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domingo, 23 de outubro de 2016

Crítica: A Criada

Diretor de Oldboy faz mais uma obra de perversidade, agora de significações mais complexas.

Por Pedro Strazza.

De início, A Criada é um filme que ensaia combinar temas complexos. O novo trabalho de Park Chan-wook situa-se, afinal, na Coréia dos tempos de ocupação japonesa, um cenário histórico por si só de amplas possibilidades, e sua trama de romance entre duas mulheres tende a ocupar esse espaço político de rivalidade com naturalidade. Mas como qualquer obra de Chan-wook que se preze, essa estrutura esconde algo que vai muito além das aparências.

Baseado no livro homônimo de Sarah Waters, o longa acompanha a história de Sook-Hee (Tae Ri Kim), uma experiente e pobre vigarista coreana que é enviada por seu superior (Ha Jung-woo) para ser criada de Lady Hideko (Kim Min-hee), herdeira de uma grande riqueza. O plano é simples: criando intimidade com sua senhora, ela facilitaria os planos do golpista - disfarçado sob o nome de Conde Fujiwara - de dar o golpe do baú na mulher, casando-se com ela para depois trancá-la no hospício e ficar com o dinheiro. Sook-he, porém, começa a se apaixonar por Hideko, simpatizando com sua tristeza por estar isolada da sociedade pelo tio (Jo Jin-woong), que também planeja se casar com ela por motivos financeiros.

A partir deste ponto não vale a pena entrar em maiores detalhes da trama, até porque o filme se faz bastante em cima das sucessivas reviravoltas que produz. O que pode ser dito é que Chan-wook realiza aqui mais uma obra de intenções lúdicas, que se estrutura em cima de uma dinâmica repleta de perversidades sexuais e constantemente brinca com flashbacks e noções de duplos - no primeiro ato isso fica menos evidente, mas está presente no viés de O Príncipe e o Mendigo lésbico da amizade entre Sook-Hee e Hideko - para desestabilizar o público.

O ambiente é bastante propício ao diretor, cujo cinema já é conhecido por obras que tem no choque seu principal chamariz, mas A Criada acaba por sofrer abalos justo nisso que é seu ponto mais forte. Preocupado em traduzir para a tela a sua complexa rede de intrigas e traições, o longa não dá conta de manter em foco as temáticas manifestadas nas relações de dominação (seja sexual ou política) dos personagens, o que esvazia a trama de um impacto simbólico e a torna refém de suas viradas. A preocupação em não deixar ponto sem nó é tão grande que no fim ele se dedica somente a isso.

Não que A Criada se faça como um filme efetivamente vazio, de puro ludismo disfarçado de falsos significados; Chan-wook sabe manter o básico da coerência das questões propostas, até porque elas estão inseridas em seu jogo de perversidades e potencializam sua proposta - a relação das duas protagonistas, por exemplo, não deixa de emular a situação política da época nos momentos mais, vamos dizer, intensos. A dúvida é se a produção tem consciência do desenvolvimento natural dessa mecânica no roteiro (e portanto se deixar guiar por ela como forma de aumentar o impacto) ou se ela a possui como mero acessório de luxo.

Nota: 7/10

sábado, 22 de outubro de 2016

Crítica: Jovens, Loucos e Mais Rebeldes

Richard Linklater aborda figuras do passado em retrato de parte de uma geração.

Por Pedro Strazza.

“É tudo muito tribal, cara” diz Finnegan (Glen Powell) para o protagonista Jake (Blake Jenner) no desenrolar de uma das situações iniciais de Jovens, Loucos e Mais Rebeldes. Ele faz esse comentário logo depois do grupo de atletas ao qual ambos estão inseridos ser expulso de uma boate disco por causa de uma bobagem: um dos integrantes, mais esquentado, brigou com o bartender por qualquer questão tola envolvendo a veracidade de sua masculinidade.

A observação dita por Finnegan pode soar um tanto rasa a princípio, mas como outras linhas de diálogos pescadas das conversas travadas por outros integrantes do grupo ao longo da história ela ajuda a esclarecer o objetivo que o diretor e roteirista Richard Linklater busca alcançar com o filme. A dúvida, afinal, não poderia ser mais sincera: o que diabos o cineasta busca tirar do cotidiano de um grupo de jocks (o estereótipo estadunidense do atleta) nos últimos dias de suas férias?

O retrato geracional talvez seja a melhor resposta para a pergunta, mas não é exatamente capaz de englobar a totalidade do significado que Linklater busca promover no longa. Jovens, Loucos e Mais Rebeldes é um filme que de fato se aproxima em muitos momentos de outros trabalhos do gênero do diretor (como Boyhood e, claro, Jovens, Loucos e Rebeldes) por conta da maneira como ele situa a sua história em um tempo e espaço específico por meio de canções e elementos de cena - no caso, os Estados Unidos do fim dos anos 70, que começa a superar os traumas da Guerra do Vietnã e assume a rebeldia pelo viés anárquico, a exemplo do punk. Ele, porém, também se distancia deste quadro pelo próprio perfil de seu grupo de protagonistas, que transitam pelos mais distintos ambientes com toda a inadequação de quem definitivamente não pertence a estes.

