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quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Crítica: Batman Noel

Incompatibilidade de tramas prejudica homenagem de Lee Bermejo.

Por Pedro Strazza.

Não há dúvidas de que Um Conto de Natal é uma das obras literárias mais adaptadas para outras mídias. A história da visita de três fantasmas ao velho e avarento Ebenezer Scrooge não só é um dos maiores clássicos do escritor Charles Dickens como ainda foi imortalizado na cultura popular como um conto tradicional das festas de fim de ano, graças à sua ode ao desapego e à felicidade. Ao longo do tempo, várias versões foram feitas em cima da original, e as com maior destaque incluíram na trama personagens famosos de diversos estúdios e empresas, como Mickey, os Muppets e os Looney Tunes.
A maneira como estas adaptações foram feitas, entretanto, sempre prezam por inserir os protagonistas no romance de Dickens, e não o contrário, coisa que o quadrinista Lee Bermejo faz em Batman Noel. Primeiro trabalho escrito e desenhado pelo americano, a graphic novel realiza essa inversão criativa com certa inteligência, trazendo trechos do livro para as ruas de Gotham City para transformá-las em uma narrativa de ação, focada no combate ao crime do Homem-Morcego na noite de Natal.
Nesse processo delicado, Bermejo substitui a mesquinharia pela necessidade de justiça, um motor interno muito mais relacionável as histórias de Bruce Wayne, mas que soa um pouco perdido no roteiro do quadrinho. A temática, além de já muito explorada por outros artistas, é muito característico do personagem e pouco geral para se encaixar como fábula, e torna a jornada de Batman muito difícil de se conectar. E é só ser apresentado para o combustível desse "vício" e ler o desfecho que se percebe a falta de encaixe da base da HQ com a própria.
Independente desta incoerência de adaptação inversa, é divertido ver como Bermejo brinca com o convencional e molda figuras da DC Comics nos papéis da obra de Dickens. Dos fantasmas (interpretados aqui por Mulher-Gato, Superman e Coringa) à cidade (Gotham está mais Londres do que nunca), o autor consegue homenagear os dois lados da moeda, e transporta tanto os quadrinhos para a literatura quanto o contrário. Seu traço realista tradicional e baseado no impacto da luz em ambientes e feições garante essa combinação visual, mesmo com erros aqui e acolá no encadeamento dos fatos.
Batman Noel está longe de ser um clássico conto do Homem-Morcego nos quadrinhos. Mas mesmo com problemas ocasionados por uma ousadia de transposição e modificação, é admirável os esforços do autor em realizar isso como possível e ao mesmo tempo entregar uma história minimamente interessante. Pena que o acerto não seja total.

Nota: 6/10

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

Oscar 2015: Indicados e Vencedores

Academia premia Birdman, O Grande Hotel Budapeste e Whiplash.

Por Pedro Strazza.

Na noite deste último domingo (dia 22/02), a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas realizou no Dolby Theater a 87° edição dos Academy Awards. Com uma apresentação bastante irregular de Neil Patrick Harris - que depois de um início arrasador errou feio ao forçar suas piadas entre os anúncios dos apresentadores - e com algumas surpresas aqui e ali, a cerimônia de entrega do Oscar consagrou Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância), que além de sair com o prêmio de Melhor Filme foi ao lado de O Grande Hotel Budapeste - premiado apenas nas categorias técnicas - o que mais acumulou estatuetas, levando cada um 4.
Atrás das produções de Alejandro González Iñarritu (que sozinho levou 3 troféus!) e Wes Anderson ficou Whiplash - Em Busca da Perfeição, vencedor nas categorias de Ator Coadjuvante (para J.K. Simmons), Mixagem de Som e Montagem. Grande adversário de Birdman na disputa de Melhor Filme e favorito ao título no início da temporada, Boyhood - Da Infância à Juventude acabou levando pra casa apenas o Oscar de Atriz Coadjuvante, concedido a Patricia Arquette, e se igualou ao restante dos indicados a Melhor Filme em número de prêmios - vale lembrar, esse é a primeira vez no formato de até 10 nomeações na categoria que todos os indicados ganham pelo menos um troféu na noite.
Confira a lista completa de indicados e vencedores do Oscar 2015:

