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terça-feira, 29 de março de 2016

Review: Demolidor - 2° Temporada

Assombrada pelo primeiro ano, série tem dificuldades para continuar a própria história.

Por Pedro Strazza.

Embora seja parte de uma série de televisão e esteja portanto encaixado em uma narrativa maior, é curioso como a segunda temporada de Demolidor recorre insistentemente a um mecanismo que vem se tornando cada vez mais frequente e quase obrigatório nas adaptações de quadrinhos de super-herói para o cinema: a preparação, o mito de que é possível construir uma história como mero trampolim para uma próxima, muito maior, empolgante e distante do espectador no momento de seu lançamento.

É uma mudança sutil, mas bastante vital para todo o modo de funcionamento da série nesse segundo ano, que de início tem em mãos a difícil tarefa de continuar o raciocínio da primeira temporada sem grande parte de suas peças. Com o império secreto de Wilson Fisk (Vincent D'Onofrio) derrubado e no momento fora de combate, os showrunners Doug Petrie e Marco Ramirez - que entram no lugar deixado por Steven DeKnight e o criador Drew Goddard - precisavam cercar a história de Matt Murdock (Charlie Cox) de novos elementos para ao mesmo tempo manter o seriado em destaque e continuar seu debate em cima da figura heroica e em formação do Demolidor.

Entram em cena então as figuras de Frank Castle (Jon Bernthal), o futuro Justiceiro, e Elektra Natchios (Elodie Yung), responsáveis por "elevarem o nível" e "deixarem as coisas mais pesadas" em Hell's Kitchen, como a série bem explicita em alguns diálogos (como os acima) e cenas de seus primeiros quatro episódios, buscando dar cabo de tal meta no restante da temporada. O uso da violência gráfica na narrativa, inclusive, é muito mais exagerado nesse segundo ano, adquirindo um viés quase sádico conforme o seriado se dedica a expor gargantas cortadas e corpos saraivados de tiros (algumas vezes de maneira bem ridícula, como nos slow motions do ataque à reunião de mafiosos irlandeses no primeiro capítulo) sem qualquer motivo maior além de, junto da fotografia ainda mais escura, deixar claro o maior peso de sua história - que, pela aparente lógica de Petrie e Ramirez, traz maior interesse ao programa.

Mas se na primeira temporada Fisk era trabalhado pelos roteiristas de forma a alimentar o conflito de visões sobre o que seria melhor para a cidade onde se passa a história, aqui é notável a hesitação dos mesmos em realizar um processo similar com esses dois novos elementos. Ainda que ora ou outra sejam voltados para sua relação com Murdock, Frank e Elektra nesses treze novos episódios trilham caminhos próprios e quase sem qualquer relação com os da série, muito mais dedicada em estabelecer os caminhos deles que alinhá-los com os seus. O resultado, previsível, é um esvaziamento de conteúdo em Demolidor, que termina preso em arcos pouco ou nada relacionados com sua temática principal.

E como um macaco de circo com dois pratos nas mãos, o seriado dança para entreter, recorrendo a diversos gêneros televisivos para ocupar o vão criado em seu interior. Do drama de tribunal aos épicos de predestinação, a série vai à base da tentativa e erro, testando formatos que possam ou não se encaixar em seus personagens e na história, que oscila constantemente entre a investigação do assassinato da família de Castle e a trama de conspiração envolvendo o Tentáculo. Dessas estruturas, a que talvez melhor funcione acontece no quinto e sexto episódios, quando os roteiristas compõem um triângulo amoroso entre Elektra, Murdock e Karen Page (Deborah Ann Woll) para evocar um pouco do debate sobre justiça para ricos e pobres realizado na primeira temporada, e consegue no processo equilibrar melhor os dois arcos atuais.

O maior problema deste segundo ano, porém, é que tudo é feito pensando apenas no futuro, sem conseguir tirar qualquer proveito das situações elaboradas. Personagens confrontam a relação, são abandonados na narrativa - ou ignorados por completo, como Foggy Nelson (Elden Henson) - e enveredam em monólogos cansados, enquanto a trama da temporada em si dá a impressão de dar voltas e voltas para no fim chegar a lugar nenhum e, paradoxalmente, deixar preparado os alicerces dos próximos capítulos. No fundo, o grande peso que Petrie e Ramirez vendem com tanto esforço soa quase tão falso quanto o plano-sequência do terceiro episódio.

Nota: 4/10

segunda-feira, 13 de abril de 2015

Review: Demolidor - 1° Temporada

Uma origem profunda para um confronto maniqueísta. 

Por Pedro Strazza.


Das várias particularidades existentes em Demolidor em relação ao universo que pertence, a mais curiosa definitivamente é seu caráter urbano. Após anos desenvolvendo filmes e séries focados em personagens que representam instituições ou visem a salvação da humanidade, é estranho ver a Marvel Studios contar a história de um homem que não sai de casa para combater o mal do mundo ou de sua cidade, mas sim de seu próprio bairro.