“Somos camaleões” afirma Finnegan em outro momento do filme, quando confrontado por Jake sobre eles não terem lugar dentro do show de rock onde estão. O espetáculo, que conta com um bate-cabeça ao som da versão punk do tema da série Gilligan’s Island, é uma das quatro festas que o grupo participa nos três dias anteriores ao início de suas aulas que reforçam esse sentimento de deslocamento proporcionado de forma sutil por Linklater, sensação que já é introduzida no início quando o grupo é rechaçado por duas garotas depois de duas tentativas bastante distintas de “aproximação”.

É algo que ocorre justamente pelo fato deste retrato geracional não se tratar de um pressuposto para que o cineasta faça sua análise de um momento histórico, mas sim de um tipo histórico dentro do cinema estadunidense. Jovens, Loucos e Mais Rebeldes tem aqui a pretensão de entender a figura do jock como algo além das caracterizações clássicas de herói ou vilão, perfis que não só acentuaram sua queda como ideário dentro do universo universitário mas também tornaram esse personagem clássico em um elemento já ultrapassado. Não é à toa que na contemporaneidade existam tantas produções dispostas a reinventar e brincar com o atleta e seu perfil musculoso e “burro”, e Linklater é esperto o suficiente para driblar esse lugar comum e abordar essas figuras de maneira mais tradicional.

O diretor aqui volta a trabalhar esse tipo como algo relacionável, humanizando as relações de superficialidade e ritualísticas que compõem essa cultura afim de entender seu funcionamento. O cotidiano de competições, pegadinhas e festas do grupo formado por Jake, Finnegan, Roper (Ryan Guzman), Jay (Juston Street), McReynolds (Tyler Hoechlin), Willoughby (Wyatt Russell), Plummer (Temple Baker), Dale (J. Quinton Johnson), Beuter (Will Brittain), Nesbit (Austin Amelio), Brumley (Tanner Kalina) e Coma (Forrest Vickery) serve a Linklater como uma forma de constatar a temporalidade do jock no cenário histórico, algo que fica claro não apenas pelo destino de Willoughby mas também no fato do grupo estar unido por ser um time de baseball, o esporte que tem um dos públicos mais envelhecidos e em plena queda nos EUA de hoje.

Linklater, porém, não busca a redenção ou mesmo consagração dessa figura como ideário de um tempo passado, a exemplo de Boyhood adotando a nostalgia como linha narrativa central. Ele inclusive procura brincar com os pontos característicos desses personagens, levando a limites fatores como competitividade e o culto ao corpo (as cenas que mostram o grupo se aprontando para as festas são hilárias) como forma de manter as coisas sempre balanceadas entre comédia de costumes e de tipos. Tem um quê de desconstrução, mas isso é feito apenas para esclarecer sua temporalidade quando confrontada com as mudanças histórias provindas do fim da década, tornando o deslocamento ainda mais evidente.


Esse processo de desfalecimento do jock, entretanto, não poderia ser mais respeitoso, se envolvendo com suas ações sem qualquer noção de julgamento. É uma forma singela de não só tornar a produção condizente com o universo que retrata, mas também de capturar a efemeridade da juventude em todo seu esplendor. Os atletas de Linklater não poderiam estar mais ultrapassados, mas sua rotina de diversão e descompromisso os impelem a um caráter atemporal que transcende a metáfora do sofrimento de Sísifo e os "condena" a uma eternidade repleta de álcool e sexo em um passado já consumado pela sociedade.

Nota: 9/10

sexta-feira, 21 de outubro de 2016

Crítica: O Ignorante

Por meio de retrato do fim, Vecchiali faz um de seus trabalhos mais acessíveis.

Por Pedro Strazza.

Cineasta que tem dado maior foco a mise-en-scenè de seus filmes desde que voltou a trabalhar com maior frequência, o francês Paul Vecchiali concebeu em seus últimos trabalhos um paradoxo inusitado dentro dessa questão. Prezando pela esfera sentimental que caracteriza sua obra, seus longas possuem uma diagramação de cena e enquadramento simples, mas são complexos naquilo que buscam passar ao espectador. O Ignorante, seu novo trabalho, não foge a essa regra.

Escrito e protagonizado pelo diretor, o filme segue Rodolphe, dono de uma empresa que tem uma vida reclusa até o dia que seu filho, Laurent (Pascal Cervo), volta para casa. Com um relacionamento difícil, os dois passam a compartilhar mágoas e receios dentro da moradia: o primeiro, atormentado pelas lembranças de uma mulher chamada Marguerite (Catherine Deneuve), começa a receber a visita dos diversos amores de sua vida; o segundo, perdido e sem rumo, busca encontrar um sentido ao que quer que vá fazer no futuro.

Como nos filmes anteriores, Vecchiali volta a manter como prioridade a encenação do que escreve, buscando criar uma dialética simples que proporcione grande impacto a seu público. Diretor que nunca deixa de incluir dança e música (cujas letras dessa vez ele mesmo compõe) em suas obras, ele procura aqui simplificar ainda mais a movimentação de personagens dentro de seu cenário estático, resumindo momentos mais emocionais em gestos pequenos e simultaneamente singelos. Essa dinâmica, ao qual evita o exagero provocado pela explosão mas não a nega em última instância - são momentos de fúria bastante controlados, de novo por causa do foco em cima da encenação -, torna o longa mais acessível a quem não está habituado aos trabalhos do cineasta: os planos fechados podem confundir a princípio, porém com o tempo revelam por seu caráter direto uma gama de sentimentos que atinge qualquer um.

