A loucura proporcionada pelo dinheiro, na visão de Martin Scorsese
Por Pedro Strazza

A quebra da quarta parede e a arrogância de Belfort com seu espectador são uma pequena amostra inicial da história que Martin Scorsese conta a seu espectador em O Lobo de Wall Street. Bastante conhecido por seus filmes de máfia, o diretor mais uma vez explora o mundo da criminalidade, só que agora pelo ponto de vista do perigoso mundo financeiro, baseando-se no livro auto-biográfico de Jordan. E ao longo de três horas, Scosese acompanha e explora a ascensão e queda de Belfort nesse universo, mostrando desde seus problemas matrimonias com suas duas esposas - a cabeleireira Teresa (Cristin Milioti), nos tempos mais pobres, e a modelo Naomi (Margot Robbie), nos mais ricos e luxuriosos - aos exageros e absurdos que ocorrem dentro sua firma, sejam estas nas festas ou no próprio dia-a-dia.
Esses momentos de "êxtase total" na empresa são os momentos mais controversos da produção. Regradas a álcool, drogas e muito dinheiro, os exageros tomados por Belfort e seus empregados tem sido bastante criticados por algumas pessoas por, teoricamente, "glamorizar" a conduta desses personagens e tornar estes ideais a serem seguidos. O objetivo de Scorsese, entretanto, é outro, e eis que sua genialidade entra em cena: Ao invés de condenar claramente as atitudes tomadas por esse grupo, o diretor prefere testemunhar suas ações ao máximo, subindo uma trilha sonora agitada e ressaltando as cores do ambiente, para evidenciar a loucura ali apresentada. E não demora muito para o público começar a rir daquelas situações, que chegam muitas vezes no nível do ridículo. Quando uma secretária se sujeita a perder todo o cabelo em troca de alguns milhares de dólares, por exemplo, a câmera foca não no show que se desenrola depois do escapelamento, mas sim na própria, que sai humilhada e despercebida do recinto - claro, com o dinheiro na mão.
A personalidade de Belfort é a que mais se encaixa nessa tendência. Inicialmente um jovem esforçado e sedento por dinheiro e sucesso (visando, claro, melhorar sua condição financeira), Jordan rapidamente se corrompe ao adentrar nesse mundo de loucura e pura especulação, tornando-se um viciado em diversas drogas e constantemente alcoolizado. E quanto mais riquezas e vitórias ele acumula, mais vazio e patético se torna, chegando a momentos de pura auto-humilhação.
Essa mudança que ocorre no interior do corretor - interpretado magnificamente por DiCaprio - é clara quando observamos sua relação com as duas mulheres de sua vida, ambas muito bem trabalhadas por Milioti e Robbie. Quando Jordan é casado com Teresa, em sua fase de crescimento financeiro, vemos ali um amor afetivo e honesto, apesar das constantes traições carnais dele; Por outro lado, o amor de Belfort por Naomi é puramente sexual - viciante como uma droga, segundo o próprio -, e suas "puladas de cerca" acabam por se nivelar com o relacionamento do protagonista em termos de prazer e importância, mesmo que este insista em os diferenciar.
E Jordan não é o único a enlouquecer por completo nesse mundo, pois todos que o acompanham se sujeitam ao mesmo processo depreciativo. Principalmente Donnie (Jonah Hill), seu fiel escudeiro que, já transtornado, enlouquece por completo com as várias possibilidades e poderes oferecidos pelo dinheiro. A sua discussão com Brad no estacionamento é o maior exemplo disso, pois Donnie prefere humilhar o cúmplice por não ter entendido sua brincadeira - tarefa esta fácil para Hill, que vem das comédias adultas para dar um show de atuação.
Tudo isso é culpa, claro, do dinheiro, o maior de todos os vícios segundo Jordan. Capaz de enlouquecer homens, as "verdinhas" são constantemente o motor da trama, guiando Belfort e seus camaradas pelos mais diversos caminhos da falta de razão e pagando todas as suas aventuras. E como estes não possuem a maturidade para pararem, não demora muito para o dinheiro começar a traí-los.
