Rebecca Miller realiza exercício de combinação em comédia que prioriza o mais fácil.
Por Pedro Strazza.
Desde que estreou no festival de Toronto do ano passado, O Plano de Maggie vem acumulando comparações da crítica com os filmes de Woody Allen, seja na forma de elogios ou críticas. É verdade que o longa de Rebecca Miller não hesita em copiar os moldes consagrados pelo diretor nova iorquino, preservando no processo (de alguma maneira) suas discussões sobre a veracidade da magia do amor, mas a cineasta não deixa de adicionar elementos próprios à fórmula.
O filme conta a história de Maggie (Greta Gerwig), uma professora de uma universidade de design que quer se tornar uma mãe solteira. Para isso, ela resolve fazer uma inseminação artificial por conta própria, usando o esperma cedido por um empreendedor de picles local (Travis Fimmel) que ela não deseja. Sua ideia, porém, é abandonada quando ela conhece e se apaixona por John (Ethan Hawke), um antropólogo casado com outra antropóloga (Julianne Moore), pai de dois filhos e que tem uma vida infeliz.
Miller alia aqui as comédias de tipos clássicas de Allen com as do gênero screwball que caracterizam uma porção da produção independente dos Estados Unidos, e no geral não sai muito desse esquema. É uma decisão correta, ainda que preguiçosa como o longa bem comprova em alguns momentos: se o segundo subgênero gera uma zona de conforto à cineasta e seu elenco - com Gerwig, Hawke e os coadjuvantes Bill Hader e Maya Rudolph bastante à vontade para repetir seus papéis de sempre, enquanto Moore se diverte como a mulher divorciada e ressentida – o primeiro é um território onde a diretora e roteirista pode experimentar algumas novas ideias sem arriscar a estrutura geral da obra, injetando no filme uma problematização de uma temática conhecida ao público.
E qual temática seria essa? Essa é uma questão que Miller aos poucos revela em seu longa, que no fundo se faz em uma história em dois atos (a repetição da cena do jantar, mesmo que rápida, é fundamental para entender isso) e preza por enxergar uma rotatividade nas relações amorosas. É para isso dar certo que Miller realiza esse exercício de combinação de gêneros, misturando os trejeitos e manias imutáveis dos personagens tipificados com a escalada de confusão ao qual o screwball se define como tal.
De certa forma, isso acaba por funcionar muito bem ao Plano de Maggie, que com isso ganha um fio condutor mínimo. O filme talvez se perca demais nas complicações que realiza na trama e aos seus personagens (há uns bons vinte minutos ali no meio que são improdutivos) e no fim ele pode soar um pouco sem ponto, mas seu esforço de ressignificação do gênero - e mesmo de questionamento do amor como fim - oferece um charme inegável à produção, ainda que bem disfarçado na estética mecânica de um trabalho de Woody Allen.
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