Perdeu-se a magia do terror.
Por Pedro Strazza.
No papel, o rumo que A Entidade 2 dá à esta história então é o mais correto possível. Com a família tradicional deposta e executada, a que assume a posição de vítima não poderia ser mais desestruturada, tendo não apenas um pai violento e uma mãe em fuga como também filhos em constante conflito. Mas se a crise familiar já está instaurada, aonde que a criatura (agora intitulada Bagul) entra para criar maior caos nesse âmbito?
Esse é um dilema que a continuação infelizmente não consegue resolver, e o filme acaba obrigado a explorar o lado mitológico de sua criatura ao invés de continuar a seguir pelo teórico. E isso é péssimo, se considerarmos que o maior charme de Bagul era de fato o mistério em torno de sua figura e metodologia.
Dirigido por Ciarán Foy, o longa não esconde suas tentativas quase infantis de sacramentar a entidade do título como novo ícone do terror. Da aparição nas sombras do armário logo no início (que no resultado lembra muito à de Jason, incluindo na ausência de uma boca) às menções feitas a sua pessoa pelas crianças que tomou, Bagul deixa de ser uma figura simbólica para tentar se tornar um ícone do terror, com uma presença física muito maior na sequência e mais disposta aos sustos que ora ou outra sucumbia no original.
Para alcançar esse status mitológico, o roteiro de Scott Derrickson e C. Robert Cargill (autores do primeiro capítulo) busca expandir o perfil de sua criatura, conferindo a ela uma cronologia e lógica assassina mais bem esclarecidas. Seja pelas crianças amaldiçoadas ou pelo professor Stomberg (Tate Ellington, substituindo Vincent D'Onofrio por claros motivos de custo), não faltam explicações de como a criatura norueguesa(!) age ou detalhes sobre como o ritual para invocar sua presença é praticado, e o efeito de tal medida é mais prejudicial que benéfico. Por melhor desenvolvido que seja, trazer alguma luz para o enigma de Bagul tira o personagem de sua névoa de incerteza, onde melhor pode-se trabalhar seu terror, e o torna em um figura infantil, cuja maior força reside nos imediatismos oriundos do gore ou de movimentos repentinos na escuridão.
A propensão ao valor instantâneo do terror, vale acrescentar, não é a única a assumir o protagonismo na estrutura executada por Foy. Povoado por personagens caricaturais (o pai de família nunca esteve tão ridicularizado), A Entidade 2 carrega inclusive no protagonista uma figura rasa, já que transforma o ex-policial So & So (James Ransone, único ator que retorna para a continuação) num alívio-cômico dos mais forçados. Mesmo a dinâmica exercida entre os irmãos Zach (Dartanian Sloan) e Dylan (Robert Daniel Sloan), fundamental na narrativa do longa, é uma relação simplificada, incapaz de ir além do tão conhecido jogo de Caim e Abel.
Ainda assim, não faltam oportunidades para Ciarán Foy aqui e ali mostrar algum olhar mais inspirado. Suas tentativas em mostrar uma hereditariedade das relações abusivas - a semelhança entre camisas de pai e filho nas novas filmagens, por exemplo - ou de até tornar Bagul em um ser maior que a proposta, porém, se perdem no mar de pretensões e insistências desnecessárias que permeiam A Entidade 2. Pois não há maior sinal de que algo está errado quando uma morte ouvida pelo rádio é mais aterradora que o filme ao qual pertence.
Ainda assim, não faltam oportunidades para Ciarán Foy aqui e ali mostrar algum olhar mais inspirado. Suas tentativas em mostrar uma hereditariedade das relações abusivas - a semelhança entre camisas de pai e filho nas novas filmagens, por exemplo - ou de até tornar Bagul em um ser maior que a proposta, porém, se perdem no mar de pretensões e insistências desnecessárias que permeiam A Entidade 2. Pois não há maior sinal de que algo está errado quando uma morte ouvida pelo rádio é mais aterradora que o filme ao qual pertence.
1 comentários :
A análise foi perfeita... Acabei de assistir o filme e senti exatamente o que você descreveu no texto. Excelente artigo, parabéns!
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