E o tom local do seriado dedicado ao Homem Sem Medo não poderia ser mais apropriado. A ausência de um grande combate no pano de fundo e de poderes espalhafatosos permite à série criada por Drew Goddard uma aproximação inédita do universo cinematográfico da Marvel com a realidade da população que o habita e que foi obrigada a passar por eventos maiores à sua existência. A destruição ocorrida em Nova York pelo clímax do primeiro Vingadores e o ambiente de tensão advindo de tais acontecimentos, afinal, serve como ponto de partida ideal para o embate planejado nesta primeira temporada.

Os combatentes aqui, porém, não carregam em sua essência os conceitos de bem e mal definidos, mas tem eles misturados em um caldeirão de incerteza quanto ao efeito de seus atos. É justamente essa dúvida que conduz as trajetórias de Matt Murdock (Charlie Cox) e Wilson Fisk (Vincent D'Onofrio) no primeiro ano de Demolidor, em um típico arco de origem para suas futuras e famosas personas: A intenção inicial de seus planos com a Hell's Kitchen pode ser a melhor possível, mas o curso dos eventos e as ações de caráter dúbio os faz repensar sua própria posição no grande jogo das coisas - não à toa, a frase "Estou fazendo o melhor para minha cidade" é repetida exaustivamente por ambos em diversas situações.

Conhecer as duas figuras centrais torna-se portanto uma obrigação para evitar o maniqueísmo simples, e esta é a chave do sucesso da série. Ao longo de seus 13 episódios, Demolidor se aprofunda no perfil de Murdock e Fisk para entender ao mesmo tempo os motivos que o levaram a estar ali e como eles se transformarão nas figuras que conhecemos, e contrasta-os a todo instante para o espectador compreender a oposição entre eles. Seja no design de produção, que destaca o multicolorido berrante nos lugares ocupados por Matt e os brancos e pretos nos de Wilson - e aqui é divertido destacar nos figurinos vestidos por sua namorada Vanessa (Ayelet Zurer) o uso frequente da cor característica dos ternos do Rei do Crime nos quadrinhos -, ou na montagem, o programa realça a noção de antagonismo entre herói e vilão, mesmo estes tendo no fundo o mesmo objetivo.

Nesse quesito, o seriado conta com dois ótimos atores para protagonizar o conflito apresentado. Se Cox é decisivo para encarnar um Matt Murdock que sente o peso da responsabilidade de seus poderes e a perda do pai, mas procura fazer um futuro melhor longe das grandes empresas de advocacia e com o vigilantismo, D'Onofrio é brilhante em fazer um Wilson Fisk atormentado, que mesmo com boas intenções com a Cozinha do Inferno sente o caminho duro trilhado e as ações maléficas tomadas. Seu relacionamento com Vanessa é acima de tudo uma visita a seu psicológico estraçalhado pelo pai, e ajuda a compreender muito bem o perfil impulsivo e monstruoso do Rei do Crime.

Essa dualidade funciona muito bem para tema, mas não consegue esconder do espectador os problemas da série, a exemplo do uso dos coadjuvantes. Enquanto vemos o confronto entre Murdock e Fisk se desenrolar, é frustrante o uso de Foggy Nelson (Elden Henson) e Karen Page (Deborah Ann Woll) e seus respectivos bons intérpretes como simples alívio cômico enquanto não utilizados pela narrativa central. Ao mesmo tempo, a enfermeira Claire (Rosario Dawson) desaparece e reaparece sem maiores explicações, e interrompe um desenvolvimento interessante de seu relacionamento com o protagonista.

Mas o grande erro do seriado ocorre de fato na sua transposição de gêneros, ocorrida a partir da metade de sua temporada. Mesmo que se combinem muito bem em outros casos, a transformação da trama policial e de vigilantismo em uma super-heroica prejudica Demolidor visivelmente, dotando-o de uma afetação incômoda e incoerente em alguns eventos - cujo ápice com certeza é a maquinação final de Wesley (Toby Leonard Moore) para ajudar o seu poderoso chefe.

São erros bobos os cometidos pela série, mas que em nenhum momento estragam a graça de seus acertos. De seu embate de mocinho e bandido conturbados às cenas de ação muito bem orquestradas (como esquecer o maravilhoso encerramento do segundo episódio?), Demolidor funciona muito bem para história de origem de seus personagens e como parte integrante do universo ao qual pertence. Seu encanto maior, porém, é a habilidade com a qual faz um próprio mundo para si e povoa-o com dois personagens extremamente bem elaborados em seus desejos e medos - este último um elemento muito importante para a formação do herói do título.

Nota: 8/10