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sábado, 16 de julho de 2016

Crítica: Caça-Fantasmas

Remake atualiza enredo para consagrar feminino como ícone.

Por Pedro Strazza.

Em sua filmografia recente, Paul Feig vem se destacando por criar comédias que, além de trazerem protagonistas femininas, concebem situações capazes de promover a identificação entre mulheres de diferentes perfis para, depois, as uni-las em meio às dificuldades passadas. Missão Madrinha de Casamento e A Espiã que Sabia de Menos, seus longas de maior sucesso até o momento, são dotados de uma carga feminista bastante interessante, e sua direção tende a um teste de limites que tire comédia disso. Com Caça-Fantasmas, reboot da celebrada comédia de 1984 estrelada por Bill Murray e Harold Ramis, esse "maneirismo" de Feig ganha algumas mudanças, mas não por isso o diretor perde sua qualidade - muito pelo contrário, ele tem seu cinema potencializado a novos caminhos.

São mudanças que se percebem na atualização que Feig e sua co-roteirista Katie Dippold buscam nesta reapresentação da franquia, apesar de a dupla manter em voga o arco de personagem típico dos filmes do cineasta. Substituindo o quarteto masculino por um feminino (Kristen Wiig, Melissa McCarthy, Leslie Jones e Kate McKinnon, todas reveladas no programa humorístico SNL), o novo Caça-Fantasmas deixa de lado o senso caótico com os estratos sociais e o abismo entre a elite e o povo para tratar do choque contemporâneo de gêneros, um enfrentamento constante do feminismo com os setores mais conservadores da sociedade. O único ponto de convergência entre original e remake, aqui, é a observação crítica e extremamente bem humorada de tais conflitos, com uma inclinação notável a equilibrar a balança.

No caso da nova versão, esse conflito se estabelece bastante na iconografia de seus personagens e elementos. Mas ao contrário de outros recentes novos capítulos a franquias antigas, que usam disso pelo viés da nostalgia de maneira escancarada e seguem pelo caminho mais fácil e já conhecido do público (Jurassic World, Star Wars - O Despertar da Força, O Exterminador do Futuro - Gênesis, Independence Day - O Ressurgimento), o filme, ainda que continue essa tradição de reverenciar com alguma efusividade o passado - as pontas e referências ao elenco original são muito bem alinhadas às necessidades do roteiro, mas às vezes não deixam de soar gratuitas em seu destaque - prefere trabalhar tal valor imagético pelo exercício da desconstrução, bastante utilizado dentro do gênero da comédia.

Dessa forma, Feig tem em mãos um cenário conhecido e ao mesmo tempo não explorado: Suas protagonistas de novo encaram ambientes que não as reconhecem e que tentam as separar a todo custo, mas sua resolução não se dá por meio do choque de tipos - não há um desentendimento entre as partes envolvidas, afinal. Partindo de perfis visuais universais, Erin Gilbert (Wiig), Abby Yates (McCarthy), Patty Tolan (Jones) e Jillian Holtzmann (McKinnon) seguem unidas em uma jornada de consagração como ícones, heróis femininos em um mundo dominado por homens arrogantes, que no longa são retratados ou de grandes imbecis, a exemplo do prefeito interpretado por Andy Garcia e o hilário assistente da equipe Kevin (Chris Hemsworth, cada vez melhor em papéis cômicos), ou homens assustadores, como o professor Filmore (Charles Dance) e o vilão Rowan North (Neil Casey). Este último inclusive possui todas as características conhecidas do conhecido machão moderno e antagonista ao gênero oposto: fraco, infantil e, como a trama bem define em certo momento, com cara de quem fica em casa o dia inteiro na internet.

