no grupo, com velocidade passa a ser na visão do cineasta o homem mais desprezível e sem meta real alguma, que por alguma razão continua a ser o homem pelo qual espectador torce para que tome a decisão certa.

Mas se ele termina amigo daquele que mais despreza, em pé de igualdade com este, é sinal de que melhorou o suficiente para aceitá-lo neste papel. Ou pelo menos é isso que o diretor leva o público a crer.

Nota: 9/10

Preview 2016: Cinema

O que 2016 promete no mercado cinematográfico?

Por Pedro Strazza.

Como já dito no Melhores do Ano, 2015 foi um ano de reinícios e tentativas de adaptação. Enquanto grandes franquias de antigamente buscaram o retorno, a discussão sobre a mulher no cinema guiou os rumos da sétima arte em todos os sentidos, na tentativa de quebrar paradigmas há tantos séculos erguidos e nunca alterados pela indústria.

Mas como isso irá se comportar 2016? A princípio, é natural considerar que os dois tópicos do ano passado continuem - e irão mesmo continuar - reverberando nas grandes e pequenas produções dos próximos 365 dias.

O ano que se inicia, porém, também promete trazer duas vertentes importantes para o mercado, pelo menos no que se refere ao calendário de blockbusters hollywoodianos de 2016. A primeira envolve o ápice da "Era dos Super-Heróis", que com a ajuda dos atuais três maiores estúdios responsáveis pelos rumos do subgênero (Disney/Marvel Studios, Warner e 20th Century Fox) irá desembarcar nada menos que seis grandes produções ao longo dos próximos doze meses. Será em média um filme de super-herói a cada sessenta dias, o primeiro teste das adaptações de quadrinhos como líderes desse mercado e contra o  seu inevitável inchaço - que a passos lentos começa a se aproximar.

A segunda, também relevante, é o ato inaugural dos spin-offs de milionárias franquias, que com o advento de Rogue One: A Star Wars Story e Animais Fantásticos e Onde Habitam - e estimulados pelos números razoáveis de Creed - Nascido Para Lutar - tentam trazer os mesmos números do passado apostanto na estratégia da Marvel Studios. Depois do leve desapontamento com os prelúdios, os grandes estúdios de Hollywood ficarão bastante atentos ao desempenho destes dois derivados nas bilheterias, cujos resultados serão decisivos para o futuro dos blockbusters. Em caso de sucesso, é de se esperar a disseminação de histórias ambientadas em universos conhecidos do público para os próximos anos; se fracassarem, é mais uma porta que se fecha para Hollywood em sua eterna procura por enormes quantias de dinheiro.

De resto, quem sabe o que acontecerá? 2016 decididamente será um ano interessante, e as próximas dezoito produções são prova cabal disso.

Bom lembrar:
  • TODAS os filmes presentes nessa lista tem estreia marcada para depois do mês de janeiro. Dessa maneira, evita-se eventuais sobras do ano anterior como Os Oito Odiados, Steve Jobs, Carol etc.
  • As produções aqui listadas estão organizadas por ordem de gosto pessoal, e não por serem "os filmes mais esperados pelo público em 2016". Seria uma presunção enorme de minha parte acreditar que minhas preferências cinéfilas são reflexo direto do público. Além disso, tomar uma medida dessas incluiria eu acrescentar filmes como Deadpool, Warcraft - O Primeiro Encontro de Dois Mundos e Procurando Dory, que de início não aguardo ansioso como muitos devem estar.
Vamos a eles:

16) Knight of Cups

Depois da natureza, Terrence Mallick vai à cidade. O diretor de Além da Linha Vermelha e do premiadíssimo Árvore da Vida se junta a Christian Bale, Cate Blanchett, Natalie Portman e o badalado diretor de fotografia Emmanuel Lubezki para filmar mais uma de suas histórias, agora situada nos "palácios do cinema" de Los Angeles. Se isso vai ser bom ou ruim...
Previsão de estreia: 14 de abril (sujeito a mudanças)

15) Orgulho e Preconceito e Zumbis

Já há um tempo em produção, a adaptação da paródia do clássico de Jane Austen finalmente sairá do papel em 2016... e parece ser algo divertido! Com nomes conhecidos no elenco (Lily James, Matt Smith, Charles Dance!) e uma disposição a fazer humor sem ser escrachado, o longa do diretor Burr Steers pode ser o terrir trash que todos nós estamos precisando.
Previsão de estreia: 4 de fevereiro (sujeito a mudanças)

14) Mogli - O Menino Lobo

Eu sei que a essa altura é difícil de ser otimista com os live-action de contos de fada, mas no ano em que teremos Alice Através do Espelho (ugh) também estreia essa nova adaptação de Mogli, que comandada por Jon Favreau (uma face de dois gumes, bom lembrar) é a nova grande promessa do nicho. O visual dos animais estão incríveis, pelo menos.
Previsão de estreia: 14 de abril

13) Vizinhos 2

O primeiro Vizinhos surpreendeu em 2014 com ótimas piadas e um tipo de conflito difícil de se ver bem executado em comédias. Dois anos depois, a vida do casal vivido por Seth Rogen e Rose Byrne volta a ser incomodada por uma fraternidade de faculdade, agora comandada por Chloë Grace-Moretz e Selena Gomez. Com Nicholas Stoller e Rogen respectivamente de volta à direção e o roteiro, tem como dar errado?
Previsão de estreia: 19 de maio

12) Invocação do Mal 2

Enfim é o ano da tão esperada sequência do terror de casa assombrada que liderou o gênero em 2013. Com os retornos de Vera Farmiga, Patrick Wilson e o diretor James Wan, espera-se de Invocação do Mal 2 o mesmo nível de qualidade nos sets de horror e tensão, pronto para deixar qualquer espectador suando frio e assustado em sua cadeira.
Previsão de estreia: 9 de junho

11) Zootopia - Essa Cidade é o Bicho

Atualmente em uma boa sequência (desde Detona Ralph que o estúdio não erra?), as animações da Disney trazem mais um representante em 2016 que promete ter o mesmo nível de criatividade de tantos outros trabalhos do departamento. Situado em um mundo de animais antropomorfizados, Zootopia parece seguir o caminho das histórias policiais com os toques multicoloridos do estúdio, com a famosa lição bonitinha no final. E pelo trailer, as risadas estão garantidas.
Previsão de estreia: 18 de fevereiro

