domingo, 9 de outubro de 2016

Crítica: 12 Horas Para Sobreviver - O Ano da Eleição

James DeMonaco enfim encontra o equilíbrio entre filme B e alegoria social para franquia Uma Noite de Crime.

Por Pedro Strazza.

Embora tenha estabelecido desde seu primeiro capítulo que suas histórias se ancoram em um espaço contemporâneo, a franquia Uma Noite de Crime sempre mostrou dificuldade em demonstrar o potencial de seu terror como reflexo da realidade. As noites de purgação que são tema do filme original e de sua continuação, Anarquia, em teoria se complementam para oferecer uma forte crítica aos rumos tomados pela política estadunidense em relação aos mais pobres, mas na execução estão dissolvidas nos esforços do diretor e roteirista James DeMonaco de fazer de sua proposta um suspense de baixo orçamento.

Mas se no primeiro Uma Noite de Crime o cineasta estava completamente perdido na própria proposta, a cada novo episódio da série DeMonaco mostra-se mais habilidoso para conciliar a alegoria político-social com o filme B que tanto busca conceber. Prova disso está no terceiro capítulo da franquia, agora no Brasil renomeada 12 Horas Para Sobreviver, que enfim encontra esse equilíbrio tanto procurado nos outros dois longas e sai da inoperância para atingir um status funcional.

Alguns fatores em conjunto são responsáveis por esse avanço dado por Ano da Eleição, que traz de volta o personagem de Frank Grillo para usá-lo agora de guarda-costas para uma candidata a presidente (Elizabeth Mitchell) cuja maior promessa é de acabar com as noites de purgação. Dentro desses, um dos mais importantes é a relação imediata que a produção traça com a corrida a eleitoral dos Estados Unidos em 2016, do qual aproveita o extremismo inerente da polarização política como motor para seu conflito entre elite e pobreza, tornado aqui elemento central da trama. Ainda que nunca chegue a tocar na questão da crise ideológica presente nessas disputas - o maniqueísmo da trama, tão evidente na maneira como a presidenciável de Mitchell nunca sai do pedestal de salvadora da pátria, talvez não o permita realizar essa problematização -, essa temática é suficiente para deixar mais claro os rumos do debate moral já tradicional da franquia, marcado tanto no clímax quanto em cenas como a que o dono de uma loja de conveniência (Mykelti Williamson) se comunica com um dos grupos de purgação para evitar o derramamento de sangue.

O outro fator responsável pelo melhor aproveitamento do filme é o caráter mais assumidamente caricato que DeMonaco dá à sua produção de baixo orçamento. Repetindo o gato-e-rato dos outros capítulos e mantendo a crescente do cenário onde essa perseguição se dá, o diretor busca dar pinceladas mais exageradas aos eventos presentes na noite de purgação, seja nos adereços - os carros enfeitados com luzes de Natal, as gangues com marcas de fácil identificação, as máscaras - ou mesmo nas atuações do elenco - a estudante patricinha de Brittany Mirabile, que faz uma participação rápida, é um dos grandes acertos do longa junto do candidato padre de Kyle Secor. DeMonaco, porém, é sagaz em não descambar para um cartunesco que invalide ou superficialize sua proposta temática, resolvendo a questão em movimentos como o de retirar os disfarces de quem desempenha o papel de caçador na trama.

O resultado é uma dinâmica bastante recompensadora e bem dosada de terror, apesar de no fundo soar um pouco limitada espacialmente. Está claro em 12 Horas Para Sobreviver o baixo orçamento dado para materializar a distopia proposta pelo diretor, que ao invés de recorrer à interiorização dos conflitos - uma medida que se provou falha nos outros dois Uma Noite de Crime - apela ao uso frequente de closes de rosto, câmera lentas e planos aéreos para contornar o problema. E de fato ele consegue contornar, mas sem antes capar a produção de um tom mais grandioso ao qual está intimamente ligado: acima de tudo, o filme parece estar sempre a ponto da ebulição máxima, mas no fim soa apenas episódico em seus eventos.

Ao assumir um cenário maior e mais ambicioso, 12 Horas Para Sobreviver - O Ano da Eleição se faz melhor resolvido em pontos onde seus antecessores esbarravam para depois desabar. DeMonaco pode ainda estar na mesma posição de controle de danos que exerceu nos dois primeiros filmes da série, mas aqui ele começa a ensaiar de fato a execução de seu plano com a franquia da maneira que tanto quer.

Nota: 6/10

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