Isso ocorre também porque a temática abordada por O Ignorante não é estranha ou complexa como a de É o Amor, longa anterior do cineasta. Flertando muitas vezes com um tom autobiográfico - mas nunca o assumindo de fato -, o diretor realiza um clássico filme de arrependimento, que explora reminiscências de conflitos não resolvidos - o pai e filho, as relações com mulheres e a própria morte - para fazer um retrato melancólico e ao mesmo tempo belo do fim da existência.

Para a sorte do espectador, tal retrato não necessariamente chega às vias do depressivo, graças tanto à característica contenção do diretor quanto de seu bom humor. Por mais sério que se faça na mise-en-scène, Vecchiali não deixa de usar a atuação (sua ou do elenco) em seu viés mais físico e cômico, com piadas que envolvem desde sonambulismo até Tintim. Os diálogos de seu roteiro e a montagem também possuem esse lado de humor, ainda que no fundo brinquem com os mesmos temas de outros trabalhos do cineasta - e ainda que funcionem, elementos como a questão da homossexualidade de alguns personagens e as elipses inusitadas aos poucos se tornam elementos batidos de seu cinema.

Essa talvez seja a maior força de seus filmes, incluindo este O Ignorante. Vecchiali consegue transitar entre o drama e à comédia sem nunca se trair, muito porque suas encenações nunca adotam um tom cínico ou de ironia auto desconstrutiva. Há quem diga que isso leve o longa ao caminho tolo da ingenuidade, mas é justo esta que proporciona a ele um melhor contato com seu tão querido lado sentimental.

Nota: 8/10

Crítica: O Plano de Maggie

Rebecca Miller realiza exercício de combinação em comédia que prioriza o mais fácil.

Por Pedro Strazza.

Desde que estreou no festival de Toronto do ano passado, O Plano de Maggie vem acumulando comparações da crítica com os filmes de Woody Allen, seja na forma de elogios ou críticas. É verdade que o longa de Rebecca Miller não hesita em copiar os moldes consagrados pelo diretor nova iorquino, preservando no processo (de alguma maneira) suas discussões sobre a veracidade da magia do amor, mas a cineasta não deixa de adicionar elementos próprios à fórmula.

O filme conta a história de Maggie (Greta Gerwig), uma professora de uma universidade de design que quer se tornar uma mãe solteira. Para isso, ela resolve fazer uma inseminação artificial por conta própria, usando o esperma cedido por um empreendedor de picles local (Travis Fimmel) que ela não deseja. Sua ideia, porém, é abandonada quando ela conhece e se apaixona por  John (Ethan Hawke), um antropólogo casado com outra antropóloga (Julianne Moore), pai de dois filhos e que tem uma vida infeliz.

Miller alia aqui as comédias de tipos clássicas de Allen com as do gênero screwball que caracterizam uma porção da produção independente dos Estados Unidos, e no geral não sai muito desse esquema. É uma decisão correta, ainda que preguiçosa como o longa bem comprova em alguns momentos:  se o segundo subgênero gera uma zona de conforto à cineasta e seu elenco - com Gerwig, Hawke e os coadjuvantes Bill Hader e Maya Rudolph bastante à vontade para repetir seus papéis de sempre, enquanto Moore se diverte como a mulher divorciada e ressentida – o primeiro é um território onde a diretora e roteirista pode experimentar algumas novas ideias sem arriscar a estrutura geral da obra, injetando no filme uma problematização de uma temática conhecida ao público.

E qual temática seria essa? Essa é uma questão que Miller aos poucos revela em seu longa, que no fundo se faz em uma história em dois atos (a repetição da cena do jantar, mesmo que rápida, é fundamental para entender isso) e preza por enxergar uma rotatividade nas relações amorosas. É para isso dar certo que Miller realiza esse exercício de combinação de gêneros, misturando os trejeitos e manias imutáveis dos personagens tipificados com a escalada de confusão ao qual o screwball se define como tal.

De certa forma, isso acaba por funcionar muito bem ao Plano de Maggie, que com isso ganha um fio condutor mínimo. O filme talvez se perca demais nas complicações que realiza na trama e aos seus personagens (há uns bons vinte minutos ali no meio que são improdutivos) e no fim ele pode soar um pouco sem ponto, mas seu esforço de ressignificação do gênero - e mesmo de questionamento do amor como fim - oferece um charme inegável à produção, ainda que bem disfarçado na estética mecânica de um trabalho de Woody Allen.

Nota: 6/10

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

20 filmes para se ver na 40° Mostra SP

Conheça alguns dos mais de 300 filmes que compõem o mais tradicional festival de cinema de São Paulo.

Por Pedro Strazza.

Começa na próxima quinta (20) a 40° Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, tradicional festival de cinema que ocorre em vários locais da capital paulista. Com 322 filmes, o evento acontece até o dia 2 de novembro em várias salas espalhadas pela cidade, incluindo regiões centrais e periféricas.

