Combinação de adrenalina e George A. Romero, terror é cartunesco e claustrofóbico em seus melhores momentos.
Por Pedro Strazza.
Chega a ser um pouco transparente demais as influências que o sul-coreano Yeon Sang-ho teve ao conceber Invasão Zumbi, terror que estreou no Festival de Cannes e que vem ganhando atenção especial do público desde então. Cineasta emerso da animação, o diretor e roteirista adota como norte para o longa principalmente o ritmo frenético, ponto característico de sua área de experiência, e o flerte constante com a obra de George A. Romero, pai do gênero ao qual ele agora busca se encaixar.
São duas máximas que logo se convertem em convenções no longa, que segue um grupo de passageiros de um trem em busca de uma escapatória do apocalipse zumbi que acaba de estourar. Para isso, eles precisam chegar à estação da cidade de Busan, local onde em teoria há uma das últimas zonas de segurança contra a infecção de causas desconhecidas. O caminho até lá, porém, não será dos mais fáceis, e é nesse cenário que Sang-ho aproveita para trabalhar seus sets de ação desesperadores e da mais pura pretensão lúdica.
Nesse sentido, Invasão Zumbi é ao mesmo tempo um filme bastante honesto e recompensador no que faz. Com personagens estereotipados e uma alegoria social adequada à realidade coreana em mãos, a produção sabe se valer do ambiente claustrofóbico do trem onde a maioria da história se passa para imprimir tensão, ainda mais com uma dinâmica tão corrida e dotada de uma fisicalidade rara ao gênero hoje - os personagens não exatamente possuem muitos recursos além dos próprios punhos para se defender dos zumbis atléticos que os perseguem. O uso disso para criar imagens que remetem à questão do crescimento desenfreado da população no país ajuda a tornar tudo isso ainda mais único, diferenciando a obras de tantas outras no tema.
Mas em meio a essa habilidade em lidar com uma narrativa mais dinâmica o diretor talvez acabe por se apoiar demais nos próprios referenciais, o que não só leva o longa ao campo do óbvio como também o transforma num trem sem freio e desgovernado. Prova disso é o terceiro ato do filme, que longe das situações contidas oferecidas anteriormente usa demais dos clichês para resolver os arcos dos personagens em caráter quase sequencial, envolvendo questões de sacrifício e sobrevivência que parecem funcionar apenas no sentido de retardar o "frenetismo" da produção. Nesse momento, Sang-ho confunde o flerte com cópia, e assume um conjunto de resoluções que já foi levado à exaustão no cinema de Romero.
No fim, o que faz de Invasão Zumbi um trabalho tão divertido é essa mistura de uma ação mais cartunesca e típica da produção sul-coreana - os zumbis quase dançam break dance em suas poses e tremeliques - com a alegoria social típica do gênero, que preza por uma mensagem forte sem perder de vista o entretenimento. O exercício de conciliação dessas duas partes parece ser suficiente a Sang-ho, que no resto não pode fazer muito mais além de injetar adrenalina.
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