10) Assassin's Creed

Outro filme que já tá pra sair há um tempo, o primeiro capítulo nos cinemas da série de games Assassin's Creed chega esse ano com um time até que invejável. Além do diretor Justin Kurzel (que vem de uma adaptação de Macbeth cheia de firulas e pouca substância), o filme conta no elenco com estrelas de primeiro porte como Michael Fassbender, Marion Cotillard e Brendan Gleeson, todos preparados para contar uma história inédita da franquia nas telonas.
Previsão de estreia: 22 de dezembro (sujeito a mudanças)

9) O Bom Gigante Amigo

Depois de fazer três filmes que emulavam os clássicos estadunidenses, Steven Spielberg volta à fantasia em sua primeira parceria com a Disney, numa história que envolve gigantes e crianças. Difícil de não empolgar.
Previsão de estreia: 8 de setembro

8) Batman Vs Superman - A Origem da Justiça/Capitão América - Guerra Civil/X-Men - Apocalypse

2016 decididamente é o ano dos apocalipses nos filmes de super-herói. Batman e Superman se confrontam para depois criar a Liga da Justiça com Mulher Maravilha (que faz sua estreia nos cinemas e pode ser uma das grandes personagens do ano); Capitão América e Homem de Ferro lutam entre si para decidir se os heróis serão controlados pelo governo enquanto estabelecem no Universo Marvel o Pantera Negra e o Homem-Aranha (dois personagens que podem se destacar no ano); e os X-Men literalmente enfrentam o fim do mundo na figura de Apocalipse enquanto introduzem mais uma vez alguns de seus integrantes mais famosos (personagens que podem... ok, nesse caso não).

De tanta destruição e sofrimento, eu só espero que não canse e fique chato.
Previsão de estreia: 24 de março/28 de abril/19 de maio

7) Independence Day - O Ressurgimento

O diretor Roland Emmerich pode ter feito muita bobagem nesses últimos anos (e não foi pouca), mas voltar a Independence Day pode ter sido sua melhor ideia. Com boa parte do elenco retornando - acho que só faltou o Will Smith mesmo - e com escala de destruição multiplicada, O Ressurgimento é o tipo de épico combinado a filme de desastre que soa divertido em essência. É torcer para que isso ocorra.
Previsão de estreia: 23 de junho

6) Ave, César!

Os Irmãos Coen estão de volta à direção e à comédia, em um filme situado na era de ouro de Hollywood e com grande elenco. Tem como não ficar animado???
Previsão de estreia: 10 de março (sujeito a mudanças)

5) Animais Fantásticos e Onde Habitam

Mais de cinco anos depois do fim da saga, o bruxo mais famoso da atualidade retorna às telonas... em parte. Baseado no livreto "teórico", Animais Fantásticos e Onde Habitam é tanto o primeiro esforço da franquia Harry Potter em expandir seu universo como a estreia de J.K. Rowling na redação de roteiros, em um filme que promete ser um suspense atmosférico de época com magia e criaturas famosas. Com David Yates de volta à direção (e pela primeira vez sem o nada criativo roteirista Steve Kloves para incomodá-lo) e forte time de atores e atrizes liderado pelo queridinho do público Eddie Redmayne, é o tipo de filme que pode surpreender em sua proposta.
Previsão de estreia: 10 de novembro

4) Esquadrão Suicida

Se no casting o filme não o convenceu, no trailer com certeza o fez. Comandado por David Ayer, a primeira incursão do Esquadrão Suicida nas telonas é a real grande promessa da DC para 2016, já que com personagens desconhecidos e consequente menor pressão de adaptação o filme pode surpreender mais o público - que já vai pagar o ingresso mesmo para ver o novo Coringa dos cinemas. E dado que Ayer sabe trabalhar com elencos inchados e dirigir ação (só ver Corações de Ferro), o longa tem bastante espaço para crescer.
Previsão de estreia: 4 de agosto

3) Doutor Estranho

Apesar de estar cada vez mais preso à fórmula que criou, a Marvel Studios tem em 2016 uma boa chance de se renovar com a estreia de Doutor Estranho nos cinemas. Contando com um diretor oriundo do terror, Scott Derrickson, e um elenco mais forte que o normal (Tilda Swinton? Chiwetel Ejiofor? Rachel McAdams? Mads Mikkelsen?), a primeira incursão do personagem interpretado aqui por Benedict Cumberbatch promete psicodelia e ideias loucas, algo que pode ser muito bem vindo ao Universo Cinematográfico Marvel depois de tanta repetição e produtos que, tirando algumas exceções, não escapam do mediano.
Previsão de estreia: 3 de novembro

2) Rogue One: A Star Wars Story

O episódio VIII ainda está um pouco longe de sair, mas Star Wars volta de novo às telonas em 2016 com um experimento diferente. Pela segunda vez apostando no formato de derivado (ou terceira, se contar o piloto cinematográfico de Clone Wars), a saga de fantasia investe numa história mais sóbria que Caravana da Coragem, contando a história dos rebeldes que foram responsáveis pelo roubo dos planos da Estrela da Morte original. O primeiro ponto forte do filme, deixando de lado os bons atores, é a escolha do diretor Gareth Edwards, que como provado no último Godzilla sabe muito bem ajustar a proporção de suas histórias na telona - algo que um filme paralelo à linha de eventos principal precisa saber fazer.
Previsão de estreia: 15 de dezembro

1) As Caça-Fantasmas

A princípio, o remake de Os Caça-Fantasmas parece ser o filme que vai fazer jus aos ensinamentos de 2015. Com um diretor que sabe fazer piada com os machismos da sociedade (Paul Feig, de Missão Madrinha de Casamento e A Espiã que Sabia de Menos) e um time só de mulheres - todas comediantes e que incluem as ótimas Melissa McCarthy e Kristen Wiig - auxiliados por um secretário interpretado por Chris Hemsworth (fantástico!), o filme parece ter o mesmo espírito marginal dos dois antecessores, disposto a enfrentar as hipocrisias da sociedade com muito humor. E isso é o tipo de coisa que o cinema precisa.
Previsão de estreia: 14 de julho

quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

O Cinema em 2015: Melhores do Ano

Os melhores filmes de 2015 e alguns rankings.

