domingo, 16 de outubro de 2016

Crítica: Mônica - Força

Com drama familiar intenso, 12° Graphic MSP opta por saídas fáceis.

Por Marina Ammar.

O que aconteceria com a querida Mônica se a dona da rua não pudesse utilizar de sua força para resolver um problema?

É com essa questão que Bianca Pinheiro apresenta sua adição ao selo Graphic MSP. Força é uma história protagonizada apenas por Mônica, em contrapartida com os volumes Laços e Lições dos irmãos Vitor e Lu Cafaggi, protagonizados pelo quarteto do Limoeiro. 

Na obra¸ Bianca propõe explorar mais a fundo um lado pouco exposto da personagem: sua fragilidade diante de situações que não podem ser resolvidas através da força bruta. Para isso, o conflito principal envolve seus pais, enrolados com brigas e ameaças de separação. Para Mônica, em seus 7 anos de vida, a percepção do peso de sua realidade vem bem retratado no ritmo frenético e ao mesmo tempo rotineiro com o qual Bianca apresenta a evolução do dia a dia da menina, a cada página mostrando um novo choque dentro de um mesmo contexto. 

A discussão dos pais em si é permeada eternamente pela torneira da cozinha, que, quebrada, pinga sem parar, estressando-os ainda mais. Mônica sugere ao pai que peça ajuda da esposa e à mãe a do marido, mas ambos se recusam de maneira terminal a trabalhar juntos para resolver o problema. 

Intercalando a narrativa da atmosfera pesada na casa de Mônica com curtos passeios pela rua, Bianca mostra como o conflito interno na vida da garota afeta seu comportamento. A percepção de que sua força física não pode resolver sozinha os problemas a desanima, fazendo-a recusar bater em Cebolinha e Cascão - mesmo após mais uma das repetidas travessuras - e evitar as amigas em prol de permanecer em casa. Fechada em seu quarto, Mônica matuta na melancolia infantil de uma criança que começa a compreender a mutabilidade de seu mundo. 

Finalmente assolada por um pesadelo que materializa as brigas como um monstro que ela não pode derrotar com os punhos, Mônica acorda de madrugada e encontra o pai no sofá. Ao pedir por uma explicação, ele diz que precisa de espaço para pensar, e que ele e a mãe podem não conseguir pensar no mesmo quarto (ou na mesma casa) apenas porque algumas vezes as pessoas saem de sintonia.  Revoltada com a quebra familiar tão iminente, Mônica toma para si a responsabilidade de consertar a pia, cujo barulho das gotas parece agora ritmar os conflitos em sua casa. A noite passa improdutiva, claro, mas ao encontrar a filha adormecida na cozinha após exigir que o barulho que rompia seu ambiente fosse consertado os pais se reconciliam para consertar a torneira. 

Mônica acorda e caminha para a cozinha para descobrir os pais trabalhando em união e ser recebida por um bom dia morno e familiar, ao invés da atmosfera de reunião forçada que havia sido apresentada para si nos dias anteriores. O fim da história, ao menos pelo que se pode ver, é feliz – a família reunida pelos esforços de uma criança que faz o que está ao seu alcance para evitar uma mudança drástica de seu mundo. 

Apesar de terna e explorar de maneira íntima a capacidade da força interna de Mônica - não apenas exaltando sua conhecida força interior - Força falta porém com a própria lição ao apresentar um final “feliz”. Essa decisão quebra com a moral que viria pelo aprendizado de superação de uma adversidade e o de aceitar uma nova situação, apresentando ao invés disso uma previsível vitória sobre um problema em prol da retomada da situação original. Apesar de sensível, o fim torna precário a felicidade familiar apresentada no final da história, já que não há garantia alguma de que os esforços infantis de Mônica sejam capazes de manter a família em conjunto. 

Apesar de atrapalhada com a conclusão, Pinheiro ainda assim nos oferece um conto ilustrado com delicadeza e a adorabilidade de um traço macio, com expressões que apesar de pesarem no contexto, não agridem os olhos. Ela é capaz de abordar o tema doloroso para uma criança e apresentar urgência sem criar em excesso sentimentos angustiantes ao redor de uma personagem tão querida, e mesmo que contrarie uma possível moral nos prova que Mônica possui a força exterior e interior de uma verdadeira dona da rua.

Nota: 7/10

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