Entre socos e espadas, a mais bela poesia da diversão
Por Pedro StrazzaEm uma época onde a indústria cinematográfica prefere produzir blockbusters mais sérios e realistas ou adaptações e continuações de produtos famosos, a concepção de um longa no qual coloca-se monstros e máquinas desproporcionais e irreais para se agredir é uma estranha aposta. Homenagem do diretor aos seriados japoneses como Jaspion e Changeman, que costumava ver quando criança, Círculo de Fogo pode infelizmente não ter atendido as expectativas financeiras da Warner Bros, mas com certeza cumpre seus objetivos com seu público.
Há aqui uma maior ligação com o espectador, partindo da própria ambientação do filme. Mestre na arte de cumprir suas promessas feitas durante a divulgação de suas obras, Guilhermo Del Toro usa e abusa do orçamento de quase 200 milhões de dólares para materializar a grandiosidade das batalhas entre seus Kaijus (As criaturas do portal do Pacífico) e Jaegers (Os mechas construídos pela humanidade) enquanto emula ao máximo a emoção criada pelas séries japonesas, que já estão por aí há quase cinquenta anos. Da fotografia à trilha sonora, toda a parte técnica da película procura empolgar e fazer o público torcer, como num estádio de futebol, para o gigantesco Gipsy Danger esmagar o próximo monstro. E consegue com muito estilo.
Essa alegria descompromissada gerada reflete-se também no elenco e na própria história, aqui uma diversão à parte. Enquanto esta última exige um altíssimo nível de suspensão de descrença, as atuações de Charlie Hunnam, Rinko Kikuchi, Charlie Day, Ron Perlman e Idris Elba são tão exageradas que se tornam risíveis em vários momentos (Elba em especial, dando um show digno de overactor). Mas, apesar de serem consideradas terríveis falhas a qualquer longa-metragem, os erros de Círculo de Fogo contribuem ainda mais na constituição do filme como entretenimento puro.
Exemplo claro disso são as cenas de ação, magnificamente introduzidas no ponto certo. A construção de expectativas é realizada a todo momento, rendendo excelentes explosões de alegria irracional a seus espectadores. Ápice disso é a épica sequência de socos trocada em Hong Kong, que com certeza poderia ter servido como clímax final ao enredo simplório de superação ao invés do desfecho propriamente dito, aqui um pouco fora de tom do resto da trama.
Círculo de Fogo é, no final, um belíssimo exemplar de genuína diversão sem preocupações. Proporcionando um tipo de filme mais leve a seu público (Quase não há sangue ou mortes em suas duas horas de exibição), Del Toro entretém ao máximo as salas de cinemas enquanto mostra, até com certo orgulho, um dedo do meio monstruoso à Hollywood e suas histórias mais realistas e complexas. Esse tipo de simplicidade, por sinal, já anda em falta no mercado há tempos...
Nota: 8/10
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