Por Pedro Strazza.

2015 foi um ano de mudanças (ou da tentativa de) no cinema convencional que a grande maioria dos espectadores conhece e frequenta regularmente.

Foi um ano em que o passado voltou com força, recauchutado e pronto para buscar o domínio das bilheterias. Grandes franquias de outrora (Jurassic Park, Star Wars) estouraram mais uma vez na bilheteria, mas muitas outras (Férias Frustradas, Exterminador do Futuro) fracassaram financeiramente por não conseguirem se adaptar à realidade diferente ao qual se propuseram. Ao mesmo tempo, o faroeste e a space opera aos poucos ensaiam um retorno, não à velha forma mas querendo maior espaço na dinâmica de projetos cinematográficos que o que tem nos dias de hoje.

O ano também será marcado pela contestação, principalmente em direção à participação das mulheres nos filmes e no mercado. No mesmo ano em que a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas foi amplamente criticada pelo seu ano mais branco e masculino da História, a emancipação de personagens como Imperator Furiosa, Rey e Ilsa Faust comandaram um amplo debate no cinema de ação, questionando em caráter amplo a maneira como o gênero retrata a mulher em suas obras, como foi o caso de Jurassic World e suas alegorias de tom misógino. Por outro lado, também se evidenciou muito na Hollywood dos "sonhos que viram realidade" a participação da mulher no mercado cinematográfico, aonde ainda se impera o homem branco.

Essas são questões que não serão resolvidas na virada do ano, e que devem ser continuadas em 2016 em assuntos como a ausência de uma mulher indicada ao Oscar de Melhor Fotografia em toda a história do prêmio (e que alguns torcem para ser quebrada com a nomeação de Creed - Nascido Para Lutar à categoria) ou o novo filme dos Caça-Fantasma, agora um time composto só por mulheres.

No caso do Melhores do Ano, essas questões se refletem tanto na injustiça quanto na correção históricas. Ainda que o número de filmes protagonizados por mulheres tenha aumentado - dos 25 melhores desse ano, 11 tem protagonistas mulheres e 14 possuem personagens femininas interessantes e relevantes à construção da trama, batendo as 7 e 10 de 2014 - o número de longas dirigidos por mulheres nos 50 primeiros do ranking é de apenas quatro (Jane Pollard, Anna Muylaert, Ava DuVernay e Mia Hansen-Løve), e todo o resto é comandado por homens brancos.

São conceitos a serem repensados para os próximos anos, de forma que proporcione igual espaço para todos os gêneros. 2015 foi, afinal, um ano para isso: repensar.

Dito tudo isso, vamos à lista dos Melhores do Ano. A lista desta vez engloba 25 produções ao invés de seguir o arco crescente do site (13 em 2013, 14 em 2014...), de forma a abranger um maior número de grandes filmes que marcaram o ano que passou. Como em 2014, libero o ranking de filmes completo ao final da contagem, com um extra de doze Top 10, um para cada mês do ano. O critério é simples: se o filme estreou no circuito comercial brasileiro nos últimos 365 dias e eu o assisti, ele entra. Caso contrário, fora.

Também é bom observar que pela primeira vez incluo as revisões de nota em alguns dos filmes presentes no ranking. Como a redação de críticas pede urgência, alguns dos filmes acabam não recebendo o tempo de digestão (aquele período em que o filme permanece na sua cabeça) necessário, e ganham notas mais baixas ou mais altas pela interrupção súbita deste processo. No decorrer do ano, fui fazendo essas revisões, e as produções que por um acaso acabaram com notas diferentes da original estão indicados no ranking com a nota atual e a antiga.

ENFIM, vamos a eles:

25) Perdido em Marte

Ainda que tenha como norte a legitimidade científica do processo de sobrevivência empreendido pelo protagonista, Perdido em Marte é um filme que acima de tudo se beneficia de seu ingênuo lado cômico, incomum aos dramas (ou em alguns casos, terrores) de isolamento ao qual ele se adequa. É por ele que o diretor Ridley Scott - aqui quase no lado oposto ao de seus dois maiores trabalhos, Alien e Blade Runner - consegue estabelecer o resgate ao astronauta perdido em Marte como uma verdadeira ode à sociedade, ao coletivo que pelos esforços conjuntos de inúmeros indivíduos propicia a realização de uma ação que a princípio seria impossível de ser completa.

24) Dívida de Honra

Faroeste revisionista puro, Dívida de Honra é curioso na maneira como aborda a relação da mulher com o gênero. Tão sagaz na direção quanto como ator, Tommy Lee Jones usa da jornada de travessia empreendida por seus protagonistas para questionar constantemente a posição ocupada pelo gênero feminino em tais filmes, ao mesmo tempo que desconstrói o sonho de enriquecimento proporcionado pela viagem ao oeste daqueles tempos. Jones, porém, realiza esse processo com sobriedade: seu filme não busca revolucionar tais relações, mas somente de constatá-las com um quê de tristeza na voz.

23) Cássia Eller

Dos retratos documentais lançados em 2015, o voltado para a cantora Cássia Eller foi um dos que melhor funcionou na proposta. Não apenas por fazer o ato de reverência à intérprete de tantos sucessos como Malandragem e O Segundo Sol, o filme de Paulo Henrique Fontenelle se destaca de outros por ir além do ídolo em pauta e analisar o ser humano por trás desta, sem contudo esquecer de tentar desvendar o porquê do objeto de estudo ser tão querido por amigos, familiares e fãs. Cássia Eller é um triunfo no que diz respeito à emoção e objetividade, respeitoso e ao mesmo tempo brutal.

