O homem sem roteiro, efeitos, drama...
Na moda hoje em dia, os super-heróis devem seu sucesso no cinema principalmente por causa de seus fãs. Dotados de uma paixão eterna pelo gênero, alguns integrantes desse grupo particular, que cresceram lendo histórias do Batman, Homem-Aranha e Superman nos quadrinhos, foram responsáveis pela adaptação desses mundos paras as telas, imprimindo ali suas memórias tenras e felizes das aventuras desses personagens e criando rios de dinheiros para as produtoras, como em Vingadores ou na trilogia Cavaleiro das Trevas. Mas nem foi sempre assim.
Até antes de Batman Begins, em 2005, Hollywood procurava apenas arrecadar ao máximo com as adaptações de quadrinhos, não se importando com a verossimilhança da obra com sua produção. E depois de ver franquias como X-Men e Homem-Aranha estourarem nas bilheterias, esse respeito foi ainda mais jogado para o lado, gerando blockbusters de ação que eram verdadeiros horrores para os donos dos direitos e, principalmente, aos fãs do personagem ali adaptado. Não é à toa que esses filmes são praticamente esquecidos por todos hoje em dia.
Houve, porém, quem tentasse nessa época agradar aos fãs no intuito de conseguir mais bilheteria, como é o caso da 20th Century Fox com Demolidor. Lançado em 2003, o longa de Mark Steven Johnson (também responsável pelos péssimos Elektra e Motoqueiro Fantasma) é um verdadeiro pastiche da trajetória do Homem sem Medo nos quadrinhos, conseguindo a incrível façanha de irritar ainda mais os apreciadores do heroi.
A começar pela própria origem de Matt Murdock. Se o lado psicológico do acidente que deixou o garoto cego retêm-se ao mínimo da coerência, o rápido desenvolvimento dos poderes ganhos e a ligação do advogado com a religião ficam muitíssimo mal explicados. Este último em especial: Como apenas um toque do sino da Igreja já é o suficiente para o moleque tornar-se rapidamente um fiel?
As lambanças do roteiro só aumentam conforme a história avança, virando em pouco mais de meia hora uma bola de neve de erros e incoerências (Se o Demolidor conseguiu lutar, mesmo ferido, com o Mercenário e o Rei do Crime, por que ele não foi ajudar a Elektra quando ela mais precisava?). Sem contar os dramas jogados a todo momento e rapidamente esquecidos, como o questionamento do Demolidor quanto seu papel de herói ou sua solidão eterna (e rapidamente esquecida).
Mas quem mais sofre com o roteiro porco são mesmo os atores. Por mais que tentem imprimir algum tipo de seriedade a seus pais, Ben Affleck, Jennifer Garner e Michael Clark Duncan não conseguem passar mais nada ao espectador além de canastrice. Já Colin Farrel parece mais chapado do que nunca como seu Mercenário, não dando nenhum pavor em seu público e virando uma espécie de alívio cômico sem graça da história.
Se na trama Demolidor desaponta horrorosamente, no visual falta manejo. Bastante experimental, a fotografia e a direção de arte carecem em vários momentos de um diretor experiente nessa área como um Zack Snyder, e toda a composição ali estabelecida fica deveras confusa em vários momentos. É talvez nesse ponto que o longa-metragem perca muitos pontos com sua audiência, que, desinteressada na história, poderia pelo menos se contentar com algumas cenas de ação bacanas. Mas nem isso dá certo, pois já na primeira troca de socos do Demolidor com o Mercenário nota-se a precariedade da produção.
Ao final de longas uma hora e quarenta, a primeira incursão do Homem sem Medo nos cinemas consegue a façanha de não agradar a ninguém. Se o público sai sem entender absolutamente nada do ocorrido na película, os fãs não escondem de ninguém a decepção em ver um personagem tão complexo e interessante ser retratado de maneira leviana e confusa. Mesmo que com inúmeras referências (John Romita, Joe Quesada, Brian Michael Bendis, etc.) e aparições (Stan Lee, Kevin Smith e Frank Miller) de quadrinistas e escritores famosos, a 20th Century Fox não esconde de ninguém aqui o maior apreço pelo valor comercial em cima do pobre dono da Cozinha do Inferno.
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