Uma vergonha antes de um filme
Por Pedro Strazza
Tomado pelo "estrelismo" com o sucesso da adaptação de Sin City para as telonas, projeto que co-dirigiu com Robert Rodríguez, Miller resolveu voar sozinho novamente (Sim, essa é a segunda tentativa dele; a primeira se deu com os roteiros de Robocop 2 e 3) em Hollywood com a adaptação para as telonas de Spirit, a clássica criação de Will Eisner - outro espetacular mestre dos quadrinhos. E falhou miseravelmente.
Seus objetivos como diretor aqui são até bastante claros em diversos momentos desse The Spirit - O Filme: aproveitar dos avanços tecnológicos para, assim como Eisner, buscar novas maneiras de contar uma história, seja na narrativa ou no visual. Mas o que era pra ser uma meta até interessante prova-se ser um baita de um desperdício criativo, pois Miller usa de fotografias e montagens já utilizadas em outras adaptações de suas próprias obras. A coloração dos cenários lembra muito 300, e há cenas que parecem chupadas de Sin City. Isso porque nem mencionamos as sequências ilógicas...
E se Spirit falha justamente no ponto onde procurava ser algo a mais, imagine onde ele não queria. Provavelmente sob nenhum direcionamento de seu diretor, o até respeitável elenco do longa cai nas atuações canastrãs de braços abertos, empregando diversas frases de estilo e chegando a momentos que beiram o ridículo (Quem diria, uma batalha entre vilão e herói pode ser muito vergonhosa). Quem mais demonstra isso é Samuel L. Jackson, exageradíssimo ao ponto do insuportável como o antagonista Octopus - sério, o que foi aquela repentina e logo esquecida ode ao nazismo?
Nesse meio tempo, o roteiro é completamente esquecido, tornando-se rapidamente uma espécie de caricatura das aventuras de um super-herói nos anos 60 - Coisa que um certo Joel Schumacher já havia provado não funcionar em 1997 com um certo Homem-Morcego. As paqueras de Spirit (Gabriel "Por que trouxeram esse cara" Match) com as várias musas do filme (que vão de uma mais-voluptuosa-do-que-nunca Eva Mendes a uma estranhamente indiana Paz Vega), por exemplo, chegam ao cúmulo do ridículo, deixando o espectador na dúvida sobre qual das duas partes é mais bobinha.
Faltou muita coisa para Spirit ganhar pelo menos a alcunha de "filme ruim". A "experiência visual" de Frank Miller não lembra em momento algum o seu brilhantismo ou do próprio Eisner para os quadrinhos, sendo esquecida no primeiro minuto após o fim de sua exibição. O que sobra mesmo desse Spirit é apenas um pedido: Desce do salto alto hollywoodiano, Frank, e volte a fazer o que você provou há tanto tempo ser bom.
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