22) Dois Dias, Uma Noite

Guiado basicamente pela atuação de Marion Cotillard, o mais recente filme dos Dardenne é simples mas ao mesmo tempo bem elaborado. Pelas viagens da personagem principal às casas de seus colegas de trabalho para salvar seu emprego, o longa consegue ser bem sucedido tanto na contextualização dos reflexos da economia na sociedade como no arco de superação da protagonista, ao qual Cotillard maneja com brilho. E pelas tremedeiras e surtos de depressão de uma mulher frágil, Dois Dias, Uma Noite sai do simples e atinge o complexo.

21) Nick Cave - 20.000 Dias na Terra

É um tanto inesperado que, em um documentário sobre um músico, o próprio adote a câmera e a não use para amaciar seu ego. Abandonando por completo o ato de reverência, 20.000 Dias na Terra parte de uma crise individual do protagonista, e funciona por não esquecer de levar o espectador para dentro deste. As reflexões e saudosismos de Nick Cave, que poderiam soar como puro egotrip depressivo, se conectam e formam um panorama de aflições e inquietações fascinante, cujas dores tem um fundo de universal capaz de tocar qualquer tipo de espectador.

20) Phoenix

Se torna cada vez mais difícil de se realizar um grande filme sobre os efeitos da Segunda Guerra na sociedade, mas o alemão Phoenix prova que isso ainda é possível de se fazer. O filme, que segue uma desfigurada sobrevivente do Holocausto que, irreconhecível após uma cirugia plástica no rosto, sai em busca do marido suspeito de entregá-la aos nazistas, faz o caminho da busca pela identidade com sofisticação, criando o melhor retrato possível da combalida Alemanha e dos judeus no pós-guerra. Mas é no final que o longa, ancorado por uma atuação sublime de Nina Hoss, alcança sua potência máxima, em um clímax capaz de estraçalhar a alma em milhões de pedaços com um verdadeiro golpe de marreta.

E me perdoem os maus modos, mas puta que pariu Speak Low. Puta que pariu.

19) Corações de Ferro

Ainda no assunto de Segunda Guerra (mas agora voltado para o conflito em si), quem sabe muito bem conciliar ação com gênero e temática é o Corações de Ferro de David Ayer. O faroeste de guerra exercido pelo diretor aqui, em um filme sobre uma equipe de soldados responsável por um dos tanques estadunidenses, é visceral ao extremo, capaz de evidenciar os danos causados pelo conflito bélico no ser humano seja por suas movimentadas cenas de guerra ou em seus momentos mais parados, como na passagem do grupo por uma das casas de inocentes alemães. E conforme o público e o personagem de Logan Lerman adentram esse mundo, é inevitável que tal loucura tome nosso âmago de assalto e nos destrua por completo.

18) Mia Madre

Qualquer tipo de obra - cinematográfica ou não - que se disponha a analisar a temática da morte tende a levar o assunto como algo pesado, inevitável e parte de seu ser, num exercício de reflexão que geralmente acaba na egotrip. No caso de Mia Madre, essa noção é invertida. O italiano Nanni Moretti (que também atua no filme) conduz a história de uma diretora à beira de perder a mãe com sensibilidade, mais interessado nos efeitos de inevitável evento na vida da protagonista que nas considerações dela com seu próprio falecimento. Episódios como a da casa inundada e da carta desaparecida dão força à espiral de esgotamento apresentado, mas é no final "agridoce" que Moretti comprova a beleza de sua lógica.

17) Whiplash - Em Busca da Perfeição

No fundo um gigantesco exercício de narrativa e triunfo máximo de montagem, Whiplash instiga pelo ritmo quase frenético ao qual se rodeia. Com dois picos facilmente reconhecíveis pelo exalar automático que grande parte do público faz em seus finais súbitos, a estreia de Damien Chazelle em longa-metragens ainda conta com duas intensas atuações dos protagonistas Miles Teller e J.K. Simmons, que traduzem o monstruoso ritmo da obra em atuações extrovertidas ao extremo. Tudo pronto para explodir no clímax do terceiro ato, claro, que realiza essa entrega com satisfação notável.

16) Acima das Nuvens

A princípio parecendo estruturar-se como filme metalinguístico, Acima das Nuvens logo se transforma em uma das reflexões mais intrigantes sobre a passagem do tempo. A relação da personagem interpretada por Juliette Binoche com os papéis de uma peça e sua assistente (trabalhada maravilhosamente por Kristen Stewart) evocam uma sensação de impotência perante às forças maiores da vida como a natureza ou o tempo, que aqui soam suaves em sua implacabilidade. Não chega a ser um clichê, mas o fato do esquecimento ser o maior dos medos do ser humano é tratado pelo diretor Olivier Assayas com o tom desilusivo apropriado.

15) Star Wars - O Despertar da Força

Cercado de mistério e talvez da maior expectativa dos últimos vinte anos, o retorno de Star Wars às telonas cumpriu com seus objetivos de satisfazer a grande maioria de seus fãs de diversas gerações. A fórmula foi simples, mas ao mesmo tempo um grande reflexo da erupção nostálgica proporcionada por 2015: refazer o filme escapista que tornou clássico o primeiro capítulo da saga e atualizá-la ao panorama atual, sem contudo tornar isso uma missão. O resultado são sets de ação bem montados por J.J. Abrams e potencializados pelo retorno de personagens queridos do público sem ter medo de apresentar novos, capazes de tomar as rédeas da franquia e continuar o legado de entretenimento com compromisso que tornou célebre a marca.

14) O Ano Mais Violento

A fotografia com quê de Edward Hopper e que denota violência pelas beiradas já dá a dica do que o espectador irá encarar em O Ano Mais Violento. O retrato de uma máfia em franca decadência, guiado por grandes atuações de Oscar Isaac e Jessica Chastain, ressalta a solidão de nossas relações de maneira despercebida, não permitindo que esta ocupe a centralidade do palco nas dificuldades passadas pelo protagonista. E isso acaba por trabalhar a favor do longa, que apostando numa tensão que levemente se acentua para gerar expectativa em cima do fim de uma era - seja este gênero cinematográfico ou período histórico.

13) Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)

Existe um egocentrismo em Birdman? Sim, e não é pouco. Mas mesmo assim o vencedor do Oscar 2015 de Melhor Filme não deixa de ser interessante no retrato que faz do time mais conservador de Hollywood, incapaz de adotar os novos tempos e preferindo aqueles em que o teatro era o berço de promissores atores talentosos e o circuito comercial era símbolo de uma morte horrível. O filme de Alejandro González Iñarritu ainda se beneficia de um bem elaborado falso plano-sequência eterno e o trabalho formidável de Michael Keaton, oportunos em reforçar suas ambições mesquinhas em direção à indústria do cinema e do entretenimento. Está implícito na linha de diálogo de Macbeth mencionada por um mendigo: "Amanhã, e o amanhã, e o amanhã...".

12) A Pele de Vênus

É curioso (e divertido) ver como o polonês Roman Polanski usa de seu lado mais obscuro para produzir obras extremamente punitivas a esse seu eu. No excelente A Pele de Vênus, por exemplo, o cineasta realiza um questionamento relevante da relação machista entre autor e musa, mostrando culpabilidade em tal relação sem monopolizar as atenções. A dança final da personagem interpretada por sua esposa Emmanuelle Seigner, em torno do interpretado por Mathieu Amalric preso a um símbolo fálico, é desde já um dos grandes momentos do cinema na década de 2010.

11) Foxcatcher - Uma História que Chocou o Mundo

Contando com uma atuação de primeira categoria de Steve Carell, Foxcatcher usa da trajetória do milionário John du Pont e os lutadores greco-romanos Mark e Dave Schultz para fazer uma análise verdadeira e dura da realidade estadunidense. Em ascensão na carreira de diretor, Bennett Miller cria uma atmosfera pesada, que reflete o estado de decomposição do sonho americano pelas mãos da iniciativa privada. Não há heróis na narrativa, e a tal história que chocou o mundo é mera contestação desta problemática.

10) A Terra e a Sombra

Longa de estreia na direção do colombiano César Augusto Azevedo, o mais recente vencedor da Câmera de Ouro do Festival de Cannes é um panorama fundamental sobre a economia primária dos países latino-americanos, e mostra com eficácia os efeitos danosos da passagem da agricultura familiar para o agronegócio. O brilhante de A Terra e a Sombra, porém, é que ele não se entrega inteiramente a essa análise, mas usa dela para situar uma trama de relações familiares desgastadas e muito bem executada, que se aproveita do ambiente opressivo para desenhar conflitos subliminares que em nenhum momento soam pretensiosos. Sem contar, claro, o premiado trabalho de fotografia de Mateo Guzmán, que consegue captar toda essa dinâmica complexa em planos simples e de impacto.

9) Um Amor em Cada Esquina

Se em A Pele de Vênus a relação entre autor e musa era visto em tom de condenação, Um Amor em Cada Esquina realiza esse caminho de desconstrução pelo humor. Com o tom típico das comédias de Woody Allen, o diretor Peter Bogdanovich expõe o ridículo dessa conexão com primor, em cenas que atingem o absurdo sem perder o riso - e a cena no restaurante é um ápice delicioso deste processo. A melhor parte é que além do elenco estrelado e bem direcionado o cineasta ainda conta com o trabalho soberbo de Imogen Poots, cuja interpretação da protagonista prostituta que vira atriz dá vida à produção e suas boas intenções.

8) Ponte dos Espiões

Depois de duas tentativas desequilibradas, Steven Spielberg finalmente conseguiu fazer um filme aos moldes do cinema estadunidense clássico que se adequasse a seus próprios trejeitos. Com influências claras dos longas de Frank Capra, Ponte dos Espiões é um thriller com toques de humor refinado que se dispõe a analisar mais uma vez o espírito do herói americano, em um jogo de comparações bastante ressaltado na fotografia de Janusz Kaminski. Com Tom Hanks e Mark Rylance afiados, o roteiro de Joel e Ethan Coen chega a picos sem deixar o ritmo cair, e o longa concebe sua mensagem com a eficácia necessária.

7) Vício Inerente

Exclusivamente pautado na narrativa desconexa, a mais nova obra-prima de Paul Thomas Anderson comprova como é possível entregar grandes filmes oriundos de tal planejamento. A investigação conduzida pelo protagonista entregue às viagens alucinógenas de drogas é o ponto de partida para Vício Inerente abraçar a loucura e levar o espectador junto de si, sem medo de que este acabe entendendo absolutamente nada do que acontece em cena. A jornada enlouquecedora propiciada ao público a partir daí, pautada na realidade mas com leves toques de surrealidade, torna o longa numa dessas experiências difíceis de serem repetidas nos próximos anos.

6) A Visita

Talvez o primeiro filme a trazer um verdadeiro respiro de originalidade ao found footage desde a chegada do primeiro Atividade Paranormal, A Visita realiza uma das - senão a - mais bem sucedidas misturas entre gêneros cinematográficos opostos. O longa dirigido por M. Night Shyamalan  tem habilidade em elaborar todo o seu terror a partir da comédia, com pinceladas metalinguísticas que realizam comentários ácidos sobre o subgênero sem se intrometer demais na narrativa. E com a já previsível virada de roteiro dos filmes de Shyamalan acontecendo, o longa demonstra seu valor em um clímax de terceiro ato poderoso e aterrador por essência.

5) Um Pombo Pousou Num Galho Refletindo Sobre a Existência

Conjunto de esquetes elaborados em cenários geométricos, Um Pombo Pousou Num Galho Refletindo Sobre a Existência é fascinante na maneira como tira humanidade de um mundo frio povoado por pessoas frias. Interessado em questões humanas e filosóficas, o sueco Roy Andersson é capaz de fazer rir e meditar com as mais diversas situações, que vão da simples morte de um homem por fazer força pra abrir uma garrafa à complexa e gloriosa marcha de um exército que ruma triunfante à guerra - somente para retornar destruída. É o tipo de profundidade filosófica que para muitos deve soar pretensiosa, mas a outros ela evoca o choque e a contemplação, culminantes na antológica cena de um gigantesco instrumento musical que é alimentado por seres humanos para gerar um belíssimo som.