Melhor Filme

Melhor Diretor

Melhor Atriz

Melhor Ator

  • Steve Carell (Foxcatcher - Uma História que Chocou o Mundo)
  • Benedict Cumberbatch (O Jogo da Imitação)
  • Michael Keaton (Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância))
  • Eddie Redmayne (A Teoria do Tudo)
  • Bradley Cooper (Sniper Americano)

Melhor Ator Coadjuvante

  • Robert Duvall (O Juiz)
  • Ethan Hawke (Boyhood - Da Infância à Juventude)
  • Edward Norton (Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância))
  • Mark Ruffalo (Foxcatcher - Uma História que Chocou o Mundo)
  • J.K. Simmons (Whiplash - Em Busca da Perfeição)

Melhor Atriz Coadjuvante

  • Patricia Arquette (Boyhood - Da Infância à Juventude)
  • Laura Dern (Livre)
  • Keira Knightley (O Jogo da Imitação)
  • Meryl Streep (Caminhos da Floresta)
  • Emma Stone (Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância))
Melhor Canção Original

Melhor Roteiro Adaptado

  • Sniper Americano
  • O Jogo da Imitação
  • Vício Inerente
  • A Teoria do Tudo
  • Whiplash - Em Busca da Perfeição

Melhor Roteiro Original

  • Birdman ou A Inesperada Virtude da Ignorância
  • Boyhood - Da Infância à Juventude
  • Foxcatcher - Uma História que Chocou o Mundo
  • O Grande Hotel Budapeste
  • O Abutre
Melhor Longa de Animação

Melhor Documentário em Longa-metragem

  • Citizenfour
  • Last Days in Vietnam
  • Virunga
  • Finding Vivian Maier
  • O Sal da Terra

Melhor Longa Estrangeiro

Melhor Fotografia

  • Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância) (F)
  • O Grande Hotel Budapeste
  • Ida
  • Mr. Turner
  • Invencível

Melhor Figurino

  • O Grande Hotel Budapeste
  • Vício Inerente
  • Caminhos da Floresta
  • Malévola
  • Mr. Turner

Melhor Montagem

  • Sniper Americano
  • Boyhood - Da Infância à Juventude
  • O Grande Hotel Budapeste
  • O Jogo da Imitação
  • Whiplash - Em Busca da Perfeição

Melhor Maquiagem e Cabelo

Melhor Trilha Sonora

  • O Grande Hotel Budapeste
  • O Jogo da Imitação
  • Interestelar
  • Mr. Turner
  • A Teoria do Tudo

Melhor Design de Produção

  • O Grande Hotel Budapeste
  • O Jogo da Imitação
  • Interestelar
  • Caminhos da Floresta
  • Mr. Turner

Melhor Edição de Som

Melhor Mixagem de Som

  • Interestelar
  • Whiplash - Em Busca da Perfeição
  • Invencível
  • Sniper Americano
  • Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)

    Melhores Efeitos Visuais

    domingo, 22 de fevereiro de 2015

    Crítica: Um Santo Vizinho

    Bom elenco salva narrativa mal estruturada.

    Por Pedro Strazza.


    Um Santo Vizinho é um filme um tanto quanto indeciso. Embora possua em grande parte de seu primeiro ato uma forte tendência ao humor ao apresentar o protagonista, seu miolo e encerramento pouco procuram cair para o lado cômico e até chegam a tocar em dramas sérios do cotidiano. É quase uma colagem de duas histórias completamente diferentes, como se o diretor Theodore Melfi quisesse fazer de sua estréia em longa-metragens uma compilação de dois curtas distintos, mas que usam dos mesmos personagens - que de maneira óbvia atuam somente em cima de um principal.

