Belo visual, péssimo roteiro
Por Pedro Strazza
É o caso por exemplo de A Bússola de Ouro, longa-metragem de 2007 baseado no primeiro capítulo da trilogia Fronteiras do Universo (do polêmico Philip Pullman) que ganhou um merecido Oscar de melhores efeitos visuais pela interessante recriação visual do riquíssimo universo do livro. Os belos cenários e seres, porém, não ocultam a descarada ambição financeira dos produtores e diretor, que estragam em pouco menos de duas horas as chances do público em entender a mitologia idealizada por Pullman ou sequer criarem laços com seus personagens.
Feito pelo escritor para criticar a Igreja e seus rituais, o mundo (ou mundos, entenda como quiser) de A Bússola de Ouro engloba as mais variadas culturas de nosso planeta, passando por bruxas e ursos polares de armadura (Ok, duvido existir uma cultura com esses seres). Trazê-lo para a tela grande e explicá-lo é uma tarefa complicada e ao mesmo tempo cuidadosa, e que portanto deveria receber atenção total dos responsáveis pelo projeto. Mas, na pressa de se entregar um blockbuster repleto de deslumbrantes cenários e ação desenfreada, o diretor Chris Weitz e os produtores Bill Carraro e Deborah Forte relegam essa necessidade ao segundo plano, abrindo muitas incoerências na trama e sua mitologia.
Exemplo disso seria a importância que Lyra Belacqua (Dakota Blue Richards) subitamente ganha sem motivos com o passar do longa-metragem. A protagonista da trama vai de protegida da faculdade, onde seu tio Asriel (Daniel Craig) trabalha, para protegida da Sra. Coulter (Nikole Kidman) em um estalar de dedos (Como ela tirou a menina de lá com tamanha facilidade?), conseguindo depois disso enganar um rei-urso (????) e liderando uma revolta infantil em um prédio onde supostamente a segurança é máxima. Sem contar a quantidade excessiva de personagens com pequeníssimas aparições e com o mesmo carisma nulo dela.
Quem também acaba sofrendo por conta do roteiro são os dimons. Centrais à história do primeiro livro, os animais representam parte da alma dos seres humanos, que possuem cada uma pessoa um exemplar, e expressam à sua maneira os sentimentos de seu dono. Mas o conceito todo é muito mal explicado no longa, deixando várias perguntas em aberto (por que apenas só alguns dimons falam) e resolvendo brevemente outras questões cruciais para a continuidade da trama (a conexão deles com o Pó é praticamente jogada ao espectador).
O pior de toda a extensa lista de erros e problemas com a Bússola de Ouro é, porém, seu inconclusivo final, que deixa em aberto praticamente todas as situações ali mostradas. Prova máxima da ganância dos responsáveis pelo projeto, este encerramento demonstra o quão artificial torna-se a adaptação da Bússola Dourada com o passar dos minutos, perdendo toda a originalidade do livro e virando rapidamente uma super-produção sem identidade, clímax ou sequer trama central (perdida lá pela primeira hora). E a ausência de uma sequência que feche todas as pontas criadas apenas confirma a derrapada feia de um longa com tamanho potencial.
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