4) Missão: Impossível - Nação Secreta

O quinto capítulo da série Missão: Impossível foi um dos poucos filmes de grande orçamento de 2015 a conseguir equilibrar tão bem o seu lado lúdico e teórico. Ao mesmo tempo que preenche o longa com sets de ação inventivos e de sublime execução (e sem medo de pertencerem ao gênero, como certos agentes britânicos), o diretor e roteirista Christopher McQuarrie realiza um dos mais curiosos estudos sobre a relação do indivíduo com o mundo globalizado, ágil em seu desenvolvimento e capaz de costurar os personagens e situações com esmero. Não bastasse isso, Nação Secreta também se beneficia da dedicação de Tom Cruise, seu ator principal que não tem medo de abraçar e literalmente mergulhar na ação.

3) Magic Mike XXL

Quem poderia prever que essa sequência seria tão superior ao original? Despido dos moralismos e vieses condenatórios do longa dirigido por Steven Soderbergh, Magic Mike XXL adota o road movie para realizar uma das melhores celebrações à vida, à juventude e ao corpo dos últimos anos, sem os pudores de tantas outras produções destinadas a tais objetivos. A jornada dos strippers masculinos a um festival de stripping, em uma típica história de último trabalho, também é feliz na maneira como explora nos ambientes o seu inacreditável viés feminista, tratando o gênero feminino com louros independente da idade, cor e personalidade. Belo, ágil, divertido e, quem diria, incrível.

2) Mad Max - Estrada da Fúria

Frenético do começo ao fim, a volta por tanto tempo anunciada de Mad Max implodiu 2015 como um de seus kamicrazy se sacrifica para explodir um carro. Novamente no comando, George Miller mostra mais uma vez porque é um mestre com Estrada da Fúria, que além de ser uma alucinada aula de cinema também se comporta maravilhosamente bem como obra feminista. Trabalhada com brilho por Charlize Theron, Imperator Furiosa e as esposas de Immortan Joe lutam para sobreviver não apenas em um mundo pós-apocalíptico, mas também machista e misógino, algo que nos aproxima desse deserto poeirento e aniquilador. Acima de tudo, o quarto capítulo da série revoluciona um gênero inteiro, seja em seus aspectos formais ou teóricos, e faz uma contribuição importante a uma luta sem data para terminar.

Mas o melhor filme de 2015 é...

1) Divertida Mente

Com todos os tiques e estruturas conhecidas dos filmes da Pixar, Divertida Mente é um filme que por emoções antropomorfizadas preza pelo emocional com uma sensibilidade quase impossível de ser atingida. A bem da verdade, não existem palavras que descrevam o cuidado dos diretores Peter Docter e Ronnie Del Carmen ao tratar as relações entre Alegria e Tristeza ou de Alegria com a menina Riley, que atingem ápices tão poderosos e contundentes. Para tornar toda essa construção mais bem elaborada, Divertida Mente intercala essas estruturas com criatividade e humor formidável, e ainda inclui um ótimo terceiro arco na figura do amigo imaginário Bing Bong.

Mas é no relacionamento de Alegria com Riley que o filme me quebrou, me quebra e me quebrará emocionalmente nos próximos anos, em uma única linha de diálogo que só de lembrar já é capaz de me fazer ir às lágrimas mesmo após ter passado meses desde que fui ao cinema assisti-lo.

"Eu só queria que Riley fosse feliz."