    O protagonista, nesse caso, é Vincent (Bill Murray), um senhor idoso ranzinza que tem uma vida de limites. Atolado em contas e devedores para pagar, ele passa os dias bebendo no bar, transando com a prostituta Daka (Naomi Watts) e apostando em corridas de cavalo. Mas essa sua rotina autodestrutiva muda quando a mãe solteira Maggie (Melissa McCarthy) torna-se seu vizinho e logo o encarrega de cuidar do filho Oliver (Jaeden Lieberher). E assim como em todo filme indie do gênero, a relação entre a criança e o idoso afetará ambos, alterando suas pessoas aos poucos e etc.

    É essa previsibilidade da trama que afeta bastante os rumos do longa. Embora tenha escrito um roteiro que aos poucos revela uma carga dramática interessante, em nenhum momento Melfi parece perceber o tom progressivamente mais pesado de sua história ou consegue esconder do espectador a sensação de auto-ajuda, e com isso a narrativa em pouco tempo torna-se instável e um tanto arrastada. Não bastasse isso, Melfi ainda sofre de uma síndrome de inconstância: se em determinadas passagens ele flerta com o drama de seus personagens para construí-los, em outras ele prefere manter o máximo de superficialidade possível.

    Mas se o diretor comanda o roteiro sem muita mão, com os atores e atrizes à disposição ele age muito bem. Muito bem escalado por Laura Rosenthal e formado em sua maioria por astros da comédia (além de Murray e McCarthy há também Chris O'Dowd como o padre Geraghty), o elenco fornece a seus personagens uma sensação interessante de decadência, que contribui de forma decisiva para compor a visão dos EUA pós-crise de 2008 oferecida pelo filme. A predominância de comediantes, inclusive, é vital para construir esse lado pessimista da produção, pois cria no espectador a sensação de que aqueles personagens já foram mais felizes e que agora estão condenados à uma dura e nada esperançosa realidade.

    O grande destaque do elenco, porém, fica mesmo para Murray, que sendo o único a possuir um papel mais profundo consegue fazer de seu Vincent um ser multifacetado e atraente ao público na sua rabugice. Tão feliz na interpretação são também o estreante Lieberher, capaz de escapar da obviedade para elaborar um Oliver pautado no resultado das rusgas entre sua mãe e pai no passado, e Watts, que em alguns instantes consegue trazer algum destaque para a prostituta Daka por meio do humor.

    Apesar dos erros graves em sua estrutura e em seu roteiro, Um Santo Vizinho é capaz de em alguns momentos escapar da auto-sabotagem de seu diretor e entregar cenas interessantes, geradas por boas atuações de um casting muito bem construído. Se estivesse em mãos melhores, é muito provável que o filme teria obtido maior sucesso e visibilidade que o atingido.

    Nota: 5/10

    sábado, 21 de fevereiro de 2015

    Top 8: Oscar de Melhor Filme 2015


    Por Pedro Strazza

    É a época de mais um Oscar, e, como no ano passado, organizo agora a lista deste ano de indicados ao principal prêmio concedido pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas. Bom lembrar, o site de novo contém críticas de TODOS os oito escolhidos pelos votantes ao troféu de Melhor Filme, e os links para esses textos estão incluídos em seus nomes no ranking.
    Mas chega de papo furado e vamos conferir o que temos de bom (e mediano) dessa vez:

    8) O Jogo da Imitação

    Este de fato é o filme que não merece estar entre os indicados. Novelesco e raso do começo ao fim (OK, ali nos últimos minutos eles tentaram criar profundidade), a cinebiografia de Alan Turing feita pelo norueguês Morten Tyldum possui poucos momentos de destaque em sua narrativa convencional, e quando consegue é graças ao esforço de Benedict Cumberbatch em tornar seu papel mais interessante que o permitido pela produção. Havia coisa melhor no pacote, Academia.