Mas, ao contrário dos gangsteres de Os Bons Companheiros ou Os Infiltrados, não há um final de derrota para os homens do colarinho branco. Eles são muito poderosos para isso, e não coisa material que o dinheiro não possa comprar. Por isso, não é estranha a cena em que o agente Denham (Kyle Chandler, bastante competente), voltando para casa, contempla o vagão do metrô onde está com um certo ar de abatimento, pois seus inimigos, apesar de derrotados, sobreviveram e desfrutam dos mais belos prazeres da vida, porém não com a mesma intensidade prévia.
Com personagens desmedidos de bom-senso e uma direcionamento bem feito, O Lobo de Wall Street é interessante retrato da loucura e ambição, testemunhando sem julgamentos o destino de uma pessoa vazia que, com a ajuda de um bem material, vive de excessos e luxúria. O verdadeiro amor de Belfort é, afinal, pelo dinheiro, e nada o faz parar para ficar com ele.
Nota: 10/10
A personalidade de Belfort é a que mais se encaixa nessa tendência. Inicialmente um jovem esforçado e sedento por dinheiro e sucesso (visando, claro, melhorar sua condição financeira), Jordan rapidamente se corrompe ao adentrar nesse mundo de loucura e pura especulação, tornando-se um viciado em diversas drogas e constantemente alcoolizado. E quanto mais riquezas e vitórias ele acumula, mais vazio e patético se torna, chegando a momentos de pura auto-humilhação.
Essa mudança que ocorre no interior do corretor - interpretado magnificamente por DiCaprio - é clara quando observamos sua relação com as duas mulheres de sua vida, ambas muito bem trabalhadas por Milioti e Robbie. Quando Jordan é casado com Teresa, em sua fase de crescimento financeiro, vemos ali um amor afetivo e honesto, apesar das constantes traições carnais dele; Por outro lado, o amor de Belfort por Naomi é puramente sexual - viciante como uma droga, segundo o próprio -, e suas "puladas de cerca" acabam por se nivelar com o relacionamento do protagonista em termos de prazer e importância, mesmo que este insista em os diferenciar.
E Jordan não é o único a enlouquecer por completo nesse mundo, pois todos que o acompanham se sujeitam ao mesmo processo depreciativo. Principalmente Donnie (Jonah Hill), seu fiel escudeiro que, já transtornado, enlouquece por completo com as várias possibilidades e poderes oferecidos pelo dinheiro. A sua discussão com Brad no estacionamento é o maior exemplo disso, pois Donnie prefere humilhar o cúmplice por não ter entendido sua brincadeira - tarefa esta fácil para Hill, que vem das comédias adultas para dar um show de atuação.
Tudo isso é culpa, claro, do dinheiro, o maior de todos os vícios segundo Jordan. Capaz de enlouquecer homens, as "verdinhas" são constantemente o motor da trama, guiando Belfort e seus camaradas pelos mais diversos caminhos da falta de razão e pagando todas as suas aventuras. E como estes não possuem a maturidade para pararem, não demora muito para o dinheiro começar a traí-los.
Mas, ao contrário dos gangsteres de Os Bons Companheiros ou Os Infiltrados, não há um final de derrota para os homens do colarinho branco. Eles são muito poderosos para isso, e não coisa material que o dinheiro não possa comprar. Por isso, não é estranha a cena em que o agente Denham (Kyle Chandler, bastante competente), voltando para casa, contempla o vagão do metrô onde está com um certo ar de abatimento, pois seus inimigos, apesar de derrotados, sobreviveram e desfrutam dos mais belos prazeres da vida, porém não com a mesma intensidade prévia.
Com personagens desmedidos de bom-senso e uma direcionamento bem feito, O Lobo de Wall Street é interessante retrato da loucura e ambição, testemunhando sem julgamentos o destino de uma pessoa vazia que, com a ajuda de um bem material, vive de excessos e luxúria. O verdadeiro amor de Belfort é, afinal, pelo dinheiro, e nada o faz parar para ficar com ele.
Nota: 10/10
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