Rankings

Por mês:
E a versão final do Ranking 2015 de Cinema:
  1. Divertida Mente (10/10)
  2. Mad Max - Estrada da Fúria
  3. Magic Mike XXL [9/10 antes de revisão]
  4. Missão: Impossível - Nação Secreta
  5. Um Pombo Pousou Num Galho Refletindo Sobre a Existência
  6. A Visita
  7. Vício Inerente
  8. Ponte dos Espiões (9/10)
  9. Um Amor em Cada Esquina
  10. A Terra e a Sombra
  11. Foxcatcher - Uma História que Chocou o Mundo
  12. A Pele de Vênus
  13. Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância) [10/10 antes de revisão]
  14. O Ano Mais Violento
  15. Star Wars - O Despertar da Força (8/10)
  16. Acima das Nuvens
  17. Whiplash - Em Busca da Perfeição
  18. Mia Madre
  19. Corações de Ferro
  20. Phoenix [7/10 antes da revisão]
  21. Nick Cave - 20.000 Dias na Terra
  22. Dois Dias, Uma Noite
  23. Cássia Eller
  24. Dívida de Honra
  25. Perdido em Marte
  26. Que Horas Ela Volta?
  27. Homem-Formiga
  28. Mistress America
  29. Chatô - O Rei do Brasil
  30. Férias Frustradas
  31. Últimas Conversas
  32. Sniper Americano
  33. Vingadores - A Era de Ultron [10/10 antes de revisão]
  34. Tomorrowland - Um Lugar Onde Nada É Impossível
  35. Cala a Boca, Philip
  36. Timbuktu
  37. A Espiã que Sabia de Menos (7/10)
  38. Noite Sem Fim
  39. O Presente
  40. Para o Outro Lado
  41. O Amor é Estranho
  42. Selma - Uma Luta Pela Igualdade
  43. Bob Esponja - Um Herói Fora D'Água
  44. Lugares Escuros
  45. Adeus à Linguagem
  46. A Travessia
  47. Corrente do Mal
  48. Jurassic World - O Mundo dos Dinossauros [8/10 antes de revisão]
  49. Eden
  50. O Conto da Princesa Kaguya
  51. Winter Sleep/Sono de Inverno
  52. Expresso do Amanhã
  53. Kingsman - Serviço Secreto
  54. Velozes e Furiosos 7
  55. Cinderela
  56. A Estrada 47
  57. Força Maior
  58. A Forca
  59. Sicario - Terra de Ninguém
  60. A Teoria do Tudo
  61. Victor Frankenstein
  62. Leviatã
  63. Uma Noite no Museu 3 - O Segredo da Tumba
  64. Frank (6/10)
  65. Entre Abelhas
  66. Casadentro
  67. A Colina Escarlate
  68. O Destino de Júpiter
  69. Peter Pan
  70. Nocaute
  71. A Escolha Perfeita 2
  72. Mapa Para as Estrelas
  73. Jia Zhangke, Um Homem de Fenyang
  74. Grandes Olhos
  75. Minúsculos
  76. Sangue Azul
  77. Pasolini
  78. The DUFF
  79. Taxi Teerã
  80. Obra
  81. 118 Dias
  82. O Olmo e a Gaivota
  83. Shaun - O Carneiro
  84. Cake - Uma Razão Para Viver
  85. Poltergeist - O Fenômeno
  86. Dheepan - O Refúgio
  87. Ricki and the Flash - De Volta pra Casa
  88. Enquanto Somos Jovens
  89. Os Dois Lados do Amor
  90. O Sal da Terra
  91. O Jogo da Imitação
  92. Terremoto - A Falha de San Andreas
  93. O Agente da U.N.C.L.E. (5/10)
  94. Um Santo Vizinho
  95. Homem Irracional
  96. Exorcistas do Vaticano
  97. Golpe Duplo
  98. Garota Sombria Caminha Pela Noite
  99. Califórnia
  100. Atividade Paranormal - Dimensão Fantasma
  101. Chappie
  102. Macbeth - Ambição e Guerra
  103. A Possessão do Mal
  104. Casa Grande
  105. Como Sobreviver a um Ataque Zumbi
  106. Cidades de Papel
  107. Sob o Mesmo Céu
  108. Respire
  109. A Entrevista
  110. O Último Ato
  111. Para Sempre Alice
  112. No Coração do Mar
  113. O Clube
  114. Minions
  115. Evereste
  116. Belas e Perseguidas
  117. 45 Anos
  118. Aliança do Crime
  119. Sem Direito a Resgate
  120. Rainha e País
  121. Os Pinguins de Madagascar
  122. A Série Divergente: Insurgente
  123. 007 Contra Spectre (4/10)
  124. Livre
  125. Victoria
  126. De Cabeça Erguida
  127. Quarteto Fantástico
  128. American Ultra - Armados e Alucinados
  129. Ted 2
  130. As Sufragistas
  131. Segunda Chance
  132. Jogos Vorazes - A Esperança - O Final
  133. A Incrível História de Adaline
  134. Pássaro Branco na Nevasca
  135. A Mulher de Preto 2 - Anjo da Morte
  136. Chico - Artista Brasileiro
  137. A Dama Dourada
  138. Jessabelle - O Passado Nunca Morre
  139. Um Senhor Estagiário
  140. Pixels
  141. O Exótico Hotel Marigold 2
  142. Invencível
  143. Não Olhe Para Trás
  144. Sr. Kaplan
  145. Trocando os Pés
  146. O Pequeno Príncipe (3/10)
  147. Love
  148. Promessas de Guerra
  149. Pegando Fogo
  150. Crimes Ocultos
  151. Miss Julie
  152. O Exterminador do Futuro - Gênesis
  153. Caminho da Floresta
  154. A Entidade 2 (2/10)
  155. À Beira Mar
  156. A Casa dos Mortos
  157. Duas Irmãs, Uma Paixão
  158. Cinquenta Tons de Cinza (1/10)
  159. Mortdecai - A Arte da Trapaça

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terça-feira, 29 de dezembro de 2015

O Cinema em 2015: Piores do Ano

O que o cinema produziu de pior em 2015.

Por Pedro Strazza.

Não dá para ser perfeito. Ainda que tenha oferecido filmes maravilhosos, 2015 foi também um ano de muitos erros e equívocos no mundo do cinema. Além dos dez longas que compõem esse maravilhoso ranking de pura chacota e irritação, os últimos 365 dias trouxeram os mais variados tipos de horror nas telonas.

Mas se nos outros anos os motivos para tais resultados escabrosos variaram bastante, em 2015 grande parte destas produções encontrou um denominador comum: a representação feminina. Em dias marcados pela contestação do uso da mulher pelo cinema e outras artes, foi comum ver nos filmes mais fracos e estúpidos a perseverança de uma lógica ultrapassada no assunto. Em grande parte dessas obras, a mulher é reduzida de significação, fetichizada ou, pior, tornada em figura de antagonismo, graças a seus "dotes" capazes de atrair o protagonista masculino ao pecado, sendo relevante nesta última que ela seja posta em "seu devido lugar". Não à toa, pelo menos seis dos dez longa-metragens nomeados ao Piores do Ano de 2015 tem em comum o uso de tais e outros artifícios tão degradantes ao gênero feminino.

Esse não foi o único ponto, porém, que levou tantas produções ao fracasso em seu conteúdo, e uma rápida visita a alguns dos piores filmes hollywoodianos de grande orçamento é capaz de ilustrar alguns dos outros pontos a serem repensados para 2016. Enquanto Quarteto Fantástico mostrou que novas ideias a marcas antigas nem sempre mostram melhores resultados, 007 Contra Spectre provou que impor mudanças drásticas de gênero a um personagem de gênero são capazes de quebrar seu funcionamento; Insurgente e o "último" Jogos Vorazes, por outro lado, evidenciaram o apodrecimento de algumas das estruturas que fazem famosos os filmes voltados para o público jovem, no mesmo passo que Ted 2 reforçou a noção de que repetir a fórmula não funciona sozinho.

De qualquer forma, nenhum destas obras foi tão mal quanto os próximos dez filmes a serem comentados, de longe os piores exemplares do cinema lançados comercialmente no país em 2015. Vamos a eles:

10) Crimes Ocultos

Crimes Ocultos é uma aula básica de roteiro, mas não no bom sentido. O filme, sobre um agente da polícia militar da União Soviética que é rebaixado de seu serviço e tenta solucionar um mistério envolvendo o desaparecimento sistemático de crianças ao longo do território, apela para todas os clichês e maniqueísmos de seu tema, mas não os sabe utilizar a seu favor em nenhum momento. O resultado, alinhado com um inglês em sotaque russo dos piores de Tom Hardy e grande elenco, fazem o longa se tornar um aborrecimento constante, incapaz de atrair o espectador em qualquer momento. 

