Por Pedro Strazza.
Pois é, o ano passou, filmes vieram e foram, o mundo mudou (bastante), a temporada de premiações passou voando e agora vai chegando a hora de mais uma entrega do Oscar. Mantendo a tradição dos últimos três anos, reorganizo os nove indicados ao prêmio de Melhor Filme em um ranking pessoal, indo do pior nomeado àquele que, se tivesse a oportunidade, colocaria no topo da minha cartela de votação. Também fiz uma lista com todos os indicados que assisti (dos 62, vi 52 antes da cerimônia), ao qual você pode conferir aqui.
Sobre a edição deste ano, admito que desta vez nenhum dos indicados ao prêmio de Melhor Filme foi para mim aquilo que muitos classificam como "O filme do ano", mas isso não quer dizer que a qualidade das nove produções lembradas pelos votantes da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas foi baixo. Tanto que, dos nove longa-metragens selecionados, pelo menos três eu considerei como ótimos e sete foram classificados aqui como bons trabalhos, restando a apenas dois indicados o que alguns consideram ser notas baixas.
O bom é que nenhum dos filmes foi um O Regresso, então está tudo bem (risos).
Enfim, vamos à lista. Antes, é bom lembrar que TODOS os nove indicados ao principal prêmio da noite ganharam críticas no site, às quais você pode conferir clicando em seus nomes abaixo.
Os indicados são:
9) Um Limite Entre Nós
Dentre os nove, o que eu achei o mais fraco de todos foi definitivamente a adaptação cinematográfica da peça de August Wilson pelas mãos de Denzel Washington. Adaptação que na verdade está mais para transposição: de tanto respeitar o ótimo material em mãos, Washington acabou por realizar um filme que tenta a todo custo se comportar como uma peça de teatro, algo que tem lá sua força mas também traz consequências irremediáveis à produção. Pelo menos o ótimo elenco mantém as coisas funcionando.
8) A Chegada
Gosto de Denis Villeneuve (seu Os Suspeitos inclusive marcou presença em um dos Melhores do Ano), mas seus últimos trabalhos tem me frustrado. Se Sicario acabou se revelando um filme desconjuntado em meio aos bons sets de ação que promove, este A Chegada almeja unir o lado alegórico da ficção-científica com o bom drama intimista de sua protagonista para no fim revelar o primeiro como um mecanismo submetido ao segundo. O longa vira então um exercício frustrado, cuja única grande força acaba por residir no trabalho de Amy Adams - que sequer chegou a ser a lembrada pela Academia, mesmo o filme ganhando inacreditáveis oito nomeações.
7) Estrelas Além do Tempo
Talvez a grande força de Estrelas Além do Tempo resida no fim na potência natural de sua história e no perfil de suas três protagonistas, mas é fato que Theodore Melfi foi competente o suficiente para executar o filme e sua mensagem. Separando a História dos Estados Unidos em duas, o longa consegue evidenciar muito bem a forma como o processo histórico do país funciona, fazendo o diagnóstico do racismo no país que já é típico de produções do gênero. Somado ao bom trabalho de seu elenco, isso me parece bastar.
6) Lion - Uma Jornada Para Casa
É o melodrama bem executado, ainda que a canção da Sia ali no fim quase estrague. Garth Davis é capaz de alinhar as duas partes de seu filme sem que algo se perca na transição, além de saber usar o ótimo elenco em mãos. Lion talvez me frustre um pouco por não perseguir o belo filme de espaços que tem em mãos, mas só de saber realizar o arroz e feijão sem pesar o sal ele já sai no saldo positivo comigo.
5) Moonlight - Sob a Luz do Luar
Bastante querido por muitos, Moonlight foi pra mim um filme que soube muito bem evidenciar o quão frágil a masculinidade (e sua formação) pode ser. Com elenco afiado, Barry Jenkins soube traduzir a jornada de Chiron em uma experiência intimista intrigante e nova, apesar de ali e aqui se render a figuras e elementos genéricos que prejudicam seu conto. De qualquer forma, é uma produção que se destaca.
4) Até o Último Homem
Apesar do tom inicial de Forrest Gump versão ridícula, o retorno de Mel Gibson a Hollywood se provou um filme dos mais intensos e curiosos da temporada. Reformulando o ideal patriótico dos Estados Unidos sob um ideal de fé cristã, o cineasta faz de Até o Último Homem uma obra de provações sem pesar o sofrimento (alô, A Paixão de Cristo...), conseguindo arrancar ótimas atuações de atores como Sam Worthington e Luke Bracey e fazendo da figura franzina de Andrew Garfield um herói de força descomunal. Alguns erros básicos, mas no geral ele é extremamente feliz na execução de sua proposta.
3) Manchester à Beira-Mar
Ficou com a medalha de bronze o drama de dor e sofrimento de Kenneth Lonergan, que com toques de humor negro e alta melancolia trata de uma história de arrependimento das mais pesadas. Guiando o ótimo elenco com perspicácia e com momentos que são verdadeiros socos no estômago (a cena do desmonte da personagem de Michelle Williams quase me leva junto nas lágrimas), Manchester à Beira-Mar é uma experiência das mais tristes e recompensadoras nestes termos, sabendo se valer muito bem da figura de "anjo da morte" que Casey Affleck parece incorporar com tanta tranquilidade.
2) La La Land - Cantando Estações
Item mais polêmico e grande favorito ao prêmio principal da noite, o musical de Damien Chazelle me foi uma experiência das mais fascinantes por conseguir reiniciar a crença no inalcançável sonho americano. Em tempos difíceis e de individualismo extremo, La La Land soube como poucos atualizar e manter acesa a esperança no sucesso e estrelato, algo que fica a cargo principalmente do magnífico trabalho de Emma Stone. Há quem chame o filme de ingênuo e uma "grande ameaça à credibilidade do Oscar" quando este precisa reafirmar sua posição no cenário, mas o longa está longe de ser um O Artista ou O Discurso do Rei para destruir a premiação em qualquer uma destas frentes.
Mas o melhor filme da categoria de Melhor Filme em 2017 é...
1) A Qualquer Custo
A América do ódio, do preconceito, da ganância e da vingança, tudo isso em plena atualidade. A missão de A Qualquer Custo parece ser muito fácil, mas com certeza não o é. Transpor o Velho Oeste para a realidade de hoje e reafirmar a validade de suas leis enquanto se presta a executar o gênero é um fruto valiosíssimo, gerado a partir de um roteiro afiado de Taylor Sheridan e a direção eficiente de David Mackenzie. Some isso a um trabalho de elenco formidável (Jeff Bridges, Ben Foster, Chris Pine e Gil Birmingham estão altamente sintonizados entre si) e temos um filme que é ao mesmo tempo um retrato exato do momento atual do país e também um faroeste para não botar defeito, por si só um verdadeiro espetáculo.
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