O humor do filme surge, então, desses inevitáveis confrontos do cenário. Ao contrário dos outros trabalhos, Feig não mantém um ritmo frenético constante de gags ou leva seus personagens a extremos (a escatologia é controlada), mas direciona seus conceitos de comédia à essa afirmação de gênero da equipe do qual elas obtém a glória. Enquanto dá espaço ao elenco e trabalha com piadas físicas (o laser no saco do inimigo é um belo de um ápice dentro dessa linha), ele também se arrisca na ação, orquestrando planos que escondam (com sucesso ou não) sua inexperiência com o gênero ao materializar o empoderamento de suas protagonistas - não à toa, o longa duas vezes realiza um recuo de câmera que apresenta o momento em que o grupo liga suas armas, uma imagem que sozinha demonstra o poder contido dentro das quatro mulheres.

A força de Caça-Fantasmas mora justamente nesse processo. Pela imagem que coloca suas protagonistas em posições heroicas e a centralidade da temática feminista, Feig e seu quarteto promovem uma obra inspiradora, que tem em seus alicerces a valorização de ideais atuais e fundamentais a uma sociedade em plena transformação. O filme a bem da verdade funciona pela admiração, e a comprovação máxima de sua eficácia é o momento no terceiro ato em que Holtzmann - talvez um dos elementos mais importantes sob esse ângulo - enfrenta sozinha e com um par de pistolas criadas por ela um grupo de fantasmas, derrotando-os um a um com as poses e a imponência das quais tem direito e com naturalidade reivindica para si. O filme de 1984 não poderia estar mais distante e orgulhoso.

Nota: 8/10

sábado, 5 de março de 2016

Crítica: Zoolander 2

Continuação mantém a mentalidade do original enquanto tenta se renovar.

Por Pedro Strazza.

Chega a ser curioso que Zoolander 2, para colocar as suas peças em pontos de partida similares aos do original, tenha que apelar para uma longa introdução com tantas ou mais reviravoltas quanto seu próprio enredo. Já nesse prólogo, a sequência da comédia cult de 2001 admite a grande distância temporal do primeiro filme, reconhecendo um problema que logo em seguida será tornado por ele em temática central: como manter-se atual, mais de uma década depois, em um ambiente dominado pelo imediatismo cada vez mais acelerado?

Pois se há uma diferença principal de estrutura entre o primeiro e segundo capítulos, ela está nesta crise de adequação, antes uma consequência do arco vivido por seu protagonista e agora tornado em motor para os eventos. Desde que se aposentou das passarelas e salvou o mundo, há quase quinze anos, Derek Zoolander (Ben Stiller) teve sua vida virada de cabeça para baixo, perdendo no processo sua esposa (Christine Taylor), o filho (Cyrus Arnold), a sua instituição e mesmo o amigo e colega Hansel (Owen Wilson). Desaparecido nas montanhas como ermitão, ele decide voltar após receber um convite para fazer parte do desfile organizado por Alexanya Atoz (Kristen Wiig), no empenho de tanto retomar o estrelato quanto de recuperar o filho perdido. Além disso, Derek precisa ajudar a agente Valentina Valencia (Penélope Cruz) a solucionar o mistério envolto no assassinato de inúmeras celebridades, que antes de darem o último suspiro insistem em tirar uma selfie com uma das famosas poses com biquinho de Zoolander.

Não demora muito para o longa dirigido por Stiller - que também assina o roteiro ao lado de Justin Theroux, Nicholas Stoller e John Hamburg - esclarecer ao espectador que os choques culturais vividos por Zoolander e Hansel nesse retorno serão a principal linha narrativa da história. Dos contrastes mais escancarados (a comparação entre o celular minúsculo de Derek com os gigantescos das pessoas ao seu redor) às mudanças de comportamento mais sutis, o filme não esconde essa sua predisposição de encarar os anos 10 como um ambiente alienígena, ainda mais usando os dois modelos de QI baixo de trampolins para este humor rápido. De certa forma, é a mesma lógica empregada pelo original na personagem de Christine Taylor, dessa vez em caráter mais histriônico e definitivamente mais absurdo.

