Lado canastra da espionagem ganha homenagem à altura.
Por Pedro Strazza.
Esta "brincadeira" é um indício do quão disposta a adaptação cinematográfica do seriado homônimo criado por Sam Rolfe está a se guiar pelo lado superficial de sua história que empreender um raciocínio mais aprofundado em cima desta. No mesmo ano em que Matthew Vaughn busca homenagear em Kingsman o subgênero em seu aspecto mais roteirístico, Ritchie faz um ato reverencialista similar em direção a esses tipos de história e seus ícones de ação, mas por sua faceta mais visual e de poses. Porque se há uma coisa que James Bond e seus colegas de profissão sabiam fazer no passado era aparecer bonito na foto.
Na trama escrita pelo diretor e Lionel Wigram, acompanhamos o charmoso Napoleon Solo (Henry Cavill) e o muscular Ilya Kuryakin (Armie Hammer), agentes respectivamente da CIA e da KGB que no auge da Guerra Fria são obrigados por suas agências a trabalhar juntos para deter os planos de um rico casal de simpatizantes nazistas em construir sua própria bomba nuclear. Para isso, eles precisarão de Gaby Teller (Alicia Vikander), uma russa jovem, bela e experiente com mecânica de carros cujas conexões com o cientista responsável pela criação do aparato serão decisivas para o cumprimento da missão.
A exemplo das descrições dadas acima aos personagens, o superficial se faz em O Agente da U.N.C.L.E. uma lei máxima da narrativa, e se baseia sem muitos rodeios nos ideais pregados pela cultura estadunidense: Se o Napoleon Solo de Cavill surge como a representação perfeita do celebrado herói bandido com sex appeal intensa e de tiques britânicos pouco sutis, o Ilya Kuryakin de Hammer é a máquina de matar descerebrada produzida pela demonizada União Soviética, cujos esforços ainda assim não são capazes de esconder dele o grande e apaixonado coração. O que impede a obra de ser danificada por isso é que Ritchie assume essa faceta canastrona sem medo para ela, em um esforço quase admirável de voltar aos tempos onde essa característica era regra.
É aí que o filme encontra sua maior força, mesmo que a muitos trancos e barrancos. Enquanto homenagem ao passado do subgênero, o longa encanta ao abraçar todo esse universo de estereótipos e trazê-las envoltas em ambientes aos quais foram criadas para funcionar (as festas luxuosas, as locações exóticas), mas em momento algum ele esconde do espectador esse seu lado de espetáculo raso. É na honestidade de sua futilidade, inclusive, que Guy Ritchie arranca o humor de sua produção, como prova a cena em que traz o personagem de Cavill na posição do público enquanto ele assiste a explosiva tentativa de fuga do colega russo com uma calma indiferente.
Mas enquanto O Agente da U.N.C.L.E. funciona para comédia ao admitir seus problemas, ele também entendia por não fazer da canastrice seu referencial. E nesse ponto, é extremamente claro no longa a falta do elemento recompensador em fundações vitais como a ação ou romance, que são sublimadas pelo diretor ao optar pelo imediato da coisa e o abandono de uma significação maior a sua estrutura. Mesmo o terceiro ato, momento onde os filmes de espionagem habitualmente marcam o espectador, se perde aqui em edições rápidas e de dinâmicas banalizadas, como se a obra se desinteressasse em apresentar o próprio desfecho.
É nos personagens, porém, que Guy Ritchie traz o ápice e o fundo do poço de sua aventura, com seus melhores momentos na divertida relação exercida por seus protagonistas, trabalhados com a canastrice necessária e planejada por Cavill e Hammer, e seus piores na tentativa frustrada de tirar o elemento feminino de sua posição antiquada em tais obras - e por mais que Vikander encante e sua participação na história seja interessante, sua situação princesa-no-castelo não passa nem um pouco despercebida. São eles, em última análise, que por bem ou mal sustentam O Agente da U.N.C.L.E., uma obra cujo senso de respeito em relação ao subgênero é vazio em essência.
A exemplo das descrições dadas acima aos personagens, o superficial se faz em O Agente da U.N.C.L.E. uma lei máxima da narrativa, e se baseia sem muitos rodeios nos ideais pregados pela cultura estadunidense: Se o Napoleon Solo de Cavill surge como a representação perfeita do celebrado herói bandido com sex appeal intensa e de tiques britânicos pouco sutis, o Ilya Kuryakin de Hammer é a máquina de matar descerebrada produzida pela demonizada União Soviética, cujos esforços ainda assim não são capazes de esconder dele o grande e apaixonado coração. O que impede a obra de ser danificada por isso é que Ritchie assume essa faceta canastrona sem medo para ela, em um esforço quase admirável de voltar aos tempos onde essa característica era regra.
É aí que o filme encontra sua maior força, mesmo que a muitos trancos e barrancos. Enquanto homenagem ao passado do subgênero, o longa encanta ao abraçar todo esse universo de estereótipos e trazê-las envoltas em ambientes aos quais foram criadas para funcionar (as festas luxuosas, as locações exóticas), mas em momento algum ele esconde do espectador esse seu lado de espetáculo raso. É na honestidade de sua futilidade, inclusive, que Guy Ritchie arranca o humor de sua produção, como prova a cena em que traz o personagem de Cavill na posição do público enquanto ele assiste a explosiva tentativa de fuga do colega russo com uma calma indiferente.
Mas enquanto O Agente da U.N.C.L.E. funciona para comédia ao admitir seus problemas, ele também entendia por não fazer da canastrice seu referencial. E nesse ponto, é extremamente claro no longa a falta do elemento recompensador em fundações vitais como a ação ou romance, que são sublimadas pelo diretor ao optar pelo imediato da coisa e o abandono de uma significação maior a sua estrutura. Mesmo o terceiro ato, momento onde os filmes de espionagem habitualmente marcam o espectador, se perde aqui em edições rápidas e de dinâmicas banalizadas, como se a obra se desinteressasse em apresentar o próprio desfecho.
É nos personagens, porém, que Guy Ritchie traz o ápice e o fundo do poço de sua aventura, com seus melhores momentos na divertida relação exercida por seus protagonistas, trabalhados com a canastrice necessária e planejada por Cavill e Hammer, e seus piores na tentativa frustrada de tirar o elemento feminino de sua posição antiquada em tais obras - e por mais que Vikander encante e sua participação na história seja interessante, sua situação princesa-no-castelo não passa nem um pouco despercebida. São eles, em última análise, que por bem ou mal sustentam O Agente da U.N.C.L.E., uma obra cujo senso de respeito em relação ao subgênero é vazio em essência.
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