    7) A Teoria do Tudo

    Outro cinebiografia de um acadêmico famoso, outro filme que também achei sem o necessário pra estar aqui. Embora aprecie a maneira como James Marsh evita tornar a história de vida de Stephen Hawking em um dramalhão inconveniente, acho A Teoria do Tudo um filme também raso justamente pela ausência total de qualquer drama na história, impedindo que as atuações de Felicity Jones e Eddie Redmayne cheguem ao seu potencial total. No final, o longa parece encantar menos por seu conteúdo e (muito) mais pelo que sabemos ao entrar na sessão.

    6) Selma - Uma Luta Pela Igualdade

    Quando a temporada de premiações começou (láááá em novembro de 2014), Selma - Uma Luta Pela Igualdade saiu explosivo, aplaudido pela crítica e tomado como dos principais concorrentes ao prêmio. E ao sair da sessão, também tive a mesma sensação. Mas assim como na disputa pelo Oscar, o filme dirigido por Ava DuVernay caiu com velocidade na minha opinião, mesmo com uma mensagem poderosa sobre o racismo. Ao contrário de 12 Anos de Escravidão, Selma não consegue manter por tanto tempo o impacto no espectador, que em questão de poucos dias já parece esquecer de ter visto o filme.

    5) Sniper Americano

    Apesar dos problemas sérios de ideologia (e sua repercussão nos EUA só prova isso), o novo trabalho de Clint Eastwood faz jus à reputação feita em torno de seu talento. O diretor aplica com sucesso sua metodologia do cavaleiro solitário à figura do polêmico e falecido atirador Chris Kyle, e dessa mistura resulta mais uma história de como a guerra afeta o ser humano. Nada inédito, mas quando a fórmula funciona não se pode negar sua eficiência.

    4) Whiplash - Em Busca da Perfeição

    É muito difícil de pensar que esta obra é apenas a segunda na carreira do diretor Damien Chazelle. De ritmo intenso e capaz de tirar o fôlego sem você perceber, Whiplash é daqueles filmes que te fazem sair do cinema energético, e de quebra nos faz refletir sobre o ensino e os perigos da obsessão. E por sinal, o que foram aquelas incríveis atuações de Milles Teller e J. K. Simmons?

    3) O Grande Hotel Budapeste

    Conheço e aprecio os trabalhos de Wes Anderson desde sua experiência com stop-motion em O Fantástico Senhor Raposo, e mesmo que ainda tenha como favorito o pouco conhecido Moonrise Kingdom é preciso admitir seu ápice atingido com O Grande Hotel Budapeste. Mais Wes Anderson do que nunca, o diretor empregou todo o seu talento para conceber esta homenagem ao cinema dos anos 30 e 40, e com a ajuda sublime de um elenco invejável. Os aplausos e o reconhecimento merecido enfim vieram.

    Antes de continuarmos, quero esclarecer que os dois primeiros colocados desta lista para mim estão empatados tecnicamente. Cada um à sua maneira, eles fazem por merecer o prêmio máximo da 87° edição dos Academy Awards.

    2) Boyhood - Da Infância à Juventude

    Desde que foi indicado a Melhor Filme, venho ouvido em conversas com amigos que Boyhood - Da Infância à Juventude só ganhou destaque por causa dos seus famosos 12 anos para ser feito (e não de escravidão, como é sempre bom lembrar). E eles estão certos. Ousado por escolher realizar este projeto, Richard Linklater conseguiu fazer do seu aspecto técnico mais chamativo a medula óssea do filme, tornando Boyhood uma reflexão interessante sobre o tempo e seus efeitos no ser humano. Poderoso, sem dúvida alguma.
    Mas o Melhor Filme de 2015 pra mim é:

    1) Birdman ou (A Inesperada Virtude da Ignorância)

    Uma piração enlouquecida desde seu primeiro minuto, o filme dirigido por Alejandro González Iñarritu atira com precisão pra onde mira. Colocando o seu "falso plano-sequência eterno" na perspectiva dos atores, o mexicano (e um Michael Keaton embirutado) se aprofundam nos bastidores para falar dos egos enlouquecidos que dominam Hollywood, e de como estes afetam produções inteiras ao se chocarem. Foi um voo arriscado, mas muito bem sucedido