Com tantos filmes interessantes passando ao mesmo tempo e em poucas sessões, talvez fique difícil para quem não acompanha o circuito escolher algo dentro da programação da Mostra. É pensando nisso que selecionamos abaixo vinte programas que com certeza estarão em destaque nas próximas duas semanas, incluindo tanto obras que esse ano saíram vencedoras dos festivais de cinema mais importantes quanto retrospectivas que valem a pena serem acompanhadas. Confira:

  • Retrospectiva Andrzej Wajda

Principal nome do Foco Polônia proposto pela curadoria da Mostra este ano, Andrzej Wajda foi um dos diretores que melhor retratou as transformações sociais do país no século 20, do fim da Segunda Guerra Mundial até o fim do comunismo. Dono de uma carreira prolífica, ele terá dezessete de seus filmes exibidos no festival, além de receber uma homenagem póstuma - Wajda morreu no último dia 9, somente um dia depois do evento divulgar sua lista de filmes e retrospectivas.

  • Animais Noturnos

Vencedor do Grande Prêmio do Júri no último Festival de Veneza e com passagem pelo Festival de Toronto, o segundo filme do famoso estilista Tom Ford tem ganhado vários elogios por causa de seu elenco estrelado, que conta com nomes como Amy Adams, Jake Gyllenhall, Michael Shannon e Aaron Taylor-Johnson. A trama, adaptação de um livro de Austin Wright, trata de uma mulher (Adams) que é assombrada por um romance dedicado a ela pelo ex-marido (Gyllenhaal).

Dias de exibição: 25/10 (21h55, Espaço Itaú Frei Caneca), 27/10 (18h, Cinesala), 29/10 (21h50, Espaço Itáu Augusta) e 1/11 (21h30, Cinemark Cidade São Paulo).

  • O Apartamento

Mais novo trabalho do cultuado cineasta iraniano Asghar Farhadi - bastante conhecido aqui por A Separação, longa vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2012 -, O Apartamento saiu do Festival de Cannes desse ano vitorioso com o prêmio de Melhor Roteiro, dado por seu desenvolvimento da história de um casal que começa a passar por dificuldades após ser obrigado a sair de casa.

Dias de exibição: 20/10 (19h30, Espaço Itaú Frei Caneca), 21/10 (17h50, Cinesesc), 22/10 (19h50, Cinearte), 24/10 (21h30, Cinemark Cidade São Paulo) e 30/10 (19h50, Cinesala).

  • Cameraperson

Filme que tem faturado prêmios em festivais ao redor do mundo e chamado a atenção da crítica e do público, Cameraperson marca a estreia na direção de Kirsten Johnson, cinegrafista que trabalhou em documentários celebrados como Citizenfour e The Oath. Aqui, a cineasta reúne imagens filmadas por ela ao longo da carreira para discutir algo que é intrínseco ao documentário: a relação entre objeto e observador.  

Dias de exibição: 23/10 (22h10, Cinearte), 25/10 (18h30, Reserva Cultural), 31/10 (16h40) e 2/11 (17h, Museu da Imagem e do Som).

  • Canção para um Doloroso Mistério

Para quem está com um tempo mais livre nas próximas duas semanas, vale a pena conferir um dos novos filmes do filipino Lav Diaz, em alta graças aos prêmios recebidos nos festivais de Veneza (Leão de Ouro) e Berlim (Urso de Prata), respectivamente por A Mulher que se Foi e este Canção Para um Doloroso Mistério. O programa, porém, exige dedicação: Tratando da história pela busca do corpo de um dos pais da Revolução Filipina, o filme tem nada menos que oito horas de duração. 

Dias de exibição: 23/10 (14h, Cinearte) e 25/10 (15h20, Espaço Itaú Frei Caneca).

  • Cinema Novo

Brasileiro que venceu em Cannes o prêmio de Melhor Documentário, Cinema Novo é um filme-ensaio do diretor Eryk Rocha (filho do famoso cineasta Glauber Rocha) sobre o movimento cinematográfico do título, um dos principais na América Latina nos anos de repressão e ditadura. Com o Cinema Novo sendo tão pouco conhecido pelo público nos dias de hoje, o longa é obrigatório para quem quer conhecer mais da História da produção cinematográfica nacional e da América. 

Dias de exibição: 31/10 (20h40, Espaço Itaú Frei Caneca) e 2/11 (20h20, Cinesala).

  • Depois da Tempestade

Filme que fez parte da mostra Un Certain Regard no Festival de Cannes desse ano, Depois da Tempestade é o novo trabalho do japonês Hirozaku Koreeda, que teve passagem pelos circuito comercial esse ano com Nossa Irmã Mais Nova. O diretor repete aqui sua predileção por temas familiares, tratando de um homem que procura desesperadamente fazer as pazes com a família. 

Dias de exibição: 22/10 (21h25, Reserva Cultural), 25/10 (19h45, Cinearte), 27/10 (13h30, Espaço Itaú Frei Caneca) e 29/10 (21h30, Cinemark Cidade São Paulo).

  • O Dia Mais Feliz da Vida de Olli Mäki

Falando em Un Certain Regard, o grande vencedor da seção marcará presença na 40° Mostra. Do finlandês Juho Kuosmanen, o longa segue um lutador de boxe que nos anos 60 quer o título mundial dos pesos-pequenos.

