sexta-feira, 24 de fevereiro de 2017

Crítica: A Grande Muralha

Espetáculo de cores, filme concilia cinemas de ação entre países sob o espectro da justaposição.

Por Pedro Strazza.

Em tempos em que a China torna-se cada vez mais uma fonte de renda central às produções hollywoodianas, é inevitável que os grandes estúdios comecem a lançar no mercado obras que atendam ao público chinês, trazendo franquias milionárias ao país (caso do último Transformers), importando mão-de-obra e realizando co-produções com produtoras nacionais. Mais recente caso destes últimos dois exemplos - ele é resultado de uma parceria da Universal e da Legendary com a China Film Group, além de trazer Zhang Yimou na direção - A Grande Muralha segue uma linha de raciocínio de conciliação bastante clara de conciliação entre os cinemas chinês e estadunidense, mas o faz com uma consciência muito particular.

Escrito por Max Brooks, Doug Miro e Tony Gilroy, o filme segue William (Matt Damon) e Tovar (Pedro Pascal), dois mercenários europeus que viajam pelo continente asiático em busca do pó negro, uma lendária arma poderosíssima que é nada menos que a pólvora. Depois de sobreviverem à uma jornada perigosa, a dupla acaba sendo feita prisioneira na Grande Muralha, fortificação que além de servir de proteção ao reino contra os esforços dos mongóis também defende a nação de uma ameaça misteriosa e muito poderosa. Depois de libertados pelo exército da construção, a dupla precisa se decidir entre cumprir a missão original ou ajudar os chineses contra este terrível mal.

Bastante direto e despretensioso na proposta, o longa logo se estabelece como um típico filme de defesa do forte para executar cenas de ação assumidas do princípio como provindas de uma produção B, seja pelos efeitos visuais pobres ou nas repetidas frases de efeito. Diretor nascido nos épicos chineses do gênero, Yimou realiza em A Grande Muralha mais um dos seus balés visuais de capa e espada, empregando cores berrantes no figurino do exército da Muralha (cada uma das tropas ganha uma cor diferente, quase como um Power Rangers de grande escala) e nas criaturas para conceber uma ação cartunesca e que varia conforme o cenário da batalha muda.

Yimou, porém, também tem consciência do contato cultural que promove no filme, principalmente no uso de seus personagens e nos perfis empregados para construí-los. Além do espetáculo circense, o longa também se situa dentro do contraste entre as estruturas clássicas das grandes produções chinesas e americanas, justapondo as relações de honra e coletivo do primeiro - a comandante Lin (Tian Jing), ainda que seja a maior presença do lado asiático, é tão orientada para a "causa" quanto os outros - e os grandes heróis solitários de motivações particulares do segundo - Damon de início até parece no visual com William Wallace quando sujo e barbado - em busca de semelhanças que os unam. Tudo na obra gira em torno da discussão do "Somos diferentes" e se ela procede ou não como uma verdade absoluta.

Não dá pra saber até que ponto o diretor consegue manejar esta temática sem se perder nos inúmeros estereótipos empregados, até porque este senso de coletivo do filme logo se esvazia na computação gráfica e nos personagens coadjuvantes que entram e saem sem serem notados (o papel de Willem Dafoe é especialmente esquecível) enquanto o lado ocidental perde fôlego na hora de justificar a culpa do passado (pelas motivações de William se percebe que Yimou não se interessa mesmo por uma ação construída no drama), mas esta busca sutil por um ponto de união entre as duas nações e seus cinemas torna A Grande Muralha funcional na proposta. Seja nas demonstrações de habilidade do progonista, nas bolas de fogo que cobrem os céus das batalhas na muralha ou nas capas coloridas e esvoaçantes, tudo no filme gira em torno de um espetáculo exuberante e ao mesmo tempo consciente de suas limitações.

Nota: 5/10

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