9) Miss Julie

Montagem da homônima peça do dramaturgo August Strindberg, esta versão de Miss Julie é talvez o melhor exemplo do quão difícil é realizar uma adaptação de uma obra teatral para a telona. Enquanto privilegia atuações nada equilibradas de Jessica Chastain, Colin Farrell e Samantha Morton, a diretora Liv Ullmann não consegue aproveitar dos poucos ambientes que ocupa, e a obra perde qualquer tipo de fluidez. Ao invés disso, o que se vê em cena é uma obra estagnada, que não consegue se utilizar de sua origem teatral nem de disfarçar o seu incômodo cheiro de mofo.

8) O Exterminador do Futuro - Gênesis

Mesmo que venha a ser lembrado como um ano de bons retornos de inúmeras franquias, 2015 também será marcado por este que foi o pior espécime de uma tentativa de reboot trajada de sequência. Não apenas responsável por declarar a morte da série O Exterminador do Futuro e equivocado na reutilização das estruturas clássicas dos dois primeiros (e clássicos) filmes, Gênesis também conseguiu a façanha de diminuir Sarah Connor, uma das personagens mais fundamentais do cinema de ação e da representação da mulher nos anos 90, que aqui se transforma numa menina adulta cujos únicos (e não maiores) conflitos são de relações familiares. Um erro crasso, que nem Emilia Clarke consegue esconder ou defender.

7) Caminhos da Floresta

Rob Marshall já vinha mostrando em seus últimos dois filmes um desgaste evidente de sua fórmula, que preza muito pelo movimento e pouco pelo conteúdo. Nada preparou o público, porém, para seu Caminhos da Floresta, adaptação do musical da Broadway que é disparado uma das obras mais vazias de 2015. Marshall despreza com categoria a temática de desconstrução dos contos de fada da peça e tenta realizar uma homenagem a estes, criando um choque de noções que simplesmente não se sustenta em momento algum.

E sobre as músicas... digamos que se eu ouvir mais um "Into the woods!" ou "AGONY" eu mato alguém.

6) A Entidade 2

Lançado em 2012, o primeiro A Entidade era um verdadeiro espetáculo de terror, que mesmo com seus erros conseguia fazer de sua criatura algo assustador sem mostrá-la. Sua sequência parece ter desaprendido isso. Insistindo constantemente em um processo de iconização de Bagul, o longa de Ciarán Foy se utiliza somente de sustos fáceis e apelo gráfico ao invés de investir em um terror atmosférico, local onde a entidade do título funcionava melhor. O maior erro, porém, é acreditar que revelar mais sobre o ser e seus meios trará melhores oportunidades à continuação, e no fim isso custa caro ao filme e sua tentativa de serialização.

5) À Beira Mar

Angelina Jolie já havia mostrado dificuldades em dirigir esse ano com seu Invencível, mas é com À Beira Mar que a cineasta demonstra estar precisando voltar aos estudos. Ainda que entregue junto do marido Brad Pitt uma boa atuação, Jolie faz aqui um filme modorrento sobre relações íntimas, envolvendo com sutileza machismos estridentes como culpabilidade da mulher e importância do marido ser o líder em situações de crise. E não importa o número de profissionais excelentes que ela se cerque, Angelina ainda continua a entregar as mesmas imagens de antes, quase sem emoção como suas histórias. 

4) A Casa dos Mortos

Para ser honesto, fico surpreso que o found footage continue a ser um subgênero em voga no cinema de terror, mas mais ainda com as maneiras incrivelmente estúpidas pelas quais alguns cineastas tentam reinventá-lo. É o caso de A Casa dos Mortos, que tenta misturar elementos de câmera na mão com cinematografia convencional em uma história típica de casa mal-assombrada. O resultado, óbvio, é desastroso: o longa é incapaz de se estruturar em qualquer uma das abordagens, além de insistir periodicamente em sustos previsíveis ao extremo.

E em nada, absolutamente em nada ajuda tentar enfiar uma reviravolta à la Shyamalan no fim, algo que no fundo reforça mais a superficialidade da produção que qualquer outra coisa.

3) Duas Irmãs, Uma Paixão

Se em Miss Julie o cheiro de mofo era difícil de se ignorar, no representante alemão para o Oscar do ano passado ele é impossível de se evitar. Com uma narrativa involuntariamente pesada, o novelesco Duas Irmãs, Uma Paixão é um desastre de altas proporções, incapaz de fazer algo do drama do título além de conflitos "'Ele é meu!', 'Não, ele é meu!'". Os figurinos e o design de produção tem lá seu charme, mas de que isso serve sozinho?

2) Cinquenta Tons de Cinza

Cinquenta Tons de Cinza é muito mais uma imensa decepção que um filme de pior espécie. Explico: por mais machista, raso e papo interminável de DR que a adaptação do livro de E.L. James seja (e é, não se engane!), o filme de Sam Taylor-Johnson perdeu uma chance inacreditável de romper em 2015 com os tabus puritanos de sexo que por anos envolvem Hollywood e o impedem de ser o berço de novas revoluções sexuais. Em contraponto a isso, o longa entrega uma narrativa coxinha, assustada em mostrar qualquer evidência de relações ou membros sexuais (novamente, é um filme tão machista a ponto de não ter coragem de não mostrar um pênis!). O que poderia ser um filme ambicioso termina uma novela "para donas-de-casa", a adaptação mais fiel em espírito de um romance de Sidney Sheldon. Pena.

Mas sem dúvida o pior filme de 2015 é...

1) Mortdecai - A Arte da Trapaça

É difícil de definir o que é pior em Mortdecai - A Arte da Trapaça. O humor grosseiro e sem qualquer momento de relevância, a atuação desgastada de um Johnny Depp no fundo do poço da carreira, o sexismo implícito combinado à objetificação e antagonização máxima da mulher na forma das curvas de uma Olivia Munn completamente má utilizada... a falta de substância e a chacota implícita do diretor David Koepp com elementos tão ultrapassados quanto a obra são alarmantes. É um filme inadequado, incapaz de ver-se a si mesmo em meio a tanta arrogância e desperdício de um ótimo elenco e que nem consegue fazer jus ao título de comédia.

Pelo menos pra mim, resta torcer para que em 2016 o agora bicampeão da categoria Johnny Depp saia dessa maré de azar e volte à plena forma de antigamente, porque pior que isso (eu espero que) não fica.

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