Ou como tornar uma heroína sensual dos games em um completo fetiche
Por Pedro Strazza
Esse foi o caso de Lara Croft, personagem dos games que em 2001 teve sua história adaptada para os cinemas com Tomb Raider. Produzido pela Paramount, o longa traz Angelina Jolie, a "musa do momento" da época, no papel da aventureira e lady inglesa, envolvida aqui em uma busca megalomaníaca pelo Triângulo da Luz, artefato capaz de controlar o espaço e o tempo. Ela corre, pula, faz caras e bocas, ajuda (?) e atira contra os Illuminati, organização secreta que quer dominar o mundo quando em posse da tão poderosa e milenar relíquia, em uma verdadeira corrida contra o tempo.
Pois é, esse é o roteiro do filme. Mesmo tentando parecer ser épico e cheio de ação, a história de Tomb Raider não convence em momento algum seu espectador graças a sua superficialidade e falta de tensão verdadeira, deixando muitas pontas soltas ao seu final. Além disso, o longa não se compromete a explicar grande parte das ações de sua protagonista, justificando tudo com a mais boba relação pai-e-filha da história do cinema. E olha que eles tinham Jon Voight no elenco.
Não bastasse a trama muitíssimo mal-aproveitada (apesar da franquia dos games também não ser lá essas coisas, convenhamos), há o absurdo nível de sex-appeal "censura 13 anos" usado em cima de Jolie, que com certeza levou mais de 3/4 da bilheteria para os cinemas sozinha. Em ritmo de clipe dos anos 80, a atriz tem apenas sua sensualidade usada pelo diretor Simon West (anos mais tarde comandante de Mercenários 2) durante o longa inteiro, não deixando espaços para ela atuar. Sobram biquinhos nada sexy, falta a interpretação a de Angelina, que já havia provado em 1999 possuir esses dotes quando faturou o Oscar de atriz coadjuvante.
Quem também deixa a desejar, e muito, são as cenas de ação. Sem ritmo, os duelos de Lara com criaturas mágicas ou soldados não empolgam em momento algum, e quando conseguem, por um minuto, criar expectativas no espectador, desapontam logo em seguida. A cena no templo budista é o ápice desse problema de arranjo e direção, mostrando inimigos de computação gráfica mal feitos até para a época. E no clímax final o desastre é completo.
De atuações à produção, falta tudo para Tomb Raider ser um longo digno de ação. O sucesso decorrente desta primeira incursão da exploradora criada pela Core Design pelos cinemas se dá justamente pela atração sexual de Angelina, padrão de beleza naquele momento, com o público, o que garantiu à Paramount uma sequência ainda pior em 2003. Poderia ter sido pior? Infelizmente não, não dá para imaginar uma primeira adaptação de uma franquia dos games mais mal feita que essa.
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