Uma grande brincadeira de uma criança extremamente perfeccionista
Por Pedro Strazza
De vez em quando, porém, o maneirismo visual de Anderson consegue encontrar um encaixe perfeito na trama em que é aplicado, como é o caso deste O Grande Hotel Budapeste. O filme, primordialmente sobre as disputas hereditárias sobre as riquezas de uma rica viúva (Tilda Swinton, irreconhecível), usa da aparência mecânica e parada do diretor para complementar a sua posição de escárnio com a etiqueta e os costumes clássicos (ultrapassados já no começo do século XX, onde se passa a história principal) que o concierge Gustave (Ralph Fiennes) segue para comandar o hotel do título.
O tratamento estético do cineasta, por sinal, encontra nesta produção um de seus ápices: Do formato da tela (usado aqui para denotar o momento temporal em que se passa a trama) às maquetes miniaturizadas, passando até pela composição dos personagens e da atuação do elenco, todas as características habituais do diretor encontram-se realçadas e aperfeiçoadas, denotando um comprometimento surpreendente até para os seus padrões. Anderson está mais do que engajado com sua proposta visual de simplificar a realidade e tornar seu principal cenário (o hotel) em um coadjuvante para sua história.
O mais interessante de O Grande Hotel Budapeste ocorre, porém, a partir do momento em que conta essa história - Mais precisamente, na maneira como a banaliza. Adotando um formato narrativo parecido com uma matrioshka (as bonecas russas que cabem uma dentro da outra), o longa se inicia no presente para já alertar, à medida que volta no tempo, da insignificância dos eventos narrados no passado e de suas motivações supérfluas, reforçando esta tendência de forma sutil (um quadro estranhamente fixado na parede da recepção, por exemplo) conforme a trama avance.
O que sobra então de uma história considerada como fútil pelo próprio roteiro? De fato esta é a grande questão trazida pelo filme (e talvez até de nossa própria existência), e sua resposta surge em sua dupla protagonista. Conforme a trama do longa avança, Gustave e Zero (Tony Revolori) realizam uma jornada por algo que representa não só a salvação para o lugar em que vivem e trabalham, como também pela chance de manter aceso o momento feliz vivido inconscientemente. Não por acaso, portanto, que a solução do mistério principal aos poucos perca a importância no decorrer do roteiro, pois sua relevância é zero para os principais personagens.
Ainda que apresente diversos personagens de única função na história (A Sociedade das Chaves Cruzadas, por exemplo, desaparece tão rápido quanto surge) e distancie o espectador dos protagonistas, O Grande Hotel Budapeste traz interessantes propostas narrativas e um perfeccionismo visual surpreendente por parte de seu diretor. O cuidado de Wes Anderson com suas histórias, mesmo que aqui sejam consideradas pelo próprio como irrelevantes, ainda trazem um fascínio pouco visto na História do cinema.
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