segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Crítica: A Hora Mais Escura


A guerra atrás da mesa

Até o início da Guerra Fria o nacionalismo, amplamente divulgado pelos governos, motivava jovens a entrar pro exército e combater outros em prol da nação. Os tempos passaram, e o cenário mudou: Das armas aos inimigos, as batalhas foram ficando cada vez mais escondidas. Conflitos como a guerra do Vietnã começaram a ser amplamente criticados pelas milhares de soldados morrendo ou voltando diferentes.
Esse dano no psicológico do filho da pátria é o foco novamente de Kathryn Bigelow em A Hora Mais Escura. Depois de mostrar o sargento viciado em desarmar bombas de Guerra ao Terror, o novo filme da diretora foca na caçada a Osama Bin Laden, empreendida pelos EUA nos últimos 10 anos. O soldado da vez é Maya (Jessica Chastain), uma workaholic agente da CIA que, contrariando os colegas de trabalho, focados em detectar atentados, empreende uma cruzada pessoal para achar o terrorista.
A maneira como Maya se transforma é o verdadeiro foco do filme. Inicialmente não aguentando a pesada tortura aplicada aos prisioneiros, aos poucos ela toma as rédeas e atrita com todos para atender seus objetivos. O mais interessante, porém, é que tudo se faz atrás da mesa, numa verdadeira guerra secreta: escutas, prisioneiros isolados sendo torturados e entrevistados e informantes são as armas, e o inimigo se esconde nas sombras, ao contrário de Guerra ao Terror, que mostrava um conflito mais claro.
É nesse gato e rato nas escuras que molda Maya em uma pessoa mais decidida e fria, procurando acima de tudo o culpado pelo 11 de setembro. A cena na qual ela sofre o atentado causa até estranheza por ser tão físico, mostrando à heroína que toda a caça é real e perigoso. A interpretação de Jessica Chastain cabe muito bem nesse ponto, oscilando entre os dois eus da agente no filme.
Porém essa frieza observada em todos durante as duas horas e quarenta de duração acaba sendo quebrada pela sequência da invasão ao refúgio e morte de Osama. Gravadas depois, toda a ação protagonizada pelos soldados de elite é muito carnal, destoando da frieza e servindo meramente de cola para juntar toda a história ao final, parte importantíssima e que mostra o real propósito do filme.
Uma das cenas que se destaca na morte de Bin Laden é quando o soldado se toca da ação realizada, saindo um pouco do imediatismo e mecanização de suas ações para perceber que acabara de escrever uma parte da História, fato pouco notado por todos os envolvidos. Essa queda de realidade mais tarde vai atingir Maya, mas de uma maneira muito, muito diferente, em um momento onde a burocracia finalmente se lembra do propósito de sua própria existência. É o escritório encontrando a guerra, o soldado encontrando seu objetivo, o passado encontrando o presente, com repercussões .

Nota: 9/10

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