Dias de exibição: 23/10 (19h50, Espaço Itaú Augusta), 24/10 (21h50, Reserva Cultural), 25/10 (15h40, Espaço Itaú Frei Caneca) e 27/10 (15h50, Espaço Itaú Frei Caneca).

  • Elle

Novo e (como sempre) polêmico filme do holandês Paul Verhoeven (conhecido por obras como Robocop e O Vingador do Futuro), o longa - que trata de um estupro - foi bastante aplaudido em seu debute em Cannes, e mesmo não tendo levado nada no festival será o representante da França na corrida pelo Oscar de Melhor Filme Estrangeiro do ano que vem. Aproveitando a estreia do longa, a Mostra também passará na programação O Quarto Homem, um de seus primeiros trabalhos a lhe dar destaque internacionalmente. Ambos o filmes valem a visita no festival, ainda que Elle já estreie no circuito comercial em meados de novembro.

Dias de exibição: 21/10 (21h40, Cinearte), 23/10 (21h30, Cinemark Cidade São Paulo), 25/10 (15h, Cinesesc) e 27/10 (16h10, Espaço Itaú Augusta).

  • A Garota Desconhecida

Novo trabalho dos Irmãos Dardenne (que há dois anos vieram para a Mostra com Dois Dias, Uma Noite), o filme é mais uma obra da dupla que trabalha com temas do cotidiano: Uma jovem médica busca descobrir a identidade de uma mulher morta ao qual recusou atendimento no fim de seu expediente certa noite.

Dias de exibição: 20/10 (22h, Cinesala), 21/10 (19h, Cinemark Cidade São Paulo), 25/10 (16h, Cinearte), 30/10 (19h10, Cine Caixa Belas Artes) e 31/10 (13h30, Espaço Itaú, Frei Caneca).

  • The Handmaiden

O filme do sul-coreano Park Chan-Wook chamou bastante a atenção do público e da crítica em Cannes, e sua trama sobre um relacionamento lésbico entre uma herdeira de uma rica família e sua empregada durante a ocupação japonesa no país nos anos 30 promete deixar os espectadores brasileiros aturdidos. O cinema do cineasta, conhecido por aqui por obras como Oldboy e Mr. Vingança, opera afinal sobre este eixo.

Dias de exibição: 21/10 (21h15, Espaço Itaú Frei Caneca), 27/10 (21h10, Espaço Itaú Frei Caneca), 28/10 (18h55, Cine Caixa Belas Artes) e 2/11 (14h, Espaço Itaú Augusta).

  • O Ignorante

Outro que também vem de Cannes, O Ignorante é o novo trabalho do veterano do cinema francês Paul Vecchiali, que vem marcando presença na Mostra em caráter anual. Aqui, ele aborda um drama familiar com toques de dificuldade de comunicação e amores não atendidos, além de estrelar a própria obra junto de atores como Mathieu Amalric e Catherine Deneuve.

Dias de exibição: 20/10 (21h30, Cinemark Cidade São Paulo), 21/10 (13h30, Espaço Itaú Frei Caneca), 23/10 (21h45, Cinesala), 25/10 (15h50, Espaço Itaú Augusta) e 26/10 (14h50, Espaço Itaú, Frei Caneca).

  • Ma' Rosa

Vencedor do prêmio de Melhor Atriz em Cannes, o drama filipino segue uma dona de uma loja de conveniências de um bairro pobre na capital que um dia é presa junto do marido por causa de venda de drogas. O longa de Brillante Ma.Mendoza segue então as tentativas dos filhos do casal de tirá-los da cadeia.

Dias de exibição: 26/10 (21h45, Espaço Itaú Frei Caneca), 31/10 (21h20, Cinesala), 1/11 (13h30, Espaço Itaú Frei Caneca) e 2/11 (15h, Cinesesc).

  • Homenagem a Marco Bellocchio

Grande homenageado da Mostra este ano, o cineasta italiano Marco Bellocchio é um dos maiores nomes do cinema político do país nos anos 1960 e 1970. O diretor terá doze de seus filmes exibidos no festival, incluindo os recentes Belos Sonhos (foto) e Pagliacci. A retrospectiva de sua obra, que inclui trabalhos como De Punhos Cerrados, A China Está Próxima e Bom Dia, Noite, torna a Mostra mais aberta para discussões sobre o tema, algo fundamental para aproximar o evento da realidade vivida hoje pelo país.

  • Martírio

Antrópologo conhecido por seu trabalho com tribos indígenas, o francês Vincent Carelli vem pela primeira vez à Mostra com Martírio, documentário de mais de duas horas sobre a insurgência dos índios guarani-kaiowá para recuperar suas terras no Mato Grosso do Sul. O filme estreou no Festival de Brasília, onde foi bastante aplaudido e elogiado pela crítica pelo duro retrato da realidade.

Dias de exibição: 23/10 (18h30, Espaço Itaú Frei Caneca), 25/10 (15h50, Espaço Itaú Frei Caneca) e 29/10 (15h40, Cine Caixa Belas Artes).

  • Morte em Sarajevo

Vencedor do Grande Prêmio do Júri e do Prêmio da Crítica no Festival de Berlim, o longa bósnio-herzegovino promete ferver o festival com sua trama de enfrentamento ideológico, bem condizente com o cenário político brasileiro atual. O filme de Danis Tanovic trata dos preparativos de um hotel para a festa de gala em homenagem à morte do arquiduque Francisco Ferdinando - um dos eventos que gerou a Primeira Guerra Mundial - e da greve que funcionários planejam para estragar a celebração.

