domingo, 13 de março de 2016

Primeiras Impressões: Thor, A Deusa do Trovão

Mesmo misteriosa, nova Thor consegue driblar fase inicial de estranhamento.

Por Pedro Strazza.

Séries que juntas formam a recente mensal Novíssimos Vingadores no Brasil, os primeiros passos dados por Novíssimo Capitão América, Homem de Ferro Superior e esta Thor, A Deusa do Trovão são quase antagônicos entre si. Todas as três novas versões ao trio de heróis fundamental aos Vingadores, cada uma das edições encontra em seu primeiro capítulo uma maneira diferente de se firmar como contraponto ao original, tentando aproveitar no processo a principal mudança em sua concepção, seja esta a mudança de etnia (quem traja o escudo de Steve Rogers é Sam Wilson, o Falcão), de percepção (Tony Stark mostra-se mais maquiavélico) ou de gênero (o martelo de Thor é erguido por uma mulher agora).

Mas enquanto que a versão rejuvenescida do Capitão América e a obviamente espelhada nos bilionários do Vale do Silício do Homem de Ferro soam hesitantes a princípio neste ato de transformação, desviando em temas políticos neutros - o primeiro, ainda com a ligação mestre-aprendiz de Wilson com o agora envelhecido Rogers, mostrando-se mais interessado numa discussão que não envolva marginalizações, o segundo distraído numa questão de elite endinheirada versus os pobres incapazes de arcar com os custos de uma melhor qualidade de vida -, o início da trajetória da Thor abraça a mudança com um certo gosto, inclinada em suas páginas a tratar destas mudanças de forma central. O que não deixa de ser inesperado, visto que a protagonista só se manifesta aqui lá nas últimas duas páginas da revista.

A bem da verdade, quem assume o protagonismo nesta primeira edição é Freyja, esposa de Odin que se tornou a Mãe Suprema e assumiu o governo (e os eternos perrengues) da antiga Asgard após o marido desaparecer. Com o marido retornando ao posto e seu filho Thor incapaz de erguer o Mjolnir desde o fim da saga Pecado Original, ela acaba jogada para o escanteio pelo Pai Supremo, mas mostra-se bastante combativa em abandonar o poder conquistado em favor de Odin. Essa briga pelo poder é tratada com grande importância no roteiro de Jason Aaron, em igual passo à crise que o Thor tem de não poder levantar o martelo.

Aproveitando a brincadeira subjetiva implícita nesta última expressão, é inevitável então que este transtorno do herói com sua arma, em conjunto da ascensão da Thor, não deixe de emular um pouco da própria crise do macho no mundo contemporâneo, e Aaron e o desenhista Russell Dauterman (auxiliado pelas cores de Matthew Wilson, que por enquanto se basta em repetir o belo tom aquarelado do antigo ilustrador da série, o croata Esad Ribic) sabem lidar com isso muito bem. Cenas como a de Odin furioso tentando mover o martelo de maneira birrenta ou a própria figura do Thor depressivo de frente à arma são felizes em evidenciar o lado ultrapassado de tais relações da mitologia nórdica, principalmente quando se põe Freyja em uma posição tão austera e de autoridade em relação ao marido.

É uma preparação interessante e com certeza bem planejada, que serve aos propósitos da revista em introduzir a "controversa" e poderosa figura que é esta misteriosa Thor (cuja identidade já se foi revelada nos EUA, várias edições à frente da publicada no Brasil, e que preservo para manter a surpresa a quem desconhece). Aaron inclusive continua a desenrolar aqui a narrativa ecológica de sua fase na série - o maior vilão ainda é a poluente corporação Roxxon, bom lembrar -, afim de já estabelecer alguma temática inicial e evitar qualquer estranhamento com sua mais nova protagonista. E isso é ótimo, pois mesmo que só esteja chegando agora e carregue toda uma aura desconhecida, a personagem soa como se estivesse entre nós há tempos.

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