Oliver Stone busca em analista de sistemas uma figura de contenção, mas se perde no equilíbrio entre real e ficção.
Por Pedro Strazza.
Para isso que aconteça, Stone e seu parceiro no roteiro Kieran Fitzgerald aproveitam a oportunidade de recontar a trajetória do agente - desde seu início frustrado no exército militar do país até o presente, centralizando-se nos momentos anteriores à publicação do artigo escrito por Glenn Greenwald (Zachary Quinto) com suas declarações - para torná-lo em uma figura de contenção, primeiro à favor das intenções do governo e depois como uma maldição de fato. A dramatização da história aqui se aproxima muito de uma via crucis de informação, onde Snowden é submetido a constantes provas de resistência a cada volume de dados sigilosos que recebe em ordem de perceber até que ponto ele é capaz de guardar para si esse material sem que se autodestrua - algo melhor evidenciado nos altos e baixos de seu relacionamento com a namorada Lindsay (Shailene Woodley).
Esse processo de interiorização, que passa por verdadeiros testes de limite físico (graças ao histórico médico de epilepsia do protagonista) e psicológico, serve a Stone para distanciar Snowden de sua imagem midiática e aproximá-lo de um perfil mais humano, alimentando a jornada de herói concebida por ele ao analista de sistemas. No fundo, o diretor cria aqui mais uma de suas típicas narrativas sinergéticas, que concilia os dramas pessoais de Snowden (a falta de conexão com o mundo, o isolamento social por essência) com o período histórico de crise ideológica passado pelos Estados Unidos do governo Bush e Obama. Tanto que a decisão do protagonista por ir contra o sistema ocorre na produção no momento no qual a vigilância chega a seu próprio território, numa das únicas cenas do longa capaz de emular bem a sensação de Big Brother criada pelos aparatos da NSA.
Stone, porém, mostra-se tão preocupado em ratificar sua posição política na obra que sua proposta com o personagem acaba por perder força. O filme muitas vezes interrompe o fluxo narrativo para dar explicações verborrágicas e criar dilemas rasos sobre as questões que trata, perdendo o foco no personagem para ilustrar a situação política. Uma operação um tanto quanto canhestra, já que no fundo ela prejudica o equilíbrio entre o cenário individual e geral e torna Snowden um personagem sem rumo definido na história.
Essa falta de direção também ocorre porque a "dramatização" dita por Stone no início do filme aos poucos se revela uma novelização disfarçada de documentário. A verborragia dos diálogos, que vem como forma de informar e aumentar a paranoia do espectador sobre os fatos, não esconde a dificuldade do longa em estabelecer uma unidade entre as situações de choque entre os personagens, dando a sensação de que todas as cenas funcionam à base do impacto imediato. Nem mesmo o relacionamento de Snowden com Lindsay (aqui retratada como mero apoio emocional) escapa desse problema: em um momento, o protagonista, sentindo a pressão do trabalho e do excesso de vigilância, briga com a namorada por sua responsabilidade em protegê-la "da verdade"; no outro, essa tensão se dissipa, dá lugar a um caso de falta de confiança e ciúme que ele tem com ela sem qualquer motivo aparente.
No fim das contas, Snowden - Herói ou Traidor sofre com o dilema de unir realidade com a ficção, tirando de uma realidade pungente e atual um processo imagético que transforme uma figura pública em um personagem de fácil conexão. Quando ao final do filme Stone substitui um Gordon-Levitt de voz forçada pelo próprio Snowden, essa problemática do roteiro se acentua: se a cena vem para consagrar o retratado como herói e dar peso "real" à história, ela apenas soa como uma cartada final desesperada, que ressalta a falta de recursos do diretor em dar conta do processo ao qual se submete.
Stone, porém, mostra-se tão preocupado em ratificar sua posição política na obra que sua proposta com o personagem acaba por perder força. O filme muitas vezes interrompe o fluxo narrativo para dar explicações verborrágicas e criar dilemas rasos sobre as questões que trata, perdendo o foco no personagem para ilustrar a situação política. Uma operação um tanto quanto canhestra, já que no fundo ela prejudica o equilíbrio entre o cenário individual e geral e torna Snowden um personagem sem rumo definido na história.
Essa falta de direção também ocorre porque a "dramatização" dita por Stone no início do filme aos poucos se revela uma novelização disfarçada de documentário. A verborragia dos diálogos, que vem como forma de informar e aumentar a paranoia do espectador sobre os fatos, não esconde a dificuldade do longa em estabelecer uma unidade entre as situações de choque entre os personagens, dando a sensação de que todas as cenas funcionam à base do impacto imediato. Nem mesmo o relacionamento de Snowden com Lindsay (aqui retratada como mero apoio emocional) escapa desse problema: em um momento, o protagonista, sentindo a pressão do trabalho e do excesso de vigilância, briga com a namorada por sua responsabilidade em protegê-la "da verdade"; no outro, essa tensão se dissipa, dá lugar a um caso de falta de confiança e ciúme que ele tem com ela sem qualquer motivo aparente.
No fim das contas, Snowden - Herói ou Traidor sofre com o dilema de unir realidade com a ficção, tirando de uma realidade pungente e atual um processo imagético que transforme uma figura pública em um personagem de fácil conexão. Quando ao final do filme Stone substitui um Gordon-Levitt de voz forçada pelo próprio Snowden, essa problemática do roteiro se acentua: se a cena vem para consagrar o retratado como herói e dar peso "real" à história, ela apenas soa como uma cartada final desesperada, que ressalta a falta de recursos do diretor em dar conta do processo ao qual se submete.
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