Dias de exibição: 27/10 (15h45, Espaço Itaú Frei Caneca), 29/10 (20h30, Sesc Osasco), 31/10 (13h30, Espaço Itaú Frei Caneca) e 1/11 (22h, Espaço Itaú Frei Caneca).

  • O Nascimento de uma Nação

Sensação no último Festival de Sundance e que era um dos principais concorrentes ao Oscar até seu diretor ser acusado de estupro, o filme de Nate Parker toma o título de uma das produções fundamentais e mais racistas da História do cinema para tratar da violenta repressão à rebelião liderada por um ex-escravo em uma região sulista dos Estados Unidos em 1831. O longa é o carro-chefe na lista de produções dispostas a acabar com Oscars So White no próximo ano, e considerando que as produções indicadas só chegam ao circuito comercial brasileiro só no ano que vem a Mostra se torna em uma ótima oportunidade para conhecer antecipadamente um dos aspirantes ao prêmio.

Dias de exibição: 28/10 (20h15, Cinearte), 29/10 (21h15, Espaço Itaú Frei Caneca) e 2/11 (20h40, Espaço Itaú Augusta).

  • Paterson

Novo filme do diretor estadunidense Jim Jarmusch - que também ganha na Mostra desse ano uma miniretrospectiva, reexibindo os trabalhos Estranhos no Paraíso, Férias Permanentes e Daunbailó -, Paterson foi bastante elogiado em sua estreia em Cannes. Estrelado por Adam Driver, o longa mostra o cotidiano de um jovem motorista de ônibus da cidade de Paterson, que inclui tanto o convívio com a esposa quanto seu trabalho com poesia.

Dias de exibição: 23/10 (19h30, Cinearte), 27/10 (21h40, Espaço Itaú Frei Caneca) e 28/10 (21h35, Cine Caixa Belas Artes).

  • O Segredo da Câmara Escura

Diretor prolífico e que vem aparecendo com mais frequência no circuito brasileiro - seja comercial ou de festivais -, o japonês Kiyoshi Kurosawa tem mais um de seus novos trabalhos exibidos na Mostra desse ano. Produzido em território francês, O Segredo da Câmara Escura promete mais um dos flertes sinistros com o sobrenatural do cineasta, que agora conta a história de um assistente de fotógrafo que começa a não conseguir mais distinguir imagem de realidade.

Dias de exibição: 26/10 (17h, Espaço Itaú Frei Caneca), 28/10 (23h, Cinesesc), 29/10 (17h, Espaço Itaú Frei Caneca), 30/10 (19h, Espaço Itaú Frei Caneca) e 31/10 (15h30, Cinearte).

  • Retrospectiva Willian Friedkin

O icônico diretor estadunidense é também alvo de uma miniretrospectiva no festival, contando com sua celebrada fase dos anos 70 e 80. Além dos famosos O Exorcista e Operação França, a Mostra também exibirá filmes menos conhecidos de Friedkin - mas não menos importantes - como Parceiros da Noite (longa ambientado na cena gay de Nova York com Al Pacino) e o tensíssimo suspense Comboio do Medo. Viver ou Morrer em Los Angeles, Possuídos e Killer Joe - Matador de Aluguel completam o pacote.

A dica: No domingo, dia 30, duas salas do Espaço Itaú Frei Caneca exibirão em sequência Viver ou Morrer em Los Angeles, Parceiros da Noite, Operação França e O Exorcista.

domingo, 16 de outubro de 2016

Crítica: Mônica - Força

Com drama familiar intenso, 12° Graphic MSP opta por saídas fáceis.

Por Marina Ammar.

O que aconteceria com a querida Mônica se a dona da rua não pudesse utilizar de sua força para resolver um problema?

É com essa questão que Bianca Pinheiro apresenta sua adição ao selo Graphic MSP. Força é uma história protagonizada apenas por Mônica, em contrapartida com os volumes Laços e Lições dos irmãos Vitor e Lu Cafaggi, protagonizados pelo quarteto do Limoeiro. 

Na obra¸ Bianca propõe explorar mais a fundo um lado pouco exposto da personagem: sua fragilidade diante de situações que não podem ser resolvidas através da força bruta. Para isso, o conflito principal envolve seus pais, enrolados com brigas e ameaças de separação. Para Mônica, em seus 7 anos de vida, a percepção do peso de sua realidade vem bem retratado no ritmo frenético e ao mesmo tempo rotineiro com o qual Bianca apresenta a evolução do dia a dia da menina, a cada página mostrando um novo choque dentro de um mesmo contexto. 

A discussão dos pais em si é permeada eternamente pela torneira da cozinha, que, quebrada, pinga sem parar, estressando-os ainda mais. Mônica sugere ao pai que peça ajuda da esposa e à mãe a do marido, mas ambos se recusam de maneira terminal a trabalhar juntos para resolver o problema. 