É também nesta comparação que Zoolander 2 acaba por se separar de seu antecessor, pois se este trazia a inadequação da jornalista de Taylor como ferramenta de sátira aos próprios tempos, aqui ela se faz pela recusa de ceder às inevitáveis mudanças. Como um jovem crescido nos anos 2000 e hoje adulto, Stiller trabalha seu protagonista para compensar o gap geracional, numa tentativa de renovar a imagem aos olhos de uma juventude em constante transformação e muito diferente da que ele conhecia, representada na figura do filho. E que maneira melhor de se resolver isso que o de salvar o dia mais uma vez, agora com o herdeiro de público para seus grandes feitos?

O que Stiller não percebe nesta construção, porém, é que ela não deixa de emitir um certo saudosismo, típico de alguém com dificuldades para aceitar o próprio amadurecimento e seguir em frente. Por mais que insista na possibilidade de sucesso desta renovação e termine a história com os dois protagonistas de novo cercados pelos holofotes e conseguindo soar naturais em suas inúmeras selfies, o longa parece se comportar como um indivíduo na crise de meia-idade, na retomada de uma juventude já passada e impossível de ser recuperada. Curiosamente, a produção parece reconhecer (com alguma irreverência) esse conflito temático quando põe Zoolander e Hansel em roupas identificadas como "velho" e "chato" sendo chicoteados pela modelo transsexual All (Benedict Cumberbatch), que voa com asas de anjo quase apocalípticas.

Outro problema gerado por essa contradição é o próprio humor do filme, que já parte datado do princípio. Apostando em uma progressão de sets dominadas mais e mais pelo absurdo - algo também seguido por Tudo por um Furo, outra sequência tardia de uma comédia do começo dos anos 2000 que é bem melhor executada - e participações especiais em notável acúmulo, as piadas não conseguem o mesmo respiro das do primeiro capítulo por estarem em claro segundo plano na narrativa, em um espaço mais limitado para brincar com a superficialidade do mundo de celebridades.

Se o humor de Zoolander 2 se deteriora com velocidade e torna-se incapaz de lidar com as situações abstratas que cria para situar seu arco principal, ele talvez sirva para atestar algumas das mudanças ocorridas na comédia estadunidense nesta última década quando comparado ao original, justamente por manter a mesma mentalidade de 2001. Na analogia desta justaposição, é possível perceber a preservação da piada física como central e até algum avanço na participação da mulher pelo maior papel de Wiig e Cruz em tais momentos cômicos, ainda que elas continuem a lutar "de maneira sexy" em trajes "provocantes" para agradar os homens que babam ao seu redor, tão infantis e com dificuldades para mudar quanto o filme que fazem parte.

Nota: 4/10

sábado, 3 de outubro de 2015

Crítica: Perdido em Marte

Otimista, Ridley Scott usa da ciência para brindar à sociedade.

Por Pedro Strazza.

