Brillante Mendoza escapa do senso comum, mas não chega a reinventar subgênero como gostaria.
Por Pedro Strazza.
Filmes que tratam da temática dos marginalizados, especialmente aqueles ambientados na favela, tem a tendência natural de assumir a causa social como norte, seja pela militância ou por sua faceta mais perversa. É um viés inevitável de qualquer produção do tipo, mas hora ou outra aparece alguma produção disposta a desafiar estes conceitos. Ma' Rosa, novo trabalho do diretor Brillante Mendoza, é um desses filmes.
Escrito por Troy Espiritu, o longa acompanha Rosa (Jaclyn Jose) e Nestor (Julio Diaz), casal que junto dos três filhos toca uma lojinha na região periférica de Manila e, para ajudar a pagar as contas, usa o local como ponto de venda de drogas pesadas. Certa noite, porém, os dois são presos em flagrante pela polícia, que mantendo-os presos na central pedem por um caríssimo suborno para liberá-los. Os filhos, então, passam a correr atrás de recursos que libertem seus pais.
Permeado por personagens tipo conhecidos do subgênero (o traficante, o policial corrupto, o ladrão, o prostituto, etc), a história é desenvolvida por Mendoza como um filme lúdico e que privilegia os espaços como seu campo de atuação. Sinal mais claro disso está na delegacia e na sala onde grande parte da trama se passa, local que o diretor filipino desenvolve uma dinâmica pautada por planos longos e dominado por constantes aproximações de câmera nos elementos que lhe importam no momento. É uma maneira inusitada de criar uma maior tensão nas cenas, que pelas shaky cams fazem o conhecido retrato da sujeira institucional na polícia sem necessariamente criar algum julgamento sobre tal.
Essa medida tira Ma'Rosa do campo do óbvio, mas também não faz muito na hora de dar sustentação a ele. Ao deixar de lado a crítica social, o longa parece ser incapaz de substituir a temática por outra de igual valor, o que por consequência a esvazia de significado. Mendoza até ensaia nos últimos momentos uma união familiar em meio à crise, mas seu filme não escapa de se situar sobre um senso comunitário arredio que domina os personagens e os diversos mundos que habitam mesmo estando em um mesmo ambiente.
Se isso chega a funcionar alguma vez, é porque a dinâmica espacial do diretor é muito bem resolvida, como nas duas cenas que envolvem um personagem fazendo a travessia do fundo até a fachada da delegacia e (principalmente) na situação claustrofóbica que se concebe no palco central da delegacia. O clichê da câmera tremida permanece aqui como um elemento importante para situar o espectador no cenário do marginalizado, mas ganha retoques de um primeiro ato de truque de mágica, disfarçando um experimento de subgênero inesperado de obra que segue todos os moldes deste. Uma pena, então, que a parte final dessa mágica seja um tanto quanto decepcionante.
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