Intercalando a narrativa da atmosfera pesada na casa de Mônica com curtos passeios pela rua, Bianca mostra como o conflito interno na vida da garota afeta seu comportamento. A percepção de que sua força física não pode resolver sozinha os problemas a desanima, fazendo-a recusar bater em Cebolinha e Cascão - mesmo após mais uma das repetidas travessuras - e evitar as amigas em prol de permanecer em casa. Fechada em seu quarto, Mônica matuta na melancolia infantil de uma criança que começa a compreender a mutabilidade de seu mundo. 

Finalmente assolada por um pesadelo que materializa as brigas como um monstro que ela não pode derrotar com os punhos, Mônica acorda de madrugada e encontra o pai no sofá. Ao pedir por uma explicação, ele diz que precisa de espaço para pensar, e que ele e a mãe podem não conseguir pensar no mesmo quarto (ou na mesma casa) apenas porque algumas vezes as pessoas saem de sintonia.  Revoltada com a quebra familiar tão iminente, Mônica toma para si a responsabilidade de consertar a pia, cujo barulho das gotas parece agora ritmar os conflitos em sua casa. A noite passa improdutiva, claro, mas ao encontrar a filha adormecida na cozinha após exigir que o barulho que rompia seu ambiente fosse consertado os pais se reconciliam para consertar a torneira. 

Mônica acorda e caminha para a cozinha para descobrir os pais trabalhando em união e ser recebida por um bom dia morno e familiar, ao invés da atmosfera de reunião forçada que havia sido apresentada para si nos dias anteriores. O fim da história, ao menos pelo que se pode ver, é feliz – a família reunida pelos esforços de uma criança que faz o que está ao seu alcance para evitar uma mudança drástica de seu mundo. 

Apesar de terna e explorar de maneira íntima a capacidade da força interna de Mônica - não apenas exaltando sua conhecida força interior - Força falta porém com a própria lição ao apresentar um final “feliz”. Essa decisão quebra com a moral que viria pelo aprendizado de superação de uma adversidade e o de aceitar uma nova situação, apresentando ao invés disso uma previsível vitória sobre um problema em prol da retomada da situação original. Apesar de sensível, o fim torna precário a felicidade familiar apresentada no final da história, já que não há garantia alguma de que os esforços infantis de Mônica sejam capazes de manter a família em conjunto. 

Apesar de atrapalhada com a conclusão, Pinheiro ainda assim nos oferece um conto ilustrado com delicadeza e a adorabilidade de um traço macio, com expressões que apesar de pesarem no contexto, não agridem os olhos. Ela é capaz de abordar o tema doloroso para uma criança e apresentar urgência sem criar em excesso sentimentos angustiantes ao redor de uma personagem tão querida, e mesmo que contrarie uma possível moral nos prova que Mônica possui a força exterior e interior de uma verdadeira dona da rua.

Nota: 7/10

domingo, 9 de outubro de 2016

Crítica: 12 Horas Para Sobreviver - O Ano da Eleição

James DeMonaco enfim encontra o equilíbrio entre filme B e alegoria social para franquia Uma Noite de Crime.

Por Pedro Strazza.

Embora tenha estabelecido desde seu primeiro capítulo que suas histórias se ancoram em um espaço contemporâneo, a franquia Uma Noite de Crime sempre mostrou dificuldade em demonstrar o potencial de seu terror como reflexo da realidade. As noites de purgação que são tema do filme original e de sua continuação, Anarquia, em teoria se complementam para oferecer uma forte crítica aos rumos tomados pela política estadunidense em relação aos mais pobres, mas na execução estão dissolvidas nos esforços do diretor e roteirista James DeMonaco de fazer de sua proposta um suspense de baixo orçamento.

Mas se no primeiro Uma Noite de Crime o cineasta estava completamente perdido na própria proposta, a cada novo episódio da série DeMonaco mostra-se mais habilidoso para conciliar a alegoria político-social com o filme B que tanto busca conceber. Prova disso está no terceiro capítulo da franquia, agora no Brasil renomeada 12 Horas Para Sobreviver, que enfim encontra esse equilíbrio tanto procurado nos outros dois longas e sai da inoperância para atingir um status funcional.

Alguns fatores em conjunto são responsáveis por esse avanço dado por Ano da Eleição, que traz de volta o personagem de Frank Grillo para usá-lo agora de guarda-costas para uma candidata a presidente (Elizabeth Mitchell) cuja maior promessa é de acabar com as noites de purgação. Dentro desses, um dos mais importantes é a relação imediata que a produção traça com a corrida a eleitoral dos Estados Unidos em 2016, do qual aproveita o extremismo inerente da polarização política como motor para seu conflito entre elite e pobreza, tornado aqui elemento central da trama. Ainda que nunca chegue a tocar na questão da crise ideológica presente nessas disputas - o maniqueísmo da trama, tão evidente na maneira como a presidenciável de Mitchell nunca sai do pedestal de salvadora da pátria, talvez não o permita realizar essa problematização -, essa temática é suficiente para deixar mais claro os rumos do debate moral já tradicional da franquia, marcado tanto no clímax quanto em cenas como a que o dono de uma loja de conveniência (Mykelti Williamson) se comunica com um dos grupos de purgação para evitar o derramamento de sangue.