É curioso, mas a ficção-científica precisar de um clima pesado e desesperançoso parece ter se tornado uma regra a ser seguida à risca pelo gênero no começo do século XXI. Como na transição de Kubrick para Spielberg vista em A.I. - Inteligência Artificial, os filmes da categoria que marcaram a década de 2000 e a metade dos anos 2010 abandonaram qualquer indício de esperança com a humanidade, sendo em sua maioria dominados por uma visão pessimista e estabelecedora de distopias de sistemas autoritários ou massacrantes que em comum tem o uso de paletas de cores frias para compor seu cenário. Esta ficção-científica "da depressão" quase alcançou um ponto crítico em 2014 com Interestelar, em que o olhar "realista" de Christopher Nolan tentou destituir a exploração espacial de qualquer encanto.
O gênero, porém, está tentando reencontrar o otimismo há tanto perdido nesta metade dos anos 10, primeiro com a ópera espacial de Guardiões da Galáxia e O Destino de Júpiter, depois com a visão utópica de Brad Bird e seu Tomorrowland - Um Lugar Onde Nada é Impossível. Agora, junta-se à este movimento de retomada Ridley Scott, que com o Robinson Crusoé espacial Perdido em Marte dá sinais de renúncia à frieza que marcou sua carreira na ficção-científica desde os tempos de Alien - O Oitavo Passageiro e Blade Runner - O Caçador de Androides.
Percebe-se essa tendência do diretor em querer ser mais positivo na obra pela maneira como o protagonista Mark Watney (Matt Damon) lida com a solidão na imensidão desértica do planeta vermelho, imposta depois de ser acidentalmente abandonado por sua equipe de expedição na fuga apressada de uma tempestade. Destituído de quaisquer laços afetivos e familiares - algo oposto ao papel de Matthew McConaughey em Interestelar, se é para manter a comparação com o filme de Nolan - o astronauta botânico lida com a situação por um viés mais imediatista e de sobrevivência, a princípio com preocupações de saúde e alimentação e depois de restabelecimento de comunicações com a Terra, ao som dos ritmos animados das músicas do cenário disco dos anos 80.
Esse imediatismo dos fatos abre espaço na narrativa desenvolvida por Scott para uma abordagem bastante social da história, pois embora Perdido em Marte seja um filme que a todo momento pregue a ciência como divindade a ser idolatrada - e o roteiro de Drew Goddard realiza isso muito bem ao não deixar entendiante ou complicado as inúmeras explicações científicas dadas na trama - sua maior veneração é em direção ao coletivo. É pelos esforços conjuntos, diretos ou indiretos, que Watney afinal consegue sozinho manter-se vivo no planeta, seja pelos itens deixados para trás pelos colegas ou nos auxílios dados pela NASA mais tarde.
Aos olhos de Ridley, o indivíduo oferece ao coletivo suas habilidades e características no mesmo passo que o coletivo é feito para servir ao indivíduo, e o cineasta não deixa de ressaltar ao espectador estes benefícios do viver em sociedade. Se no primeiro ato ele dá bastante importância ao isolamento do protagonista em Marte por meio de planos abertos e de grande profundidade (que o bem empregado 3D reforça com naturalidade estonteante), no clímax do terceiro ato o diretor dá destaque ao acompanhamento da Terra em torno do resgate ao astronauta, enquadrando diversas populações ao redor do globo como se o clima fosse o de uma verdadeira noite de ano-novo, com as pessoas ansiosas pelo momento de celebração comunitária máxima. É tanta a importância dada ao social que até a relações públicas da NASA (vivida por Kristen Wiig) tem espaço na narrativa.
A mensagem do filme é bela, mas não impede que a adaptação do livro homônimo escrito por Andy Weir tenha problemas na estrutura. Além das complicações para encaixar peças de roteiro na narrativa de forma orgânica - a ajuda dos chineses lá pro meio do segundo ato surge como um deus ex machina extremamente deslocado, crime capital em uma obra que impõe o racional - o longa mostra dificuldades semelhantes à Evereste (apesar de em menor grau) de equilibrar o gigantesco e talentoso elenco em mãos, com muitos dos arcos narrativos mau encerrados ou por completo abandonados. Os exemplos mais claros desta última são os vividos pelos personagens de Sean Bean, que pelo visto mais uma vez termina um filme em maus lençóis; Kate Mara e Sebastian Stan, cujo relacionamento é imposto no fim do terceiro ato com uma obrigação bastante desnecessária; e da própria Wiig, que, como outros vários, é abandonada pela trama assim que desempenha sua função.
São erros primários, mas que não chegam a derrubar o equilíbrio social-científico estabelecido e pelo qual a obra se guia satisfatoriamente. No mais, Perdido em Marte serve para ressaltar que o famoso jeitinho brasileiro não é exclusividade nossa: mesmo que apoiado em diversas teorias embasadas e calculadas pela ciência, o resgate de Mark Watney é no fim feito à base de sorte - e com um quê de Gravidade, outra ficção científica de viés pessimista que o filme de Ridley Scott tanto confronta.

Nota: 8/10