O outro fator responsável pelo melhor aproveitamento do filme é o caráter mais assumidamente caricato que DeMonaco dá à sua produção de baixo orçamento. Repetindo o gato-e-rato dos outros capítulos e mantendo a crescente do cenário onde essa perseguição se dá, o diretor busca dar pinceladas mais exageradas aos eventos presentes na noite de purgação, seja nos adereços - os carros enfeitados com luzes de Natal, as gangues com marcas de fácil identificação, as máscaras - ou mesmo nas atuações do elenco - a estudante patricinha de Brittany Mirabile, que faz uma participação rápida, é um dos grandes acertos do longa junto do candidato padre de Kyle Secor. DeMonaco, porém, é sagaz em não descambar para um cartunesco que invalide ou superficialize sua proposta temática, resolvendo a questão em movimentos como o de retirar os disfarces de quem desempenha o papel de caçador na trama.

O resultado é uma dinâmica bastante recompensadora e bem dosada de terror, apesar de no fundo soar um pouco limitada espacialmente. Está claro em 12 Horas Para Sobreviver o baixo orçamento dado para materializar a distopia proposta pelo diretor, que ao invés de recorrer à interiorização dos conflitos - uma medida que se provou falha nos outros dois Uma Noite de Crime - apela ao uso frequente de closes de rosto, câmera lentas e planos aéreos para contornar o problema. E de fato ele consegue contornar, mas sem antes capar a produção de um tom mais grandioso ao qual está intimamente ligado: acima de tudo, o filme parece estar sempre a ponto da ebulição máxima, mas no fim soa apenas episódico em seus eventos.

Ao assumir um cenário maior e mais ambicioso, 12 Horas Para Sobreviver - O Ano da Eleição se faz melhor resolvido em pontos onde seus antecessores esbarravam para depois desabar. DeMonaco pode ainda estar na mesma posição de controle de danos que exerceu nos dois primeiros filmes da série, mas aqui ele começa a ensaiar de fato a execução de seu plano com a franquia da maneira que tanto quer.

Nota: 6/10

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

Crítica: Demônio de Neon

Terror sobre figura da musa almeja a grande análise, mas prefere perfeição estética. 

Por Pedro Strazza.


Desde que entrou para Hollywood e assumiu a estética estilizada e pulsante do neon em seus filmes, o dinamarquês Nicholas Winding Refn tem se contentado a refazer gêneros e tramas tipicamente estadunidenses sob um viés mais exagerado, seja num espectro de recombinação (Drive) ou da mais pura repetição de lógica (Só Deus Perdoa). Sob esse olhar, Demônio de Neon é um avanço em seu raciocínio de cinema, já que ultrapassa as limitações da observação simples para passar a tentar interferir de fato nas mecânicas destas estruturas.

Escrito pelo próprio Refn, o longa reproduz o arco de ascensão e queda do indivíduo em busca da fama e do sucesso, aqui representado na figura da jovem Jesse (Elle Fanning) e de sua viagem pelo mundo da moda da Los Angeles contemporânea. Tendo a carreira impulsionada por uma poderosa agente (Christina Hendricks), a garota logo se destaca das outras modelos por possuir uma beleza dita "natural", o que provoca inveja em suas concorrentes (Abbey Lee e Bella Heathcote) e a paixão em uma admiradora (Jena Malone). Dos eventos que se seguem a partir disso, o diretor se envereda pela desconstrução da relação quase mística que se estabelece entre a protagonista e aquelas que a rodeiam, envolvendo musas, seres humanos e o distanciamento mais do que evidente entre as partes.

Sob tal perspectiva, Demônio de Neon é uma obra funcional, ainda que esteja limitado demais nos próprios dispositivos criados para trabalhar tal questão. Embalado pela trilha climática de Cliff Martinez, o diretor esboça o tempo todo um filme de grande análise sobre o ser musa e seus impactos no indivíduo dentro de uma lógica do universo feminino predatório e guiado pela sede sexual masculina, com cenas que sozinhas compõem verdadeiros quadros de análise sobre o tema. Em seus planos de estética higienizada e dominados por lentos zoom in e zoom out, o longa sabe direcionar o semblante deslumbrante de Fanning tanto às suas relações chave quanto ao vazio existencial que no fundo permeia os personagens, suas ambições e o mundo em que vivem.

A produção, porém, se castra das próprias pretensões ao não se mostrar capaz de desenvolver uma coerência narrativa mínima entre tais cenas. Como em Apenas Deus Perdoa - tragédia teatral encenada como filme de artes marciais que também sofria ao preferir a perfeição estética acima de tudo - Refn está mais interessado na limpidez e no impacto imediato de seus planos que de ordenar estes no sentido de evoluir a trama para um mesmo fim. E apesar de suas cenas escalarem de fato para visuais cada vez mais intensos e do mais puro gore, elas não conseguem atuar em conjunto para entregar a complexidade buscada por ele: os momentos mais pesados da história, que o cineasta em teoria usa como ápice do seu conto de horror, soam tolos por justamente estarem isolados em um inferno multicolorido e deveras muito organizado.

Não deixa de ser irônico que Demônio de Neon, concebido como filme disposto a trabalhar de maneira ambiciosa o vazio de relações da sociedade contemporânea, termine então refém do próprio processo. Por mais que tenha todas as peças nos lugares certos e habilidade inegável na construção de planos, Refn ainda não parece ter noção exata do funcionamento da estrutura alegórica, que dirá então de manipulá-la para os próprios fins.

Nota: 4/10